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Música

Discos: Bing Ji Ling

Álbum de versões de soberbos originais pop concebidos para guiar junto à praia.

Sunshine for your mind

Rush! Prodution / AWDR/LR2

Mais do que nunca, a música pop assemelha-se ao caramelo que sai de uma máquina, em quantidades industriais e sem muito que ajude a distinguir uma porção da outra. Embora tudo nela procure convencer-nos de que atravessa um tempo repleto de inovação e vitalidade, a pop está cansada e cada vez mais necessitada de recorrer ao passado. Não chega o twerk selvagem da Nicky Minaj para enganar. E eis que de vez em quando lá surge uma nova figura que uma série de meios decidem colocar nos píncaros, como se estivessem perante um novo iluminado destinado a reformular a pop. Eles aparecem, de facto, mas não em quantidade suficiente para que todos os anos possa ser celebrada a chegada do menino.

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Mas voltemos ao caramelo, que por acaso até dá título ao

mais recente álbum de Connan Mockasin

, que, talvez demasiado tarde, lembrou-se de pegar no trabalho que Ariel Pink deixou feito, nos seus magníficos discos da Paw-Tracks. Foi então que o neozelandês passou a encarar a canção pop

lo-fi

como veículo ideal para revisitar as vozes agudas da funk e

disco music

mais sentimental (e branca) da transição entre as décadas de setenta e oitenta. A missão de Bing Ji Ling (Quinn Lamont Luke), mesmo descartando a abordagem

lo-fi

de Pink e Mockasin, passa igualmente por pilhar as fórmulas pop de uma época em que os Electric Light Orchestra (antes) e os Toto (depois) foram gigantes.

Nada de extraordinário, se pensarmos que tem duzentos concorrentes envolvidos na mesma demanda, mas com a diferença de Bing Ji Ling não querer enganar ninguém e deixar os créditos de autoria para quem os merece realmente:

Sunshine For Your Mind

, o seu sexto álbum, não é mais que um álbum de versões de soberbos originais pop concebidos para guiar junto à praia — e a verdade é que não precisa de ser mais que isso. Contudo Bing Ji Ling não cai aqui de para-quedas, dada a experiência que acumulou na Phenomenal Handclap Band (solicitadíssima banda de suporte) e em colectivos liderado por Tommy Guerrero, entre tantos outros. Merece por isso ser hoje um representante daquela brisa costeira que um dia marcou as canções de reis da música agradável como Ned Doheny (aqui invocado numa cover de “If you should fall”) ou Bill LaBounty. Com deliciosas versões de “Captain of her Heart” (Double) e “Kiss of Life” (Sade), este tipo pede um fim de tarde no Sudoeste em cada fôlego que deita cá para fora.