A PM não deixou o ato "Fora, Temer" das mulheres negras andar em SP
A linha de frente do protesto e a Tropa de Choque. Foto: Felipe Larozza/ VICE

FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

A PM não deixou o ato "Fora, Temer" das mulheres negras andar em SP

Dois homens foram atropelados. A organização encerrou o protesto, mas os black blocs insistiram e tomaram as ruas, destruindo vidros de lojas de luxo.

Foi um grupo identificado como movimento de mulheres negras que encabeçou o quinto ato "Fora, Temer" da semana, que aconteceu no Largo da Batata, em São Paulo, na última sexta (2). Entretanto, as horas de concentração e negociação com a Polícia Militar (PM) fizeram com que a organização do protesto contra o presidente Michel Temer resolvesse encerrar o evento. Segundo a PM, sem a comunicação prévia do trajeto, as vias não seriam liberadas. Durante todo o tempo, a polícia cercou os manifestantes por todos os lados. Cerca de 20 black blocs (BBs) não se conformaram com a decisão policial e, mesmo assim, foram às ruas, onde fizeram barricadas de lixo, destruiram uma agência bancária, um ponto de ônibus e as vidraças de concessionárias de automóveis de luxo. Dois homens foram atropelados na Marginal Pinheiros. Um deles é cinegrafista.

Publicidade

Durante todo o tempo, a polícia cercou os manifestantes por todos os lados.

O número de presentes não foi divulgado pela PM, nem pela organização.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Antes de o ato acontecer, a reportagem da VICE presenciou uma roda de conversa informal entre policiais onde um deles afirmava que seria bom se a manifestação permanecesse no Largo, "sem atrapalhar ninguém".

"O objetivo do ato de hoje é demonstrar como o golpe é uma medida para avançar na retirada de direitos dos trabalhadores e da juventude", explicou Letícia Parks, estudante e professora que estava no evento, integrante do movimento jovem Faísca. "No nosso país, que tem um histórico de escravidão, o direito é sempre retirado primeiramente dos negros e das mulheres."

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Parks justificou o motivo pelo qual o trajeto não havia sido comunicado previamente à PM: "Nossa opinião é de que não temos de negociar com a polícia, porque o papel dela é garantir a nossa segurança, e não [definir] onde podemos ou não circular".

Antes de ocupar a pista, a organização recitava repetidamente: "Por menos que conte a história, não te esqueço meu povo. Se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo", trecho do poema Negro homem, negra poesia, do poeta baiano José Carlos Limeira.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Antes mesmo de a manifestação botar o pé na rua, a Tropa de Choque estava armada, impedindo sua saída. Nesse momento, começou a negociação das mulheres com os policiais. Parte de quem estava no ato, principalmente os black blocs, que faziam a linha de frente, reclamava, impondo que o protesto não deveria sucumbir à polícia e tomar as ruas mesmo assim.

Publicidade

Após mais de uma hora de conversa, as organizadoras decidiram encerrar o protesto. Uma pequena confusão se instaurou quando um homem passou a fazer observações e alguém gritou: "Cadê as minas falando?".

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Os BBs resolveram protestar e parte das pessoas foi junto. Nesse momento, o helicóptero da PM passou a perseguir o grupo que avançava. Barricadas de lixo foram feitas nas ruas até chegar na Avenida Rebouças, onde a PM arremessou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. De lá até a Marginal Pinheiros, os black blocs destruiram diversas fachadas de lojas de automóveis.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Segundo relatos, dois homens foram atropelados. Um dele seria cinegrafista freelancer. De acordo com a publicação de uma manifestante no Facebook, "um dos carros acelerou e pegou ele [o homem] em cheio. Ele voou e rodopiou no ar". A Secretaria Municipal de Saúde não soube informar quem são as vítimas.

Segundo relatos, dois homens foram atropelados.

Relatos no Facebook afirmam também que quatro pessoas foram detidas. Procurada pela VICE, mais uma vez a Polícia Militar não se pronunciou sobre o número de detidos e patrimônios depredados.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Parte da manifestação retornou para o Largo da Batata e foi revistada pela PM, que não encontrou nada ilegal com os jovens. Desacreditado, um policial abriu a mochila de um manifestante e se deparou com uma Bíblia.

Desacreditado, um policial abriu a mochila de um manifestante e se deparou com uma Bíblia.

No fim da noite, a organização foi criticada no evento do Facebook por ter encerrado o protesto. Algumas pessoas – que, aparentemente, não fazem ideia do que seja o movimento negro – se incomodaram, pedindo que não haja segregação de cor e gênero nos próximos atos.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

No domingo (4), mais uma manifestação acontece contra a presidência de Michel Temer. Dessa vez, será na Avenida Paulista, às 16h30.

Siga a VICE Brasil no_ Facebook, Twitter e _Instagram.