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Música

Discos: Vários

A Delsin é um caso à parte.

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Delsin

Tal como uma patinadora artística que poucas piruetas faz, mas que dá tudo de si em cada uma dessas, a Delsin habituou-nos a um critério muito mais focado numa qualidade pensada do que na abundância obtida em pouco tempo. A prova disso reside na compilação

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 que, com vista a celebrar o percurso da

label

holandesa, aposta no seu centésimo lançamento, em vez de se guardar para o vigésimo aniversário que aí vem. O facto de este não ser precisamente o número 100 do catálogo da Delsin não desvirtua sequer o objecto, porque tudo o que esperamos de um compêndio deste tipo é-nos servido com uma generosidade a que é difícil mostrar má cara. Além disso,

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 distingue-se das restantes compilações de electrónica tão somente porque, nos seus diferentes formatos (digital, duplo-CD e caixa de cinco doze polegadas), representa uma editora que soube cavar o seu lugar entre as muitas homólogas europeias e que hoje merece o estatuto de referência que tem.

Contribuíram para a formação desse estatuto uma série de aspectos, que isolados podem parecer apenas curiosos, mas que alinhados fazem da Delsin um caso à parte. Uma dessas características está manifestamente ligada à forma como, nas mais emblemáticas faixas da Delsin, os produtores procuram efectuar uma combinação de linguagens (house, techno, electro, dub) e nem tanto criar uma peça monolítica (mesmo que a dureza industrial de “Petrol”, assinada por Delta Funktionen, faça dela uma das mais inevitáveis malhas desta compilação). Por mais abstracto que isto possa parecer escrito, a verdade é que há na Delsin um compromisso que a impede de nos ludibriar com as merdices do costume: a maioria dos seus discos emana a frieza e a neura de alguns países da Europa, mas isso nunca é vendido com o exotismo plástico de um postal turístico. Em sintonia com esse dado temos também uma série de produtores-mistério que o são por via de uma discrição autêntica e não porque se decidiram mascarar de Ninja das Caldas à última da hora.

Entre esses é impossível não destacar o nome de Ross 154 como um dos mais significantes  para a aura de mistério que rodeia a Delsin. Ross 154 não será certamente reconhecido pela sua extrema regularidade, mas, em 2004, assina (apenas como 154) um duplo-LP intitulado

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Strike

, que, mesmo na sombra de tudo, é um disco tão mágico como por exemplo

Geogaddi

 , dos Boards of Canada. Não é de estranhar portanto que “Moon FM Desire”, a faixa de Ross 154 incluída em

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, nos deixe imediatamente deslumbrados com a melancolia de um beat fracturado, que insiste em encontrar o seu lugar no enleio nocturno dos sintetizadores, mas que, como uma toupeira cega, nunca chega a consegui-lo. O valor desse tema estende-se a tantos outros igualmente preciosos: são esses os casos de “Dive”, pequena pérola de piano perdido em eco manipulado por Bnjmn, ou “Return to Nighfall”, que concede a John Beltran as devidas honras de terminar a compilação com uma techno atravessada por um teclado quente e acolhedor (como a cama de domingo depois de um sábado de farra). No final, não sobram quaisquer dúvidas de que

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 é a ponte perfeita para um catálogo que é a todos os níveis impressionante.