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Entretenimento

China: no interior de um centro de reabilitação para viciados na internet

Uma triste realidade para muitos adolescentes chineses.

O conceito de viciado na Internet, para o bem ou para o mal, começou como uma piada, proferida por um psicólogo americano em 1995. Mas é uma triste realidade para muitos adolescentes chineses que, em alguns casos, perderam a vida, outros chegaram mesmo a cortar as mãos, e continuam a ser alvo de humilhações físicas devido à dependência da internet, um comportamento que a China classificou como doença em 2008. Desde então, o país tem vindo a criar esforços para curar os viciados na Internet. E agora, Web Junkie, um documentário exactamente sobre isso, passa em tempo de antena na televisão pública dos EUA. Web Junkie segue o processo de reabilitação de vários adolescentes viciados na Internet que são enviados para campos de reabilitação no sul de Beijing - alguns adolescentes dizem ser drogados pelos pais, outros são enganados, pensando que vão para um local com acesso à internet. Mas o ponto em comum entre todos é a inquietante alienação à realidade, que os afasta da família e dos amigos do mundo real. Este foi o único lugar que aceitou o pedido da Shosh Shlam, uma realizadora israelita, para filmar no interior das instalações. A equipa de rodagem conseguiu entrar no centro de tratamento, dirigido por Tao Ran, um ex-psiquiatra do exército de Beijing, durante quatro meses - o tempo mínimo que o centro estabelece para um paciente estar "curado". "Por considerar o vício na Internet como uma dependência ou fenómeno social, a China é o espelho do resto do mundo", disse-me Shlam. "O fenómeno existe em toda a parte". Quando teve a ideia de documentar este fenómeno social, a realizadora pretendia visitar um lugar onde este fenómeno estivesse bastante incrementado, isto é, na China, onde existem mais de 400 centros de reabilitação. A ideia de um centro de reabilitação na China não é novidade, mas o Web Junkie foi o primeiro documentário a contar a história a partir de dentro. O filme mostra os pacientes sujeitos a determinados exercícios, alguns físicos e outros psicológicos, para conduzi-los à raiz dos seus problemas. Isto é tal e qual a imagem de um quartel militar. Os pacientes vestem roupas militares e têm que fazer exercícios, o que não é assim tão diferente de um treino militar, que a maior parte dos estudantes do secundário ou universitários têm que ultrapassar. Também existem no filme alguns momentos de tensão. A equipa de rodagem conseguiu captar uma sessão de terapia familiar, na qual um pai rompeu em lágrimas a dado momento, e o seu filho teve que explicar a razão pela qual continuava a refugiar-se no mundo digital. Os chineses, explicou-me Shlam, são particularmente reservados no que toca aos seus próprios sentimentos. Isto é devido, em parte, à política do filho único implementado pelo governo chinês, que fez com que uma geração inteira de cidadãos chineses crescessem sem irmãos, aliado à cultura repressiva da obsessão com a carreira profissional, do estilo fazer-ou-morrer durante o percurso académico. Isto criou também um abismo entre filhos e pais, cuja falta de compromisso e desinteresse foram identificados como grande parte dos seus problemas. E o mais estranho foi ver um terapeuta a ter que pedir a um filho para dizer "Gosto de ti" ao seu pai.

A China tornou-se no primeiro país a reconhecer o vício na Internet como uma doença mental - nenhum país ainda se atreveu a isso, embora o Japão já tenha criado os seus próprios centros. Apesar de só em 2013 ter entrado para a lista do Manual de Doenças Mentais, da American Psychologist Association, era considerado como "uma condição que requer uma investigação e aproximação mais clínica". Algo bastante superficial, visto que afecta cerca de 6% da população mundial. Em 1995, o psicólogo nova-iorquino, Ivan Goldberg, classificou a Internet de uma forma caricata, que acabou por ser bastante acertada para alguém que apenas observava os primeiros passos da internet. "O nome 'Viciado em Internet' faz lembrar a dependência da droga, como a heroína, uma substância realmente aditiva… Tratar um comportamento como se fosse uma categoria de psiquiatria é ridículo", disse o Dr. Goldberg num artigo da New Yorker. Bem, seria um pouco poético, ou talvez horrível, ouvir esse nome, repetido vezes sem conta, 16 mais tarde. Este artigo foi inicialmente publicado em Motherboard.