Sinais que mostram que estás a amadurecer
Imagem principal, still de "Gummo", de Harmony Korine

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Sociedade

Sinais que mostram que estás a amadurecer

Amadurecer é aprender a viver bem, é errar mil vezes, perder o medo e aprender.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Algo estranho se passa contigo? Sentes-te…diferente? De repente interessa-te mais o último filme indie japonês do que o último single da Rihanna? Antes, a tua conselheira sentimental era a Bravo e agora é a tua avó? Não te preocupes, não é contagioso. Pode ser que estejas a amadurecer, ou então és só mesmo uma seca.

A tua família (outrora um foco de angústia, tensão e perguntas incómodas) torna-se, de repente, um grupo de amigos que adoras e com os quais é divertido conversar e beber umas cervejas. Às vezes dá-te para espreitares os vinis do teu pai e os livros da tua mãe - e essas fotografias onde aparecem ainda solteiros, com cabelos à Beatles e calças de cintura subida à boca de sino. Nessa altura percebes que tens mais em comum com eles do que pensavas.

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Um dia, o teu namorado de sempre - aquele ser que nunca teve nada a ver contigo e que até hoje não sabes muito bem porque é que estavam juntos - deixa-te por causa das vossas diferenças inconciliáveis (ou seja, outra pessoa). Em vez de chorares como uma desalmada enquanto te empanturras de Filipinos, procuras no Google uma mudança de look que tu mesma farás em casa (sim, porque até pode ser que tenhas amadurecido, mas continuas a ganhar o salário mínimo).

Tens esperança de ressuscitar a tua auto-estima e, desta vez, sentes simplesmente um grande alívio e sabes que o que ele (o tal amor da tua vida) fez foi o melhor que te aconteceu em cinco anos. Ele até podia ser alto, giro, cozinhar bem… ser tipo, perfeito, mas não era perfeito para ti. Depois de algumas relações frustradas, a ideia que tinhas do amor mudou radicalmente. Com o tempo começas a conhecer o cinismo e a descartar a ideia de encontrares a tua alma gémea - uma ideia que por esta altura parece bastante ridícula. Aquele medo de morrer sozinha, sem marido ou mulher, já não parece tão triste quando percebes que a maioria das pessoas à tua volta não se suporta depois de oito anos juntos.

De repente, o teu ideal de vida é ter muitos amigos, alguém com quem fazer o amor de vez em quando - o sexo continua a ser imprescindível por muito que amadureças - e cuidar dos teus bichinhos de estimação (que ainda não tens, mas muito em breve terás).

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Tens mais iogurtes com bífidos activos no frigorífico do que cervejas. Passaste da pizza pré-congelada ao peixe grelhado com legumes. As cervejas de 20 cêntimos são agora copos de vinho (do bom) e a obsessão pelas sandes de atum e maionese converteram-se em pensamentos vegetarianos que inundam a tua mente.

Depois de teres trabalhado sete verões no bar do primo do teu pai, ou como estagiário a ganhar 100 euros por mês e chegares ao ponto de mendigar trabalho gratuito apenas para "fazer currículo", os teus sonhos profissionais pós-adolescente vão-se desmoronando. Agora já te conformas com um salário mínimo que dê para chegar ao fim do mês e, com sorte, comprar aquele vestido que andavas a namorar.

Mas não te iludas: conformares-te não é bom. Com sorte, um dia encontrarás o diário que escrevias na universidade - esse moleskine cheio de frases absurdas e sonhos desfeitos - e serás invadida por uma crise existencial que só solucionarás na casa dos 30.

A moda… A moda, quando amadureces, é-te indiferente, porque já não te importas com o que os outros pensam. (E, por acaso, é quando começas a vestir-te realmente bem).

Percebes que os verdadeiros amigos são aqueles que têm a coragem de dizer-te as verdades incómodas que toda a gente pensa, mas não diz. Sim: quanto mais te magoem, mais importante és para eles. Pronto. Nessa altura vais perceber que te sobram dedos para contá-los. E, obviamente, achas o Facebook um lugar horrível.

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De repente, preferes neurónios a abdominais.

Invejas a juventude. Provavelmente ainda não chegaste aos 25 anos, mas já invejas os adolescentes de 16. Não apenas porque têm menos 10 quilos que tu e mais anos de vida pela frente (os melhores), mas também pela sua inocência. Lembra-te que ainda lhes falta sofrer todas as angústias e desilusões pelas quais já passaste.

Tudo o resto - isso de ressacas de três dias, ir trabalhar de fato, correr todas as manhãs, os sumos detox e as rugas - não quer dizer que estás a amadurecer, mas a ficar velho, que não é a mesma coisa. Amadurecer é aprender a viver bem, é errar mil vezes, perder o medo e aprender. Para isso não importa a idade, mas sim as palermices que fizeste ao longo da vida.