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Entretenimento

Como lidar melhor com os trolls em 2016

Tentámos encontrar a melhor maneira de fazer frente ao monte de lixo online que foi 2015.

Ele tem fome. Imagem via Flickr, utilizador Jan Hammershaug.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

Durante os últimos dias tentámos encontrar a melhor maneira de fazer frente ao monte de lixo que foi 2015. Lidámos com o meio ambiente, com o terrorismo, com o consumo de drogas, e uma data de outras coisas, mas talvez a área de maior carência seja este recanto podre e húmido chamado Internet.

Em 2015 aumentaste o teu número de amigos online. Todas as notícias foram más, e a sua cobertura ainda pior. Viste o teu Instagram, cuidadosamente construído, infectado com publicações patrocinadas. Uma das tuas ex's casou-se (lol); e a outra descobriu que tem uma doença raríssima (lol?).

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Se és uma mulher, uma data de tipos sexistas presenteou-te com uma série de disparates via Twitter. Não recebeste ameaças directas e anónimas de assédio sexual, embora estas tenham sido habilmente dirigidas às tuas plataformas digitais. Se a tua identidade é menos heteronormativa que a de Tim Allen, a tua personalidade foi alvo de debate constante.

Se pertences a mais do que um destes dois grupos, felicito-te por teres tido a coragem de aparecer online este ano.

2016 será melhor? Quem sabe! Nada garante que não será pior. Mas aqui estão algumas ideias que poderiam, eventualmente, tornar a vida online mais suportável durante os próximos 12 meses.

Pára de chamar 'Trolling' a assédio

O trolling é uma táctica valiosa e mágica. Usam-se as regras e costumes de uma malta que destila bílis, hipocrisia ou frustração, mas o trolling também é a palavra que usamos para minimizar o impacto de um comportamento cibernético que, se acontecesse na vida real, seria considerado crime.

Assédio online - seja em forma de ameaças de violência, ou contacto persistente e indesejado - é assédio e é assim que deveria ser descrito. Estejam as leis preparadas para lidar com este tipo de situação, ou não, o assédio na internet tem levado inúmeras vezes a consequências offline.

Não trivializar o assédio que acontece na Internet chamando-lhe trolling faz com que as pessoas que são assediadas se sintam levadas a sério e ouvidas. É um pequeno grande passo.

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O Poder do Troll

Os trolls não são intrisecamente maus e o trolling também não o é. O troll mais famoso de 2015 é Donald Trump. A sua campanha foi consistentemente (e às vezes espectacularmente) frustrada e envergonhou um sistema político que está muito habituado a escolher os seus presidentes. Conseguiu fazer algo extremamente difícil, forçando os seus adversários e o Comité Nacional Republicano a responder à sua tolice com uma seriedade que acaba por ser ainda mais tonta.

Mas Donald Trump também é o pior tipo de troll. É aquele que aproveitou todas as oportunidades que teve para marginalizar e denegrir muçulmanos, mexicanos, pessoas com capacidades reduzidas e mulheres.

Melhores exemplos seriam: a representante do Estado da Carolina do Sul que apresentou um projecto de lei que forçaria os médicos que prescrevem Viagra a passar pelas mesmas vias legais existentes para os procedimentos do aborto, os australianos que usam o iMessage loophole para explicar aos políticos o que pensam sobre as novas regras de ciber-segurança, ou aquele falso perfil da página de atendimento ao cliente da Sopa Campbell que gozava com os homofóbicos que ameaçavam boicotar a marca.

A diferença entre ser um troll e um palhaço tem muito a ver com quem tens à frente.

Alimenta os Trolls tanto quanto te apetecer

Dizerem-te "Não alimentes os trolls", é tão útil como "Não penses mais nisso". Algumas pessoas lidam com o assédio online diminuindo-o, outras precisam de mostrá-lo ao mundo e acabar com ele. A maioria das pessoas é uma combinação destes dois mundos, mas isto traz consequências inesperadas.

Alimenta os trolls quando podes tirar algum partido disso e, quando não é o caso, esquece-os. Mas isso não quer dizer que qualquer resposta tua, ou de outra pessoa, seja um motivo para ser atacado.

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Deixa de confundir Liberdade de Expressão com Liberdade de Consequências

A Internet, ou a parte da Internet pela qual navegamos, é pública.. "Dar um giro" no Twitter não é o mesmo que estar à espera de alguém numa esquina. É mais como estar num McDonald's. É um espaço com regras corporativas, que impõe restrições sobre o que o seu utilizador pode ou não dizer ou fazer.

As empresas de social media batalharam por encontrar maneiras de driblarem a liberdade de expressão e proporcionarem uma utilização segura das suas plataformas. O Twitter, particularmente, enfrentou anos de críticas devido à sua falta de disponibilidade para encontrar mecanismos úteis e claros que protegessem os seus utilizadores de abusos em série.

O mesmo acontece com outro tipo de plataformas, onde as pessoas estão sujeitas a assédio online, desde sites pessoais, a secções de comentários, ou e-mails a clientes.

Para 2016, o Twitter introduziu mudanças que definem o tipo de linguagem aceite, combatendo tanto o abuso pessoal, como o discurso de carácter mais geral, como os 50.000 perfis associados ao Estado Islâmico. É um passo na direcção correcta, mas funções como "bloquear", ou "informar", ainda precisam de alguma atenção para que estas plataformas possam ser usadas de forma segura.

O que deveria ser claro é que restrições como as do Twitter não constituem uma afronta à liberdade de expressão, mas sim um sistema claro de consequências no caso de violação das regras que todos os utilizadores aceitam. Se a ideia é viver numa Internet corporativa, podemos pedir que as plataformas nos dêem o que queremos delas.

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Não aceites comentários

Os comentários são maus. Todos eles. São como peep shows para a curiosidade mórbida e ímanes para o tipo mais pomposo de arrogância ideológica.

Se fores até ao final desta página, encontrarás dois tipos de comentários: (a) aqueles com os quais concordas plenamente; (b) aqueles com os quais nunca concordas. São relíquias de um tempo em que existia uma genuína falta de lugares onde as pessoas pudessem debater e expressar as suas opiniões. Mas esse já não é o caso.

A emissora publica canadiana CBC News terminou 2015 anunciando que desactivaria os comentários nos seus artigos sobre indígenas. Artigos estes que durante anos atraíram o pior tipo de idiota colonial. Nos EUA, a Bloomberg, The Verge e a própria Motherboard, uma das plataformas da VICE, deixaram de ter uma secção de comentários no ano passado.

Se alguém sente a necessidade de fazer um comentário - construtivo ou não - a um artigo ou site, tem os meios para fazê-lo através de canais públicos. "Não leias os comentários" foi 2014. Em 2016, outras publicações escolherão não disponibilizá-los.

Deixa de ser um idiota

Já percebemos. A vida é assim. Tu não matas ninguém e até entendes a evolução do mercado livre e a agenda sinistra da Serena Williams melhor que ninguém. Memorizaste as citações mais sarcásticas de Richard Dawkins e o que leste sobre o ExxonMobil levaria as pessoas à galvanização… se ao menos elas soubessem.

És um racionalista. As pessoas deveriam ser capazes de explicar tudo o que dizem usando a razão, sempre e quando os questiones, independentemente de se estão ocupados, ou não te conhecem, ou simplesmente não querem fazê-lo. É apenas e só uma questão de troca de ideias, estamos todos de acordo?

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Porque, afinal, são só perguntas. Tipo sete, uma depois da outra.Talvez a última não seja tanto uma ideia, mas mais uma sugestão de que a pessoa que escreveu um tweet sobre "manteiga com sal vs. manteiga sem sal" é só um idiota que nem sequer deve gostar de manteiga. Tu só querias que o mundo soubesse que a manteiga sem sal pode ser mais versátil, porque podes sempre adicionar o sal mais tarde, se quiseres. É uma questão de lógica.

Não és nenhum herói. Talvez seja apenas uma demonstração de poder, talvez te faça sentir cada vez mais desconfortável. Essas pequenas fissuras que os Guerreiros da Justiça Social e a Polícia do PC continuam a escavar em direcção ao patriarcado e à supremacia branca são um abismo para ti, criando crateras naquilo que é o mundo, ou foi, ou devia ser.

A Internet de 2015, tal como a vês agora, encerrou o mesmo horror e injustiça que existe offline, mas, neste caso, à distância de um motor de busca e disponível 24 horas por dia, de segunda a domingo.

No entanto, precisas dela para comunicar, para trabalhar.

Se calhar, o melhor que tens a fazer é aplicar as regras que aprendeste offline: mantém as ligações que te dão confiança, escolhe as batalhas que te divertem e te fazem crescer e dá um passo atrás quando assim não for. Faz o que for preciso para que te sintas seguro, apoia os que precisam de apoio e não te rendas.

2016, aqui vamos nós.

Segue o Seb FoxAllen no Twitter.