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Brutalismo neo feminista: a revolução sexual do século XXI?

Mudar de paradigma é porreiro, se te der mais orgasmos.

Post-Porn. GangBang. Fisting. Gay. Creampie. DP. BDSM. Bukkake. Shemale. Anal. Gonzo. Lesbian. Amateur. Bissexual. Estes são alguns dos termos mais familiares no ouvido do vulgar consumidor de pornografia — nomeadamente tu, os teus pais e a tua prima. Quem os pratica é uma nova vaga de trabalhadores sexuais que não hesitam em tornarem-se numa espécie de gladiadores em nome do que o mercado exige. E todos sabemos que o mercado é um cabrãozinho mesmo exigente, do género daquele pai austero que leva os filhos ao suicídio. Numa tentativa de virar o feitiço contra o feiticeiro, têm surgido algumas mulheres — vistas pela sociedade como as principais vítimas da indústria — que dizem estar cientes da sua sexualidade, das suas vidas e do papel da pornografia nas mesmas: são as defensoras do brutalismo neo feminista. Apesar de não haver um movimento oficial com este nome, existe já uma variedade de pessoas que advoga a prática de sexo hardcore como forma de libertação. Uma das camaradas que defendeu esta ideologia nos tempos de actriz pornográfica foi a Sasha Grey, universalmente adorada pela execução de acrobacias visualmente apelativas, pelo swagger e devido ao facto de, desde o início da carreira, ter atribuído às suas performances uma aura existencialista, bem mais rentável do que escrever um manifesto. Tratava-se, portanto, de uma fusão entre a Simone de Beauvoir (com a ressalva das saias ao xadrez serem substancialmente mais curtas) e a artista performativa Marina Abramović (com a ressalva de não ter pinta de pertencer a uma rede de tráfico humano, muito idiossincrático do pessoal da ex-Jugoslávia). Ao longo da história da pornografia (podem propor a disciplina ao ministério da educação), a mulher-tipo da indústria mainstream era percepcionada como uma ingénua vinda de uma família mórmon, abusada sexualmente ao longo da infância pelo tio pastor da igreja, que, ao chegar à cidade para tentar tornar-se na Nicole Kidman, acabava creditada como Nikki Dickman num filme gonzo realizado por um pornógrafo de rating duvidoso, em que todos os seus orifícios eram preenchidos num motel mais chunga que todos os videoclips do Alice Cooper juntos. A palavra-chave na atitude da mulher era a submissão, coisa que as actrizes da nova vaga procuram reverter. Para tal, assumem o papel de quem adora o que lhes estão a fazer — quanto mais fisicamente dolorosa parecer a cena, mais elas berram e se insurgem aos  co-protagonistas, de forma a tentarem mostrar ter controlo sobre a situação —, o que leva a quebrar um dos paradigmas da pornografia. Se fosse transposta para um diálogo, um dos visados diria algo como “eu estou-te a foder” e o outro “não, não, desculpa, eu é que te estou a foder”, e o outro “na… não estás a perceber, EU é que te estou a foder”, uma situação toda ela semelhante à hora de pagar a conta do almoço com alguém com quem fazemos cerimónia. A pornografia é um meio conservador. Há que ter em conta que a maioria dos seus consumidores paga a visualização de forma indirecta — através daqueles pop-ups publicitários geradores de tiques nervosos vários — logo, as receitas directas mais substanciais são provenientes dos distribuidores privados de televisão e vídeo que colocam os seus produtos em cadeias hoteleiras, onde os principais clientes são, por norma, magnatas do petróleo, especuladores da bolsa, frequentadores de congressos e políticos neo-liberais da Opus Dei, em suma, todos os Mitt Romneys que andam por esse mundo fora. Como a visão desta fauna é muito abrangente no que toca a questões da vida — tais como, quem somos? E que raios andamos por cá a fazer? — não é de admirar que tenham pré-concepções muito específicas sobre aquilo que é esperado quer do elemento passivo, quer do activo nas relações sexuais. E como esta é a verdadeira clientela que o pornógrafo pretende cativar e fidelizar (mesmo que inconscientemente), existem códigos concretos que são inerentes a todos os filmes, desde o softcore que passa na televisão por cabo, em que o enredo mais popular envolve um picheleiro capaz de preencher os diversos buracos de uma MILF que dispõe de um par de airbags desafiadores das leis da gravidade, até aos hardcore com pretensões vanguardistas — a preto e branco com BDSM e actores transsexuais a comer cocó. Usar metáforas é sempre porreiro para construir raciocínios, por isso vou sacar de uma inspirada em duas vizinhas minhas. Uma delas tem a aparência de uma neo gótica muito a par do hype, e a outra, da típica dona de casa desesperada. Em comum têm os canteiros com florzinhas a adornar as janelas, o que é um forte indicador de um grau de burguesice siamês, apesar das orquídeas pretas sofisticadas da neo gótica pretenderem funcionar como um alibi. Em ambos os casos, quer nos géneros pornográficos, quer nas florzinhas, o que fica em evidência é que o estilo até pode mudar (margaridas vs. orquídeas negras, loira boazona a comer um trolha vs. gorda peluda a comer 20 trolhas) mas, no final, a intenção é a mesma. Na tentativa de fazer com o paradigma o mesmo que o Michael Myers fez à família inteira e numa linha ligeiramente distinta da “20 pilas por dia, não sabes o bem que te fazia” estão as Suecas ROKS (nota: não confundir com Rocks, a falecida discoteca do norte, detentora do record de maior número de gandins pastilhados por metro quadrado). Esta “associação de defesa dos direitos das mulheres” tem, hoje em dia, um forte lobby no parlamento sueco, o que não é grande notícia para os gajos de lá, visto que elas defendem que todos os seres do sexo masculino são dildos ambulantes, responsáveis pela construção de uma sociedade patriarcal conservadora e que todos, sem excepção, estão programados para abusar das mulheres, quer física, quer psicologicamente (não admira que o Assange esteja mortinho por se submeter ao sistema judicial desta terra). Elas são neo feministas, mas o brutalismo delas não é tão simpático para o género masculino como o da pornografia, visto que, depois de ver alguns documentários sobre esta associação, fui irradiada com a sensação de que estas castiças gostariam de fazer aos homens aquilo que o Hitler fez aos judeus. Se, por um lado, algumas feministas defendem a promiscuidade extrema, outras defendem a recusa de envolvimento sexual com o sexo oposto como forma de emancipação. Uma coisa podemos inferir: anda aí muita pussy revoltada e, para aqueles que se estão nas tintas para isso, sugiro que vejam os filmes Cisne Negro e A Pianista, para ficarem com uma leve sugestão do que uma garina sexualmente frustrada é capaz. Ah, e não se esqueçam que, como o paradigma está a mudar, também o masoquismo rapidamente se converte em sadismo. Não apanhaste o trocadilho? Eu simplifico: Trata bem as miúdas pá, a menos que o teu sonho seja sentir a mesma adrenalina que a Jamie Lee Curtis no Halloween. Fotografia por Patrícia Bandeira