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cinema

A bolsa de apostas dos Óscares de 2014

Resumindo e baralhando: é tudo uma treta.

Toda a gente sabe que os Óscares são apenas um conjunto de interesses económicos e políticos, compadrios e influências, mas no fundo no fundo, toda a gente gosta de os seguir. Afinal de contas, é o mais mediático dos circos da sétima arte e não há actor/realizador/produtor/whatever que não queira ter uma estatueta dourada em casa. Falta mais gente como o George Scott (quem?) ou o Marlon Brando, com tomates para não comparecerem à cerimónia e ainda mandarem em sua representação uma índia(!) para apimentarem um pouco a coisa. No entanto, como sei que a maioria de vocês vai estar agarrada aos comentários manhosos do Vítor Moura e do José Vieira Mendes na trasmissão em directo na TVI, agora no domingo, decidi dar-vos uma ajuda. Com esta bolsa de apostas, podem ir ao Bwin e ganhar uns trocos ao apostarem nos vencedores. E depois não digam que não têm amigos. MELHOR FILME Desde que a cerimónia de entrega dos Óscares começou a perder espectadores na televisão, a Academia tem procurado adoptar novas estratégias para captar novo público. E uma das decisões tomadas nos últimos anos foi o de alargar a lista de nomeados ao prémio de melhor filme, procurando que a maioria das pessoas se possa identificar ao menos com um dos títulos em causa. Nesta edição são nove os candidatos e, verdade seja dita, não há nenhum que sobressaia verdadeiramente dos restantes. Se calhar, mais vale fazer o exercício ao contrário e começar por excluir aqueles que não ganharão de certeza: Philomena é o típico melodrama verídico que estará condenado aos sábados à tarde da RTP daqui a uns anos, assim como Captain Phillips; Her é o simpático filme indie que normalmente marca presença nos nomeados para captar o interesse dos hipsters; e Nebraska, apesar de ser um bom trabalho, não tem os galardões necessários para sacar o prémio. The Wolf of Wall Street podia ser um candidato interessante, mas se olharmos bem para ele (e se retirarmos todo o deboche de sexo e drogas), chegamos à conclusão que é um filme com pouco para dizer. Dallas Buyers Club, apesar de bem colocado (graças a uma boa campanha de marketing), é um pastelão extremamente fraquinho e American Hustle, apesar de ser um dos favoritos, é o chamado muita parra e pouca uva: um poser exibicionista, mas com pouco cinema dentro. Sobram então Gravity e 12 Years a Slave: o primeiro é um uau visual, num arriscado filme no espaço; isso são as suas forças e simultaneamente as suas fraquezas, visto que a Academia não costuma distinguir filmes de ficção-científica. Por seu lado, 12 Years a Slave tem Óscar escrito em todo o lado, a típica história nobre a apelar aos valores humanistas, que apesar de não chegar aos calcanhares dos outros filmes de Steve McQueen, não tem nada de realmente mau para se lhe apontar. A vossa aposta deve ser: apesar de querer que ganhe Gravity, a aposta em 12 Years a Slave é a que vos deve render uns euros extra. MELHOR ACTOR Podem continuar a fazer os memes do Leonardo DiCaprio porque ainda não vai ser este ano que ele vai ganhar um Óscar. O mesmo com Christian Bale que, apesar de ter uma barriga de cerveja maior do que a minha no seu papel em American Hustle, perde em favoritismo para a transformação de Matthew McConaughey, no papel do seropositivo de Dallas Buyers Club. A Academia adora transformações e, além disso, McConaughey teve ainda uma passagem memorável pelo The Wolf of Wall Street, que pode funcionar como crédito extra. Quem diria que aquele tipo sulista que parecia condenado a comédias românticas e a uma carreira a prazo, tipo Brendan Fraser (quem? exacto!), iria tornar-se num actor a sério, depois de ter sido sodomizado à bruta em The Paperboy. Quanto a Chiwetel Ejiofor está entre os nomeados apenas para cumprir a quota de actores negros. O único que poderá ter algo a dizer nesta corrida é mesmo Bruce Dern, que não só leva Nebraska às costas, como é ainda o mais velho dos candidatos. A vossa aposta deve serApesar de tudo, Matthew McConaughey parece ser a aposta mais segura. MELHOR ACTRIZ Há uma lei qualquer na Academia que obriga a que a Meryl Streep seja sempre nomeada, desde que entre num filme nesse ano. Só isso pode explicar a sua presença este ano nos candidatos, com a sua 18.ª (!) nomeação. Judi Dench tem sempre ar de avozinha querida, mas não terá hipóteses este ano, assim como Amy Adams. O Óscar parece estar destinado a Cate Blanchett, que tem coleccionado prémios pela sua interpretação em Blue Jasmine, e a única que lhe poderá fazer sombra é Sandra Bullock, a viver uma segunda vida no cinema desde que despiu o rótulo de namoradinha da América em The Blind Side, com o seu solo em Gravity. A vossa aposta de serCate Blanchett, claro MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO Toda a gente parece tomar por garantida a vitória de Jared Leto, na pele de um transexual seropositivo em Dallas Buyers Club — já vos dissemos que a Academia adora transformações? Por um lado, nós queremos que isso aconteça, com fé que ele passe a dedicar-se em exclusivo à representação e deixe de cantar nos 30 Seconds to Mars (sim, por favor!). No entanto, apostamos o dedo mindinho em Michael Fassbender, pelo 12 Years a Slave. Bradley Cooper também não é uma aposta de se desdenhar, enquanto que Barkhan Abdi não tem hipóteses nenhumas. No entanto, muito ríamos nós se Jonah Hill levasse a estatueta para casa. A vossa aposta deve ser:Todas as previsões indicam o Jared Leto mas o Fassbender esteve melhor. MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA Esta será a categoria mais renhida de todas e a corrida será feita a dois: de um lado Lupita Nyong'o, humilhada de todas as formas e feitios em 12 Years a Slave; do outro, Jennifer Lawrence, com a sua sulista de American Hustle. Apesar da boa prestação da primeira, Jennifer Lawrence joga já na Liga dos Campeões, enquanto que Lupita ainda está na Liga Europa, a lutar para se apurar na fase de grupos. Mesmo assim gosto da Jennifer à brava. Se ganhar, leva um Óscar pelo segundo ano consecutivo, com apenas 24 anos. As restantes nomeadas, Sally Hawkins, June Squibb e Julia Roberts irão apenas assistir à vencedora da primeira fila. A vossa aposta deve ser:Jennifer Lawrence! MELHOR ANIMAÇÃO Com o sucesso que Frozen teve em todo o Mundo (e particularmente nos Estados Unidos — onde daqui a nove meses deve haver um boom de bebés baptizados com o nome de Elsa), o Óscar parece estar mais do que garantido. Apesar da magia Disney, preferíamos ver o galardão ser entregue à magia Miyazaki, por The Wind RisesA vossa aposta deve ser: Frozen, que remédio. MELHOR REALIZADOR Martin Scorsese já não pertence à lista dos eternos injustiçados da Academia, mas não deve aumentar a sua colecção de estatuetas douradas este ano. A corrida vai ser feita a três, entre o novo clássico David O. Russell (flop), o mexicano Alfonso Cuáron e Steve McQueen, que parece ter apostado tudo em 12 Years a Slave para levar um Óscar para casa — já que é filme que pouco tem a ver com o formalismo ritualista dos seus trabalhos anteriores. Alexander Payne fica de fora desta luta. Tal como no ano passado, esta edição também não deve consagrar o mesmo trabalho com o Óscar de melhor filme e melhor realizador. Aqui o vencedor será, provavelmente, Alfonso Cuáron, com o seu tour de force Gravity. E será merecido. A vossa aposta deve ser:Tudo menos o David O. Russell, por favor. MELHOR CANÇÃO A melhor canção de todas as nomeadas é a de Karen O, para o filme do seu namorado, Her, mas será também aquela que, de certezinha absoluta, não será sequer considerada para ganhar. A decisão irá balançar entre o bocejo dos U2 para o filme sobre o Nelson Mandela, aproveitando o crédito ganho com a morte de Madiba, e o tema de Frozen (se bem que nem sequer era a melhor canção do filme da Disney). Mesmo assim, deverá ser suficiente para vencer.

A vossa aposta deve ser“Let It Go” Resumindo e baralhando: os Óscares são uma treta, mas se pudermos sacar umas massas valentes, até somos capazes de mudar de opinião. Agradeçam depois.