Os documentários sobre música que não podes perder
Fotografia: Theo Wenner// Estilismo: Julia Sarr-Jamois

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Música

Os documentários sobre música que não podes perder

A música - por mais que a algumas pessoas lhes custe aceitar - não é somente música. Por isso, aqui tens os documentários que são a prova disso mesmo.

A indústria e os artistas reivindicam-se nas suas próprias criações, mas também na criação de um mito que inclua uma história pessoal (normalmente diferente da do resto dos mortais), uma estética (própria, copiada ou adaptada) e um carácter marcado. Então, como as coisas vão mais além da música, o cinema converte-se no aliado perfeito para completar a imagem de qualquer grupo, cantor, movimento cultural ou qualquer outra coisa que o mereça. Perante a estreia eminente das retrospectivas sobre o Kurt Cobain e Amy Winehouse estivemos a rever alguns dos melhores documentários musicais dos últimos anos.

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Montage of Heck Há 21 anos que Kurt Cobain nos deixou, um suicídio que comoveu o mundo e mudou a percepção de muitos jovens dessa época. Apesar dos rios de tinta, reportagens, investigações e teorias da conspiração, ainda nada nem ninguém se tinha aproximado do líder dos Nirvana com a autorização da sua família. Montage of Heck tem a aprovação de todos e como produtora, Frances Bean Cobain. Longe de ser uma obra complacente, o filme promete muito material inédito (filmes caseiros, música, diários) onde se pode apreciar as várias facetas de um cantor raivoso e sensível sem cair na indulgência. Documentário obrigatório.

Amy: The Girl Behind the Name Também com a família da protagonista totalmente envolvida no projecto, este Verão vamos ter à nossa disposição um filme sobre a Amy Winehouse, a última grande mártir da música contemporânea. Quase que não existe informação sobre o que podemos encontrar neste documentário, mas sabemos que vai ter material inédito, incluindo músicas e imagens da gravação da sua obra-prima Back to Black. O trailer é de ficar arrepiado: nele, uma Amy ainda meio desconhecida diz que não acredita na possibilidade de se tornar famosa, porque não iria aguentar e poderia ficar louca.

The Punk Singer Uma das pessoas mais importantes da música e do feminismo das últimas décadas, Kathleen Hanna, retirou-se em 2005 sem dar explicações. Depois de arrasar com o "establishment" com Bikini Kill nos anos 90 e continuar o seu caminho de uma forma mais festiva (mas igualmente reivindicativa) com Le Tigre, deixou de fazer concertos de repente. Em The Punk Singer explica o porquê deste desaparecimento através de um flashback da própria Hanna (e das amigas e fãs como a Kim Gordon, Joan Jett ou Tavi Gevinson) por toda a sua trajectória, voltando sempre ao presente, materializado na sua banda The Julie Ruin e com os olhos postos num futuro incerto. Depois do cancelamento do seu concerto em 2014, The Julie Ruin, vão estar na próxima edição do Primavera Sound.

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Björk: Biophilia Live Normalmente, os concertos filmados e editados parecem artefactos pensados para fãs ranhosos e pouco mais, mas se estamos a falar da Björk, as normas e o habitual não existem. Biophilia é um concerto, mas também é muito mais do que isso: é uma experiência musical extrema, instrumentos nunca vistos, projecções mais além do funcional e do artístico, um conhecimento infinito e uma magia desbordante. O documentário inclui a actuação da cantora islandesa no Alexandra Palace de Londres em 2013. À parte do concerto, o projecto completou-se com When Björk met Attenborough, uma conversa em que a cantora e o reconhecido naturalista juntaram todos os seus conhecimentos para encontrar a origem natural da música.

Tropicália Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes … Todos eles surgiram em meados dos anos 60 num Brasil em plena ditadura que não soube interpretar a subversão daquela explosão de criatividade e que acabou resumida no álbum Tropicália. Vistos pela televisão, e até mesmo pelo governo militar, como verdadeiras estrelas, os membros do movimento (que se opunham ao regime) cantaram bem alto, com todas as consequências que isso causou, para que se começasse a romper as regras. O filme é divertido e surpreendente, com uma produção pródiga e um grafismo tão vívido e colorido que nos pode distrair da história principal.

A Life In The Death Of Joe Meek Antes de que Phil Spector revolucionasse a produção da música pop com o seu som, Joe Meek já estava a experimentar, na sua casa em Londres, sintetizadores, copy pastes e microfones colocados de maneiras impossíveis. Apesar de ter tido algum sucesso com as suas experiências, a difícil vida deste produtor fez com que a sua obra pioneira permanecesse enterrada durante muitos anos. No entanto, alguns artistas (como Alex Kapranos de Franz Ferdinand) reconhecem sua influência e este documentário dá o destaque merecido a um dos génios primordiais da produção musical moderna, que afirmava ouvir um mundo novo - mas em Londres, no início dos anos 60, ninguém o conseguia ouvir -. Um daqueles filmes que, pouco a pouco, te vão agarrando, onde o trabalho e a vida estão irremediavelmente interligados.

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The Last Days of Left Eye Um dos elementos que fazem com que um documentário fique na história é quando começa num ponto determinado, com um objetivo claro, e alguma coisa muda tudo o que estava planeado. É o que acontece com The Last Days of Left Eye, concebido como um documentário sobre a rapper das TLC e sobre o seu retiro espiritual nas Honduras que, eventualmente, tornou-se num diário dos seus últimos dias de vida. Uma viagem que a casualidade, o karma e os espíritos acabaram com a vida de Left Eye de uma forma inesperada (e gravada em vídeo).

The Kate Bush Story: Running Up That Hill

Kate Bush foi a primeira mulher que conseguiu um número 1 no Reino Unido com uma canção interpretada e escrita por ela. Essa canção foi Wuthering Hights e converteu Bush numa superstar na qual convergia a mímica, o circo, os samples, a literatura romântica e o feminismo. Depois de uma ambiciosa e espectacular digressão, a cantora fechou-se no estúdio e nunca mais voltou a actuar ao vivo até ao seu regresso 35 anos mais tarde, em 2014. Durante esse tempo, a produção de álbuns era cada vez mais espaçada e as aparições públicas foram diluindo-se para sempre entre as muralhas do castelo onde vive (nos seus últimos concertos, as câmeras estavam proibidas).

Fotografia: svennevenn (Flickr).

Barcelona, ¿sello discográfico? Para finalizar, um documentário de nuestros hermanos. Como se cria um movimento? Pode ser provocado? É algo orgânico? São influenciados pelos espaços e pelas cidades? Existe uma ligação entre Barcelona como cidade e o número de propostas de música electrónica que surgiram nas últimas décadas? Estas perguntas (e muitas outras) são colocadas por Barcelona, ¿sello discográfico? Os seus directores (sem largarem os telemóveis) entrevistam músicos, DJs, editoras e jornalistas musicais por um lado e urbanistas, arquitectos e especialistas em configurar espaços pelo outro para tentar chegar a uma resposta. Uma proposta arriscada, filmada com um iPhone e uma Super 8, em que o enquadramento é tão importante como o conteúdo: todos os entrevistados escolheram o sítio de Barcelona onde queriam aparecer.

Este artigo foi inicialmente publicado em i-D.