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Curei o meu gato com um alinhamento dos chakras

As terapias alternativas para "curar" gatos idiotas estão na moda, pelo menos na Austrália. E como o meu gato encaixa nesse perfil, decidi experimentar.

O meu gato é um idiota. Chama-se Alfie, morde e arranha toda a gente, geralmente ao pé dos olhos e da jugular. A maioria das pessoas detesta-o, mas eu sei que lá no fundo ele é não é tão mau. Só precisa de algum tipo de terapia ou uma coisa assim.

Enquanto me esforçava para encontrar essa coisa, deparei-me com um site sobre curas holísticas para animais. Como seria de esperar, este site é basicamente uma extensão da medicina alternativa de base humana e inclui coisas como limpeza de chakras, que é uma prática usada para purificar centros de poder no corpo; e Reiki, que é um tratamento de cura focado na energia, normalmente feito através do toque. Descobri então que havia uma clínica com um nome muito gracioso, Pawsitive Animal Therapies, que oferecia estas curas a "animais de estimação que apresentam problemas comportamentais, agressivos ou emocionais, como stress, ansiedade e medo." Aparentemente acabava de encontrar a solução para o meu problema.

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Enfiei o Alfie na sua caixa e lá fomos nós. Encontrámo-nos com a Melissa, proprietária e terapeuta responsável pela Pawsitive, num prédio vulgar, mas, em seguida, levou-nos através de uma viela por meio de uma porta de madeira sem marcação até um quintal não muito grande. Aí a Melissa convidou-nos a entrar num barracão situado numa das esquinas.

Com o Alfie ainda dentro da caixa, dei-lhe toda a informação necessária, idade, peso, exercício, dieta, e temperamento. A Melissa recomendou Reiki e uma massagem para que o ajudasse a relaxar. Em seguida, deitou-o sobre a mesa, fechou os olhos, e pôs as mãos no seu corpo. A sala ficou em silêncio e Alfie estava estranhamente quieto. As coisas pareciam estar no bom caminho.

Em 2012, o ano em que se realizou o último estudo, os australianos gastaram aproximadamente 1,2 mil milhões de dólares em "outros" serviços de cuidado animal. Isto incluiu serviços como, aulas de fitness, fotografia, e terapias como a que eu experimentei. Foram os cães que beneficiaram da maior parte destes gastos, mas os felinos ainda receberam uma verba considerável a rondar os 16 milhões, distribuída entre cerca de oito por cento dos gatos do país. No entanto, os donos de cães de Nova Gales do Sul, onde nasci, são os que mais provavelmente vão recorrer a este tipo de terapia animal. Assim, mesmo sem se aperceber disso, o Alfie foi um sortudo.

Ele obviamente não sabia disso porque começou logo a assanhar-se. "Se ele vai ser assim", murmurou Melissa: "Vou ter de fazer Reiki à distância." Ela sentou-se com as palmas das mãos voltadas para cima, respirando profundamente. O Alfie aproveitou e foi dar uma volta.

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Segundo a Melissa, os problemas do Alfie foram originados na infância. "Ao ter sido afastado da sua mãe tão jovem o seu chakra do coração diminuiu", explicou ela. "Ele nunca foi exposto a uma hierarquia familiar então, agora, erroneamente, acredita que é o chefe da família. É como se pensasse que é um ser humano." Neste preciso momento, o Alfie elegantemente levantou a perna e começou a lamber os berlindes.

Para desviar a atenção de tais lambidelas, perguntei à Melissa como começou a praticar Reiki em animais. Ela explicou-me que cresceu numa quinta e que sempre amou animais mas que, como veterinária, era muito perturbador pô-los a "dormir". Ela queria ajudar os animais de forma holística. Hoje, como muitos terapeutas, ela faz isso através das massagens, Bowen Therapy (massagem cross-fiber), Terapia Craniossacral (cabeça e coluna vertebral), e Reiki (a energia de cura).

"Eu prefiro estar ao lado do animal," disse Melissa ainda com as palmas das mãos voltadas para cima. "Mas acho que o Reiki à distância funciona com a mesma eficácia." Explicou que o animal não precisa de estar na sala. Às vezes, os animais até podem estar longe, fora do país, e o processo é o mesmo. "Alguns clientes enviam-me as fotografias dos seus animais de estimação e eu realizo os tratamentos telepaticamente", disse objectivamente.

Enquanto isso Alfie já se encontrava completamente relaxado. O diagnóstico de Melissa foi que os seus chakras - o da cabeça e o do coração - estavam em concorrência. E por isto mesmo ele mostrava afecto mas, ao mesmo tempo, tentava não parecer fraco. Típico dos gatos. E com isto, a sessão terminou.

Ao voltarmos a casa de carro, o Alfie fez um barulho horrível, era como se o tubo de um aspirador tivesse tapado com um garfo. Foi cruel e assustador mas, nessa noite, ele aconchegou-se comigo na cama. Nunca antes isto tinha acontecido. E, apesar de, recentemente, estar a miar demasiado, parece-me muito mais calmo. Eu estava desconfiada mas tenho de admitir: algo estranho aconteceu naquele barracão. Eu não o consigo explicar, e o Alfie não vai dizer nada sobre o assunto mas, definitivamente, ele tornou-se num melhor animal de estimação.

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