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A Bayer comprou a Monsanto e estas são as coisas com que temos de nos preocupar

A fusão está avaliada em 66 mil milhões de dólares e é a maior operação do género levada a cabo no Mundo este ano. O seu resultado significa que, a partir de agora, a Bayer controla um quarto de todos os pesticidas e de todas as sementes que se...
Imagem por Frank Naimuang/Pexels

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.

Uma empresa gigantesca acaba de absorver outra empresa gigantesca. Claro que, se não és nem investidor, nem agricultor, é provável que nem sequer te tenhas dado conta. A Bayer - a companhia da aspirina, que também produz produtos agrícolas, como pesticidas, por exemplo - anunciou recentemente que iria fundir-se com a Monsanto, a grande corporação que se dedica a produzir as controversas sementes geneticamente modificadas e que controla um terço do não menos gigantesco mercado de sementes nos Estados Unidos da América.

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A fusão está avaliada em 66 mil milhões de dólares e é a maior operação do género levada a cabo no Mundo este ano. O seu resultado significa que, a partir de agora, a Bayer controla um quarto de todos os pesticidas e de todas as sementes que se produzem no Planeta, segundo avançou a BBC.

Obviamente que há algo que, todavia, é ainda mais inquietante, já que esta foi mais uma na lista das inúmeras fusões de corporações agrícolas ocorridas em 2016. Isto, por sua vez, significa que as alternativas ao fornecimento dos agricultores estão a encolher de uma forma aparentemente imparável. O mercado de sementes, pesticidas e fertilizantes está cada vez mais afunilado.

Se toda esta situação te soa mais ou menos ameaçadora, mas não sabes bem porquê, anota: provavelmente, a partir de agora, há uma real possibilidade de que os novos gigantes aumentem a pressão sobre as produções agricolas e as pessoas que as gerem. Isto é o mesmo que dizer que há uma forte probabilidade de que aumentem os preços dos alimentos e até de que haja uma ameaça à segurança do que comemos.

"O mercado dos maiores fornecedores de pesticidas e sementes passou de ter seis players - ChemChina, Syngenta, DuPont, Bayer e Monsanto - para ficar reduzido a apenas três", explica John Colley, professor da Warwick Business School, no Reino Unido, e investigador especializado na problemática das grandes aquisições. "Há cada vez menos empresas a competirem entre si, o que resulta numa oportunidade única de subirem os preços".

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Colley salienta também que estas fusões são, em grande parte, resultado da quebra dos preços das colheitas. Cultivámos quantidades industriais de milho e de soja para satisfazer a procura e isso levou a que os preços baixassem. Por sua vez, essa quebra obrigou os agricultores a apertar o cinto e a gastar menos em produtos como os pesticidas e os fertilizantes.

A reacção em cadeia teve como causa directa uma maior dificuldade das corporações existentes em saldarem as suas dívidas até à data. E isto fez com que o desejo de se fundirem umas com as outras tenha disparado. A fusão permite às companhias ocuparem uma maior percentagem de mercado e até subir os preços para reduzirem a velocidade de venda, mesmo junto dos consumidores.

Quando uma parte tão substancial do mercado está nas mãos de um punhado de empresas há uma potencial exposição à instabilidade. Nalgumas áreas, de resto, um movimento deste género pode reduzir ainda mais o número de players - até mesmo reduzir o leque até só restar uma, ou duas. Se a empresa enfrentar uma greve, por exemplo, e sofrer um corte nos fornecimentos, isso poderia ameaçar a capacidade dos agricultores de acederem aos produtos de que necessitam.

"Às vezes os oligopólios, de uma forma ou outra, controlam a situação de uma maneira deliberada para tentarem melhorar os seus preços", conta Colley. E acrescenta: "Parece-me que este é um receio muito razoável".

As duas companhias que agora se fundiram têm um poder económico colossal e repartido por meia dúzia de entidades com agendas políticas e ideológicas bastante definidas. De tal forma que a "simples" fusão multiplica de imediato a sua capacidade de pressão empresarial e política. Porém, para Brooke Dobni, professor de estratégia empresarial e política da Universidade de Saskatchewan, nem tudo é tão tenebroso e perturbador.

Pelo menos, hoje em dia existem certos regulamentos governamentais destinados a impedirem os monopólios abusivos e que podem evitar que determinados negócios signifiquem uma ameaça para os mercados. É por isso que, neste momento, existem, tanto na Europa, como nos Estados Unidos, reguladores que observam à lupa o comportamento das duas partes envolvidas na fusão. O escrutínio é tal que, até que estes reguladores dêem o seu aval oficial, o acordo não pode ser oficializado.

Existe igualmente uma possibilidade de que a fusão conceda, até, alguma estabilidade à indústria e que permita que ambas as empresas possam reduzir custos. Mas que o façam não para aumentar preços, mas sim para aumentar as suas poupanças. Apesar de tudo, é ainda cedo para saber que rumo tomarão agora os dois gigantes. Dobni considera que os consumidores devem manter os olhos bem abertos.

"Estamos a atravessar um momento de transição na agricultura", diz ao telefone o economista". E conclui: "Atravessámos várias recessões a nível global, mas não acredito que a recuperação vá ocorrer tão em breve como muita gente pensa. Todos os que estão sentados nos grandes escritórios das juntas directivas e que tomam as decisões vêem e sabem disto. Portanto, estamos à beira de algumas transformações fundamentais".