O Folclore Futurista das Termas Alemãs

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Viagem

O Folclore Futurista das Termas Alemãs

Existem cerca de 300 cidades termais na Alemanha, que atraem pessoas de todo o mundo, e também os seus animais de estimação.

Este artigo foi originalmente publicado por VICE Alemanha

Existem cerca de 300 cidades termais na Alemanha, cada uma com os seus ilustres centros de reabilitação e spa's, que atraem pessoas de todo o mundo, e também os seus animais de estimação. São ambientes frequentemente surrealistas, que misturam a tecnologia futurista com a arquitectura tradicional, oferecendo a quem por lá passa uma sensação de utopia. O fotógrafo Alexander Krack visitou cerca de 30 destes sítios, em busca do reino estético que está presente nas termas alemãs. Encontrei-me com ele para saber um pouco mais sobre as suas fotografias.

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Olá Alex. Qual foi a primeira coisa que te atraiu nestas estâncias termais?

Enquanto fazia pesquisa para outro projecto hospedei-me, por coincidência, num pequeno hotel que ficava dentro de uma destas cidades. Um dia, ao dar um passeio, deparei-me com uma pintura iluminada por um sol quase nocturno. Tirei-lhe uma fotografia, e senti imediatamente que muitas outras coisas me chamavam a atenção. Acho que gostei das associações que me surgiram em mente, embora não tivesse nenhuma ideia realmente clara.

Na tua opinião, o que é que atrai as pessoas a estas termas?

Na Alemanha, existem centenas de lugares como este, por isso, de certa maneira, forma parte do interesse geral. As pessoas visitam estes lugares por diferentes razões, mas sobretudo, pela questão da saúde. Várias estâncias termais contam com clínicas de reabilitação especializadas, e tratamentos específicos para tratar doenças crónicas, tais como a asma, ou o reumatismo. Os banhos termais são provavelmente a atracção principal. Muitas pessoas passam lá férias, e tentam combinar saúde com entretenimento. A fusão destes dois universos interessa-me muito.

Então a maioria de pessoas estão apenas de visita?

Existem muitos visitantes, mas há outras pessoas que crescem nestas cidades, e fazem vida nelas. Também conheci alguns idosos que, depois de reformar-se, decidiram mudar-se a estes espaços. Acho que a natureza destes lugares é bastante apelativa. Não estou a falar da natureza que encontramos nos jardins e nos parques, mas do sentimento geral de sentir-se cuidado por bons médicos e profissionais, aliado à diversão, direccionada sobretudo a um público mais velho.

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E os animais? Este, por exemplo.

Esta fotografia foi tirada num centro de reabilitação para animais chamado Vierbeiner Reha Zentrum, numa estância chamada Bad Wildungen. Os animais – sobretudo cães – vêm a este sítio sobretudo por causa de algum acidente que tiveram com um carro, ou algo parecido. Dentro de água existe uma passadeira rolante, o que faz que não forcem tanto as articulações. No entanto, os músculos são igualmente estimulados pela resistência da água.

Quantos tipos de tratamento diferentes conheceste?

Eu diria entre 30 e 40. Um dos mais extremos foi sem dúvida uma câmara gélida (-110 Cº), onde as pessoas entravam durante cerca de três minutos. Este tratamento é suposto ajudar-te com problemas como a artrite crónica, ou as dores provocadas por uma operação à coluna vertebral. Falei com algumas das pessoas que o fizeram, e por estranho que pareça, os resultados foram bastante positivos. Eu próprio decidi experimentar, e devo dizer que me senti bastante relaxado. Talvez seja uma questão de feeling, ou pensamento positivo.

O que é que fazem exactamente estas pessoas, viradas para a parede de uma gruta?

Estão sentadas num ádito. Dentro deste ádito existe um micro-clima que mantém uma temperatura constante de 8 Cº, durante todo o ano. Estão a quase 100% de humidade, e o ar que se respira prácticamente não contém partículas de pó, germes ou pólen. O que em princípio é espectacular para os teus pulmões.

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Se algumas destas fotografias não tivessem legendas, poderiam facilmente ser mal interpretadas. É algo intencional, ou é apenas fruto da natureza bizarra destes pequenos mundos?

É intencional, no sentido em que eu quis criar "imagens", mais do que documentar algum tratamento de forma objectiva ou científica. Voltamos ao que te disse no início. Para mim tem tudo a ver com o sentimento global que estes sítios te dão- ou pelo menos me dão a mim. No entanto, não quero deformar a realidade, e a verdade é que muitas das pessoas a quem mostro o meu trabalho entendem o que estão a ver. Talvez não seja imediato - sobretudo se é uma fotografia isolada -, mas quando lhes mostro uma série, é bastante mais fácil. Quero que encham o vazio com a sua imaginação e criem a sua própria narrativa.