Enhance Cell SurvivalCold DarkA minha pancada pelo Japão leva-me naturalmente a escrever sobre muitas das manias peculiares desse país. Entre as muitas obsessões japonesas descobrimos, por exemplo, um ímpeto evidente para adaptar referências culturais alheias, embora sem qualquer necessidade de recorrer à lógica ou à moderação. Se os americanos tinham um gigante gorila, que trepava prédios e esmagava avióes, então eles arranjaram um réptil de proporções ainda maiores para semear a destruição nas grandes cidades e assim representar um símbolo de toda a paranóia nacional. A diferença é que o King Kong não dispõe de capacidades sobrenaturais como lançar fogo pela boca ou activar um escudo para lhe proteger a pele. O Godzilla tem isso e muito mais, porque a versão japonesa acrescenta geralmente as mais extraordinárias características ao objecto original. Se decidirmos alternar entre o filme de monstros e o de gangsters, o impressionante
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Violent Streets (Boryoku Gai), em 1974, é igualmente precioso para entender que a transformação da fórmula, nas mãos dos japoneses, dá-se a todo o tipo de exageros.É inevitável que esta lei da transformação se aplique também aos mais variados discos oriundos do Japão. Já não surpreende assim tanto que alguns produtores japoneses sejam reconhecidos pelo tratamento violento que dão ao dubstep e ao breakcore (já de si ritmicamente agressivo), mas Satol aqui vai mais longe e este seu mini-álbumEnhance Cell Survivalanda perto de ser um disco de electrónica narrativamente abstracto com um “twist” associado (mesmo que o valor do “twist” tenha morrido quando Shyamalan começou a fazer filmes péssimos). Pode contudo essa descrição parecer vaga e incompleta, se não referirmos que estas cinco faixas de Satol encontram-se geralmente abertas a acrescentos de sonoplastia e alguns ruídos humanos (como a respiração ofegante que faz de “9. 26” um momento especialmente perturbante).Enhance Cell Survival assemelha-se por vezes ao que poderia ser uma banda-sonora alternativa paraEssential Killing, aquele filme que ninguém viu, com o Vincent Gallo a fugir do mundo, no meio da neve. Os japoneses inventam tudo.
