Falamos com o cara que faz comida de papel em animações stop-motion
Todas as imagens são cortesias do Yell Design.

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Falamos com o cara que faz comida de papel em animações stop-motion

Um estúdio australiano criou a série 'Papermeal', na qual eles filmam o passo a passo de uma refeição feita com papel.

Esta matéria foi originalmente publicada no MUNCHIES US.

Considerando a prevalência enormemente generalizada da comida em praticamente todos os tipos de mídia, parece um pouco estranho quão pouco o mundo culinário vem sendo explorado na animação. Claro, tem o envolvimento de Thomas Keller em Ratatouille, e seu amigo aficionado pelo Japão que deve ter te mostrado uns episódios do surreal anime Shokugeki no Souma. E tem coisas pueris e ocasionais como Cloudy with a Chance of Meatballs, que tem pouco ou nada a ver com culinária. E, claro, temos o exemplo mais recente, Sausage Party, de Seth Rogen, que é mais sobre comer taco pra caralho e morrer lentamente do que sobre os prazeres sensoriais da comida. Ainda assim, a ausência da comida na animação parece estranha se consideramos como ela é um tema explorado constantemente em outras mídias, como a TV, o cinema, a fotografia e a escrita.

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Felizmente, porém, podemos contar com Matt Willis, do estúdio australiano Yell Design, que está preenchendo esse vazio de maneira brilhante. A criativa série de vídeos em stop-motion chamada Papermeal mostra pratos como penne com almôndegas sendo feitos — mas todos os alimentos e utensílios são de papel. O slogan da série é: "Se conseguimos fazer com papel, você consegue fazer com comida."

Jaffle, uma versão do misto-quente comum na Austrália e África do Sul. Foto: cortesia do Yell Design

Nestas animações alucinantes, uma banana split sai de uma maquininha engenhosa e um prato de fish and chips é feito com um jornal digitalizado que salta da tela um laptop antes de ganhar forma física. Apesar da ausência de comida de verdade na série de cinco episódios, Papermeal navega de maneira brilhante o mundo culinário e usa formas e ideias abstratas para retratar as nuances do ato de cozinhar.

Queríamos saber mais sobre a criação das animações, então entramos em contato com Matt Willis, fundador da Yell Design.

VICE: Então, para começar, com surgiu a Yell Design?
Matt Willis: A Yell Design começou uns três anos e meio atrás, bem quando o Vine começou a bombar. Estava me recuperando de um acidente sério de bicicleta e precisava fazer algo com o tempo livre que eu tinha nesses dois meses sem trabalhar, então decidi fazer um Vine todos os dias. Tenho uma base em marketing e design gráfico, então comecei a fazer os vídeos mais bem produzidos e já pensando no marketing.

Ramen. Foto: cortesia do Yell Design

Como e quando surgiu a ideia da Papermeal?
Tivemos a ideia uns quatro ou cinco meses atrás, quando conversávamos sobre o que outros designers estavam fazendo. Percebemos que nunca tínhamos visto uma receita sendo feita em animação, do começo ao fim, usando papel. A ideia inicial era fazer um programa de culinária só usando papel, mas acabou mudando para o que é agora. Nosso estúdio é especializado em fazer trabalhos um pouco peculiares e incomuns, por isso decidimos explorar isso ainda mais.

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Considerando que a ideia original era fazer um programa de culinária, você acha que os vídeos são informativos? Dá para aprender a cozinhar com eles?
Acho que Papermeal pode ser informativo de certa maneira. Os vídeos podem quebrar algumas barreiras que as pessoas têm sobre cozinhar porque as animações são divertidas e coloridas. Os vídeos só têm duas ou três etapas e logo a refeição fica pronta, então não há muitos detalhes. Acho que podemos explorar mais esse aspecto, definitivamente.

Fish & chips. Foto: cortesia do Yell Design

Como vocês selecionam os pratos que vão entrar nos vídeos? Vocês pensam principalmente em qual tipo de comida poderia virar uma animação, ou são pratos que vocês gostam?
É um pouco dos dois. Provavelmente o procedimento ou método de produção vai vir primeiro. O penne com almôndegas seria a princípio espaguete com almôndegas, e íamos colocar aquelas pastas de arquivo na trituradora de papel para fazer o espaguete, mas as coisas foram mudando e evoluindo. Queríamos garantir que os pratos seriam bem diferentes uns dos outros. Na verdade, colocamos uma sobremesa no final só para manter a série o mais variada possível.

Vocês trabalharam com algum chef ou food stylist nos vídeos?
Bem, somos todos bons cozinheiros e já trabalhamos com food stylists antes. Uma amiga próxima na verdade trabalha com a gente como food stylist, mas apesar de ela não ter trabalhado neste projeto, aprendemos algumas coisas sobre empratamento. Somos todos bem obcecados por comida, assistimos a muitos programas de culinária e cozinhamos bastante em casa.

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Todos os itens e adereços usados no set do Papermeal. Foto: cortesia do Yell Design

Quais são as dicas mais importantes que você aprendeu com os food stylists?
Eles não ligam se tiver alguma coisa um pouco bagunçada no prato, ou se você derrama um ou outro ingrediente, porque isso faz parte de cozinhar. No vídeo da banana split, quando os amendoins caem, eles derramam na mesa, do jeito que eles fariam na vida real. Obviamente eles foram cuidadosamente colocados ali no stop-motion para simular essa ação, mas assim que você vê, pensa, "ah, é assim que os amendoins fariam. Eles iam derramar para todo lado."

Quanto tempo demora para fazer cada animação da Papermeal, do começo da pré-produção ao fim da pós-produção?
Leva cerca de duas ou três semanas para fazer todos os itens de cada vídeo, e leva cerca de seis horas para filmar cada um. Como isso era um trabalho para nós mesmos, e não para um cliente, podíamos tomar decisões na hora, então as gravações e a pós-produção foram bem rápidas.

O estúdio. Foto: cortesia do Yell Design

Quais são seus objetivos ao retratar a comida nas animações?
Uma coisa muito interessante que muita gente comentou na Papermeal é que tudo parecia delicioso. Isso é uma coisa maravilhosa de se ouvir, porque nosso objetivo principal era que os pratos parecessem deliciosos e que você tivesse realmente vontade de comê-los. Tínhamos isso em mente o tempo todo.

Vocês tem mais vídeos da série Papermeal em mente?
Temos. Queremos manter a Papermeal renovada e em constante evolução, e já temos algumas ideias para os próximos vídeos.

Obrigado por falar com a gente, Matt.

Tradução: Taís Toti

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