FYI.

This story is over 5 years old.

Música

A vitória contra o capitalismo é dos Nü Sensae

O punk como estilo de vida.

Estive à conversa com os Nü Sensae. Bem, na verdade não estive: escrevinhei meia dúzia de perguntas, enviei isto por mail e aguardei que eles tivessem a paciência necessária para me dar atenção. Adoro o mundo moderno. O trio ( ) por cento punk — inserir, entre parêntesis, a percentagem que se achar mais adequada, conforme a percepção pessoal daquilo que é trve e do que não é — passa por cá no final do mês para tocar no Trips à Moda do Porto e na Zé dos Bois, esperando-se o caos e a anarquia e a vitória final contra o opressor capitalista. Mas talvez nos contentemos com um concerto rock do caralhão. VICE: Preferiam matar o último panda, ou o último punk?
Daniel: O último punk, porque mais cedo ou mais tarde surgiria outro. Fiz download do Sundowning (perdoem-me, afinal de contas sou de Poortugal) e o ficheiro totaliza 66,6MB. Isto é um aviso para não me meter convosco ou Satanás virá levar-me a alma?
Isso é fantástico.
Brody: Espera até o tocares ao contrário. Ainda vos dão muito na cabeça por terem uma mulher a liderar uma banda punk ou as audiências já, e felizmente, passaram por cima disso? Acham que as pessoas ainda olham erroneamente para o corpo da Andrea ao invés da sua habilidade?
Daniel: Nunca nos chateiam muito por ela ser uma rapariga. Nem sei se alguma vez o fizeram. Acho que as pessoas já o ultrapassaram ou nunca o vêm dizer directamente. Chatearam-nos mais ao início, quando não tínhamos um guitarrista na banda. As pessoas riam-se na nossa cara.
Andrea: Creio que se as pessoas ficam a pensar demasiado nesse assunto, então a nossa banda não é para eles. É tão fácil ver para além desse ínfimo detalhe; se não o conseguem fazer deviam ir ler uma revista qualquer. Lançaram o Sundowning em 2012 e foram aclamados pela crítica e pelo público. Querem descrever o que vos passava pela cabeça enquanto gravavam?
Daniel: Tinha saído de uma relação.
Brody: “Por que é que o meu cabelo está a ficar branco?”
Andrea: O Daniel estava muitas vezes fora, os meus dois bons amigos tinham-se mudado, o Brody estava na Europa, e eu gostava de alguém que estava bastante longe e sentia-me sozinha. Como é que acabaram na Suicide Squeeze?
Daniel: O David Dickenson (que é o tipo que gere a editora) enviou-nos uma mensagem assim do nada, quando eu e a Andrea estávamos na nossa última tour enquanto banda de apenas dois elementos, há algum tempo. Disse-nos apenas que adorava o que estávamos a fazer e que queria assinar contrato connosco. Ficámos completamente lisonjeados — nenhuma editora nos havia oferecido algo assim antes. Até então tínhamos feito tudo entre nós. Como é que o Our Band Could Be Your Life moldou a vossa forma de pensar e a vossa ética DIY?
Nunca o li. Mas adoro a maioria das bandas presentes nesse livro.
Brody: Também nunca o li. Mas já li o Car, do Harry Crews, que me ensinou a fazer, simplesmente, as coisas — senão, que mais irás fazer?
Andrea: Também nunca o li. Tudo é inerentemente DIY quando queres começar algo, porque na maioria das vezes estás sem guito e ninguém quer saber daquilo que fazes. Porque acham que têm surgido tantas boas bandas dentro do noise/punk ou influenciadas pelo mesmo? Crise económica? Deserto moral? Puro e simples aborrecimento?
Acho que todas as três. Quando penso sobre o futuro há um sentimento de apocalipse, como uma maré de pavor. Mas já que sinto que posso nunca vir a ser dona de nada, ou ter um emprego fixe, e sentir-me segura em algum ponto da minha vida, estou a gostar da liberdade que tenho agora. Não tenho de dever nada a ninguém, não tenho de me casar, tudo o que tenho a fazer é tocar e tentar preservar o espírito daquilo que está a acontecer. Quem ganharia se vocês e os Metz andassem à porrada?
Daniel: Nós, de certeza. Mas não os quero magoar porque gosto deles.
Brody: O Pierce McGarry. Puseram “Nü” e não “New” porque tudo é melhor com tremas?
Andrea: Nah.
Daniel: Já nem me lembro porque é que metemos o trema. A Andrea e eu pensámos neste nome quando tínhamos 14 anos (o período em que queríamos, igualmente, deixar a escola e viver numa carrinha para o resto das nossas vidas), por isso acho que é seguro dizer que o nosso processo criativo da altura era bastante questionável. Podem contar-me mais acerca do AIDS Day Music Project?
Comecei o ADMP como uma forma de ter pessoas a informar e a previnir outras para o HIV e a SIDA. Sou sul-africano, e vivi lá a maior parte da minha vida. A SIDA é uma epidemia enorme lá. Já perdi amigos e família para a doença. E sou homosexual; a consciência para a SIDA e o activismo em relação a isso são naturalmente grandes constituintes da comunidade gay desde há muitos anos, logo tenho vários motivos para me juntar à causa. No último ano pensei, já que muitos amigos meus têm bandas fantásticas, por que não começar um fundo de caridade através da música e dessas mesmas bandas, ao qual as pessoas possam doar dinheiro e ganhar prémios? No ano passado, os prémios das rifas eram coisas como itens personalizados pela Grimes, pelo King Tuff, Dum Dum Girls, Mac DeMarco, White Lung, o Ron Reyes dos Black Flag, ou mesmo por nós, para enumerar alguns. Correu muito bem e espero fazê-lo a cada Dezembro (que é o mês da prevenção da SIDA) a partir de agora. E tenho mais surpresas planeadas para a angariação de fundos deste ano.