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Sexo

Comunismo, moda e pornografia: uma entrevista com Colby Keller

Conversamos com o maior muso do pornô gay na atualidade sobre consumismo, seu trabalho como artista visual e sua impressão sobre o Brasil.

Colby Keller. Foto por Leif Parker

Colby Keller. O nome em si já proporciona muito prazer a quem ouve e conhece a versatilidade do ator em seus filmes. Com quase 35 anos de idade e 12 de profissão na pornografia gay, o versátil de cabelos e olhos castanhos, 1,88m de altura e que calça 48 (!) atrai olhares por onde passa, mas é algo mais, além de sua (boa) genética, que instiga homens e mulheres nos quatro cantos do planeta. Como bem descreveu a revista PAPER, "a relação entre sexo e arte hoje atingiu um novo nível de congruência e o pornstar gay Colby Keller está na vanguarda dessa mudança".

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Nos últimos tempos, Colby atuou em um filme inspirado no famoso texto de Shakespeare, As Sete Idades do Homem, dirigido por Landis Smithers (vice-presidente de marketing do aplicativo de pegação gay Grindr), modelou para a campanha primavera-verão 2015 de Vivienne Westwood "Mirror The World", estrelou um vídeo sexual de moda para a marca nova-iorquina BCALLA, reinterpretou posições de esculturas de Rodin para uma série de fotos de Laurent Champoussin, trabalhou junto ao diretor Wes Hurley no filme Zoulshka (uma versão XXX de Cinderela) e na série Capitol Hill e embarcou em Colby Does America, uma tour de arte e pornografia pelos estados norte-americanos dos EUA e parte do Canadá, na qual conhecia homens por dating apps para criar 50 peças de audiovisual inovadoras.

LEIA: "Colby Keller é a Marina Abramovic do pornô gay"

Conversamos via e-mail com Colby para falar sobre esses e outros temas, como suas visões políticas simpáticas ao comunismo, cinema de Hollywood (ele também adoraria fazer filmes na Coreia do Norte) e suas lembranças do Brasil, onde esteve em 2014, no Festival Mix Brasil. Ele havia demorado alguns dias para responder ao meu primeiro e-mail. Ao responder, disse tinha acabado de voltar de um acampamento, que adora, e que estava sem acesso aos e-mails, para a seguir prometer que responderia com rapidez. No dia seguinte, as respostas que você lê abaixo estavam na minha caixa de entrada. Eu, após todos os filmes que assisti de Colby passarem em um segundo na minha cabeça, suspirei um pouco.

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Colby em foto de Juergen Teller pra campanha SS 2015 de Vivienne Westwood.

VICE: Você tem quase 35 anos de idade e começou sua carreira na pornografia gay em 2004. Quais são suas primeiras memórias desse universo e o que você aprendeu de mais importante de lá pra cá?
Colby Keller: Minha primeira memória é de cometer um erro (no caso, gozar rápido demais) e ter uma segunda chance (para gozar). O que aprendi ali e que ainda sei sobre pornografia é exatamente isso, você encontrará falhas frequentemente, mas tem que se sacudir e tentar de novo.

Você nasceu em Michigan e cresceu no Texas. Quais são suas principais memórias da infância?
Eu era uma criança quieta. Ainda sou. Eu me lembro de desenhar e ler o tempo todo. Eu também amava cultura indígena norte-americana e desejava que eu fosse adotado por uma feliz família indígena no Novo México.

Colby novinho.

Você é formado em Antropologia e Artes Plásticas, tendo desenvolvido trabalhos artísticos paralelamente à sua carreira no pornô. Como foi sua vida escolar?
Eu amava estudar, estar na escola; eu gostaria de ter ficado na escola pra sempre. Todos deveriam abordar todas as atividades da vida com a mesma curiosidade, lucidez e vontade de fazer o trabalho.

Você pode falar um pouco sobre dois de seus trabalhos como artista "Pieces of Eight" e "Everything But Lenin"?
"Pieces of Eight" foi um dos meus primeiros projetos que explorou as políticas de colaboração. Eu pedi a todos que conhecia que se juntassem a mim em um projeto de oito meses, no qual exploraríamos oito imagens e criássemos trabalhos juntos. "Everything But Lenin" continuou essa exploração do comunitário, já que eu dei todos os meus bens em troca do reconhecimento de que esses objetos tornavam-se obras de arte nas mãos dos novos proprietários.

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Você fez mais de 90 filmes. Qual é o segredo de um bom trabalho no set de um filme pornô?
É importante ser profissional. Dormir bem na noite anterior. Aparecer no set no horário. Eu gosto de trabalhar em locais onde as outras pessoas, tanto atores como equipe, sejam profissionais e pontuais. Eu gostei de trabalhar com tantos bons atores e diretores, e com equipes ótimas, que é difícil escolher um como preferido.

Você estrela Zolushka (Cunetinho de Cristal no Brasil), exibido na última edição do festival PopPorn, festival do qual faço parte, e na série Capitol Hill, ambos de Wes Hurley. Como foi trabalhar nestes projetos com ele?
Wes é um cineasta talentoso e um artista nato. Eu gostei bastante do desafio de aturar nestes diferentes tipos de projetos.

Fale um pouco sobre seu projeto "Colby Does America" e o desdobramento do mesmo no trabalho com BCalla?
"Colby Does America" é uma turnê de arte e pornografia por 50 estados dos EUA (além do Canadá e o distrito de Columbia). Eu filmei nesses 50 estados, e há 27 filmes já disponíveis no site. Brad (também conhecido como BCALLA) é um grande amigo e nós colaboramos com Jake Jaxson para o vídeo "Colby Does NY", que estreou durante a NY Fashion Week.

"No pornô, você usa seu corpo pra vender sexo. E na moda, [usa o corpo] pra vender a roupa."

Você se considera um comunista? Como você acha que a pornografia pode ser uma arma contra o neoliberalismo e as políticas e movimentos de extrema direita?
Comunismo é a única estratégia política apresentada até esse ponto da história que investiu em ajudar todos os seres humanos a conseguirem segurança e felicidade. Eu não acho que a pornografia em si é uma arma contra o neoliberalismo. Quando tratada como commodity, é outra exemplo de fracasso neoliberalista para conceber algo a quem não é rico ou nasceu no país certo. A única arma que temos contra o neoliberalismo é o conhecimento.

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Você estrelou uma campanha de Vivienne Westwood. Quão importante é a moda pra você?
Eu sempre amei moda e sua habilidade de tornar o mundo um lugar novo através de ideias e estéticas. Os dois estilos de modelar, na pornografia e na moda, são muito diferentes. No pornô, você usa seu corpo pra vender sexo. E na moda, pra vender a roupa, ou o desejo pela roupa.

O que você tem escutado, assistido e/ou lido? Do que você gosta em livros, filmes e música?
Eu gosto muito daquilo que os americanos chamam de "world music". Se é novo pra mim e não foi superproduzido, ou excessivamente produzido, tendo a me interessar. Leio muitos livros de não-ficção sobre o fim de capitalismo e as políticas do comunismo. Eu devo começar a ler algumas novelas nesse outono no hemisfério norte. Eu recentemente conheci Garth Greenwell e ele me deu uma cópia de seu livro What Belongs to You, mas ainda não comecei (a ler).

Você já considerou Hollywood?
Eu gosto de muitos cineastas. Eu seria honrado de poder atuar em Hollywood mas eu também adoraria fazer filmes na Coreia do Norte.

Uma última questão: quais foram suas impressões do Brasil, após sua visita em 2014?
Brasil é um país lindo e as pessoas que conheci realmente deixaram uma marca em mim. Eu fui tratado com imensa gentileza e doçura por quase todo mundo. Eu amaria voltar algum dia.

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