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A Horta do Monte foi com as couves

Saldo: dois detidos, três feridos e menos sombra na Graça.

Foi hoje destruída a Horta do Monte, um projecto colectivo de permacultura urbana na Senhora do Monte, na freguesia lisboeta da Graça. Por volta das seis da manhã, sob a vigilância de agentes da PSP, o espaço foi vedado com grades da câmara municipal e destruído pelas retroescavadoras. Dois dos membros da horta acabaram detidos, houve alguns feridos e já há, claro, acusações de agressões de parte a parte. Mesmo no coração da cidade, rodeada de betão, mensagens críticas e vizinhos que se dividiam entre o entusiasmo e a desconfiança, a Horta do Monte foi, desde 2006, um espaço de cultivo orgânico, aberto a todos aqueles que quisessem participar, visitas de escolas e aulas de yoga. Segundo a Inês Clementis, coordenadora da horta, tratava-se de um projecto particular que vinha sendo um espaço em “regime voluntariado que englobava cerca de 70 pessoas, 20 delas regulares”. Baseada na sustentabilidade e na reutilização de recursos, esta era uma horta que, ao contrário do que fontes camarárias revelam, estava activa e a ser trabalhada pela comunidade — estavam até a ser criados sistemas de retenção de água da chuva. Embora não se tratasse de uma horta comum, tinha objectivos bem definidos que estavam “para lá da produção”, nomeadamente a prática do cultivo em ambientes urbanos (muitas vezes ignorada pelas câmaras do país) e da sua disseminação, num ambiente que privilegiava o “auto-conhecimento e a inter-relação dos participantes”. Nos últimos dois anos o departamento da câmara tinha auxiliado a horta com o abastecimento dos depósitos, uma vez por semana, para fazerem face às dificuldades do Verão, mas há cerca de três meses esse apoio foi cortado, segundo Inês Clementis, “precisamente por causa das obras que a câmara quer fazer”. Sobre a acção camarária de hoje, garante não ter havido qualquer aviso formal prévio. “Houve apenas uma reunião do processo de requalificação, onde nos foi dito que havia uma proposta que não estava para discussão e, mais tarde, um email onde marcaram uma reunião de um dia para o outro” e à qual nenhum dos membros conseguiu comparecer. Em função dessa ausência, foi dada ordem para a limpeza do terreno. Devemos ter em conta que estamos em campanha eleitoral, aquela altura em que as coisas começam a ficar realmente loucas e em que toda a argumentação que atrase as inaugurações se torna desnecessária. No caso desta horta, como em tantos outros, o debate público configura-se como um atraso nos “projectos camarários” — nem o facto de, neste caso particular, a horta figurar num programa de parcerias locais da câmara de Lisboa serviu para negociar a sua não destruição. Há uns dias, o vereador do Ambiente Urbano, Espaços Verdes e Espaços Públicos, José Sá Fernandes, destacou o trabalho feito nas hortas e confessou querer continuar como vereador para “ver crescer as árvores” — quantas árvores mais é que este vereador quer ver crescer? Fotografia por Nuno Barroso