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Como lidar com lambe-cus

De certeza que, ao longo da tua vida, já te cruzaste com gajos destes.

Coragem que anda aí muito canídeo. De certeza que, ao longo da tua vida, já te cruzaste com gajos destes. Eles estão por todo lado: no infantário, no liceu, na faculdade e no trabalho. Acompanham-te pela vida como as cólicas, as hemorróidas e a azia. Para evitar que aches que se calhar o filme é da tua cabeça, nos parágrafos que se seguem vamos revisitar os vários estágios da tua vida para que possas dizer: “Ei foda-se, isto era o Hugo da EB23!” Pré-Escola
Estes gajos começam cedo — ainda têm dentes de leite e já te estão a estorvar a vida. Quando o sino tocava, eram os primeiros a arrumar os brinquedos enquanto tu querias brincar mais cinco minutos. Acabavam de desenhar póneis sempre primeiro do que tu e iam-se chibar à professo­ra naqueles dias em que estavas a curtir com uma amiga na casa de banho (apesar de não saberes o que estavas a fazer, já sabias que era bom à brava). Ensino Básico / Liceu
Aqui provavelmente já têm os dentes todos — a menos que tenham aderido à moda do passion gap —, e é por esta altura que começam a canalizar as insegu­ranças e a inveja para uma atitude passivo-agressiva. O perigo deles reside precisamente no low profile: não são como aquele rufia com um nível de QI a roçar o atraso mental, que manda bocas chungas ao pessoal — a sua abordagem é mais sub-reptícia. Sentam-se sempre na primeira fila das aulas e adoram participar, normalmente repetindo o que o professor disse por outras palavras. O que os move não é a curiosidade em aprender. É exibir a sua potencialidade em ser aceite numa universidade com muito prestígio e ter uma vida muito melhor do que a tua, cheia de porsches, de gente pretensiosa como eles e de merdas assim. Coragem, que anda por aí muito canídeo destemido. Na Faculdade
Aqui há duas opções — ou ele/ela entraram na faculdade que queriam e sen­tem-se ameaçados, ou não entraram e sentem-se ameaçados na mesma. O prob­lema desta gente é mesmo esse: o cagufo. Eles estão sempre com uma atitude defensiva, porque acham que tu lhes podes roubar uma coisa qualquer que eles não sabem bem o que é, mas têm medo na mesma. Por isso, prepara-te. A postura do liceu mantém-se, com a agravante de que agora têm mais erudição e vão começar a tentar mostrar serviço aos professores, enunciando o maior número de referências possíveis. Vão misturar Barthes com McLuhan como quem mistura moelas com lampreia — sempre com muita dicção, contudo, para retirar lógica daquilo que papagueiam seria necessário pedir ao Son Goku para juntar as bolas de cristal e ressuscitar o Derrida para ele dizer: “Meu, já viste a merda que estás p’raí a dizer?” Processo de formatação de lambe-cus. Socialização
Normalmente eles juntam-se com gente da mesma laia, porque o resto do pessoal não os curte nem por nada, mas também podes ter o infortúnio de seres a única pessoa normal no meio de lambe-cus. Nesse caso, agarra-te ao Xanax  — como a Kate Winslet se segurou àquele pedaço de madeira no Titanic — e tenta sobreviver o máximo de tempo possível nesse oceano de graxa. No emprego
Se na faculdade os lambe-cus só metem nojo das nove às cinco, aqui corres o risco de te teres de sujeitar às ordens de um. Imagina o número total de anos que o gajo foi ignorado pelos membros da sua espécie, multiplica isto por 87375 horas investidas em competências que lhes permitam exibir a sua pseudo-sapiência e põe em exponencial a necessidade de afirmação. O resultado é o número total de euros que vais gastar no psiquiatra pelos danos cau­sados no teu sistema nervoso. Como converter um lambe-cus
Lamento, mas esta tarefa está para além das tuas capacidades. Podes até tentar aproximar-te dessa pessoa, ser simpático, tentar trocar pontos de vista como uma criatura normal, mas ele vai estar continuamente a tentar mostrar a sua perspicácia intelectual. Mal digas alguma coisa, ele vai espetar-te com uma carrada de frases retiradas do citador.pt. Mas segue o meu conselho: não tentes agradar uma pessoa destas. Acredita que estás mais seguro enquanto ele tem só inveja de ti. É quando ele também te ad­mirar que tens de ter cuidado. A parte assustadora
Agora prepara-te que esta é a parte em que me armo no Peter Joseph do Zeitgeist e que tento acordar-te para a verdade. Estes gajos vão-se ali­mentando do Matrix que geram à volta, mentalizam-se que o que dizem e fazem tem sentido. Com o tempo conseguem convencer quem os rodeia do mesmo — depois vão para políticos, professores universitários, enfim, profis­sões em que seja possível camuflar a falta de competência com burocracia, tal como o Dermablend faz com as tatuagens do Rick Genest. De qualquer forma, é interessante imaginar o Einstein a descobrir a teoria da relatividade depois de ter engraxado bem um professor, ou o Van Gogh a pintar melhor depois de uma hora na primeira fila a abanar a cabeça. Se esta língua lambeu algum rabo, foi para fins recreativos. Agora, respira fundo e começa a fazer aquilo que a história irá fazer de qualquer maneira: ignorá-los, para tentar minimizar o impacto negativo destes tónos na humanidade.