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Tecnologia

Etiqueta digital para cibernautas mais velhos

Percebam que nada presta. A não ser a Internet.

Tenho vários amigos que não percebem nada de tecnologia. Não sabem sequer como sacar música, ou como digitalizar uma foto antiga. Mas não posso culpá-los por isso porque nem toda a gente cresceu com computadores. Mesmo os que cresceram, provavelmente brincaram com um Commodore 64 que não fazia porra nenhuma, ou com uma daquelas merdas feias da Compaq, em que se metiam disquetes (o que é isso?) gigantes. Nem me façam falar no modem 56k que demorava um bom par de dias para sacar um .jpeg com um bom par de mamas. Ok, tudo bem, é uma questão geracional. Isso não quer dizer que não possam tentar manter-se actualizados. O saber não ocupa lugar. Aqui ficam algumas dicas para o pessoal mais velho curtir mais esta era digital em que vivemos (quer eles queiram, quer não). NÃO DIGAM "A INTERNET"
Toda a gente que vocês conhecem está o tempo todo "na Internet". O gajo que demorou 10 anos para comprar um telemóvel? Hoje em dia tem conta no LinkedIn. A vossa tia-avó mandou-vos um pedido de amizade no Facebook. Até a vossa irmã mais nova já sabe fazer Fwd: daqueles mails em Comic Sans. A Internet já não é novidade nenhuma, escusam de contar que compraram aquelas sapatilhas "na Internet". É o mesmo que dizer "numa loja". É igual e irrelevante. Digam só que compraram umas sapatilhas novas e colem o link. E parabéns pela compra. Também é foleiro ao máximo falar das coisas "antes da Internet", como se fosse uma medida temporal do tipo "antes de Cristo", ou "antes do 11 de Setembro". Ninguém quer saber se era difícil comprar Doc Martens quando vocês eram adolescentes. E ninguém quer saber da loja de discos onde originalmente compraram os álbuns dos New Order que o pessoal hoje em dia se limita a sacar de borla. Cenas actuais, avô. Cenas actuais. SAIBAM USAR A PALAVRA "PUTOS" CORRECTAMENTE (OU SEJA, QUASE NUNCA)
Há duas grandes maneiras de falar sobre "os putos" de forma ofensiva. A primeira é quando falam de pessoal mais novo que cresceu com cenas mais fixes e com mais oportunidades do que vocês. Do tipo estar a ver os X-Games e dizer: "O Shawn White é milionário por andar de skate? Eu, no meu tempo, levava na boca por ser skater. Os putos hoje em dia fazem dinheiro com qualquer coisa!" Evitem dizer mal da tecnologia, abracem a cena. Encontrem melhor pornografia e as pessoas vão ter mais paciência para socializar com vocês. A segunda maneira é estarem com adultos que não são, ao contrário de vocês, pais e forçarem toda a gente a ver vídeos dos vossos putos idiotas. As pessoas não curtem isso, ninguém vai para casa pensar no significado da vida. Só vão conseguir que os outros crescidos se sintam solitários e irritados. E ninguém quer estar com alguém que os faça sentir assim. Resumindo: nunca contem aquela vez em que viram o filme Kids quando eram putos. NÃO USEM AS REDES SOCIAIS PARA NOS ATIRAREM À CARA QUE SÃO MAIS SAUDÁVEIS DO QUE TODA A GENTE
Ioga, coloscopias, limpezas. Não vale, não foi para isso que inventaram o Facebook. Ainda bem que perderam peso. Ficamos contentes por terem deixado de beber. Muito fixe isso de bochecharem com raízes de gengibre após as refeições. Mas ninguém quer saber, meu. Não nos contem como agora estão a defecar muito melhor. Não se armem com as vossas super-comidas. Não nos façam sentir mal por não levarmos escovas de dentes para o trabalho. Sim, eu sei que ser adulto é difícil. Um gajo está sempre a pensar em contas e responsabilidades e é por isso que vocês aceitam pagar para ir a uma sala suada cheia de máquinas e desconhecidos. É a única altura do dia em que não precisam de pensar nas vossas escolhas erradas, no vosso puto chato, ou na hipoteca que vence não sei quando. A cena é que mais ninguém quer saber. Quanto muito, liguem à vossa mãe. Ela vai querer saber, mas eu não. E não qualifiquem a vossa aula de ioga como "difícil". As equações diferenciais são difíceis. Conduzir com o/a vosso/a namorado/a sem entrar em discussões é difícil. Largar o vício do jogo é difícil. Comprar boa cocaína é difícil. Alongamentos e respirar bem? Não, isso não é difícil. Desculpem lá. Geralmente os alongamentos vêm antes de coisas difíceis como: correr longas distâncias, andar à porrada, jogar ténis, saltar. O ioga não é difícil, é só aborrecido. Vejam lá se percebem isso. NÃO LINKEM PARA CONTEÚDO DA RR OU DO PÚBLICO
A menos que um dos vossos passatempos ultra-específicos tenha sido notícia (por exemplo: aulas de croché ao som de hip-hop para mães solteiras com problemas de pele), escusam de chamar a atenção das pessoas para conteúdo que toda a gente já viu, leu, ou ouviu. A menos, claro, que a peça seja vossa. Ah, e nunca, mas NUNCA, escrevam "sou só eu que…?" na introdução de um link. NÃO USEM EXPRESSÕES COMO "A ESPOSA", "O MARIDO" E "O PEQUENO"
Sim, já sabemos que a vossa querida vos fez aquele prato de que vocês tanto gostam ao jantar e que agora vão os dois ver o X-Files, ou a Nurse Jackie juntos, mas, e pelo amor de Deus, digam o nome da pessoa em questão. Falar da vossa cara-metade pelo nome do cargo, por assim dizer, não é lá muito fixe. Conseguem perceber isso? É por estas e por outras que TODA a gente tem um nome próprio. Usem-no com respeito. APRENDAM A ESCREVER MAILS
Toda a gente aprendeu a escrever cartas na escola. Era muito romântico e tudo isso, mas um e-mail não é uma carta e vocês deviam perceber isso. Pensem duas vezes antes de mandar um mail. Queméquecaralhoquersaber? Sim, é uma palavra só. Ninguém? Então guardem o vosso episódio engraçado nas caves do Vinho do Porto para vocês. Todos os mails que a minha mãe me envia são iguais. Começam por um "como estás?" e depois fala nas coisas fixes que os meus irmãos andam a fazer. Alguns boatos pelo meio, uma dica útil sobre um assunto qualquer e, para acabar, fico a saber que familiar X (ou amigo Y) está super doente. Isto é apenas aceitável se for entre vocês e os vossos pais. Vocês não querem ser estas pessoas. Não para já, pelo menos. Outra cena importante: não precisam de assinar os vossos e-mails: já percebi que são vocês. O vosso nome e endereço são as primeiras coisas que eu vejo. CUIDADO COM AS FOTOS DE COMIDA
Tenho a certeza que o vosso tagliatelle em cama de algas estava delicioso, mas acho que não preciso de ver todos os pratos que cozinham em casa. Só quero ver o que vocês comem se for um daqueles bolos ordinários de parabéns. Isso é fixe, adoro como eles fazem mamas e pilas com natas e tal. E comida gigante, isso também é engraçado. Mas, fora isso, não obrigado. Fotos de comida de férias? MUITO MENOS! Ninguém quer ver as vossas tapas catalãs enquanto está na fila para pagar umas multas de trâsito. Tenham piedade. É aceitável que, ocasionalmente, fotografem uma comida boa que tenham feito lá em casa, mas só pode ser muito de vez em quando mesmo. Percebam isto: toda a comida que vocês fazem (e comem) devia ter bom aspecto qb para ser fotografada, caso contrário mais vale encomendarem umas pizzas. PARA QUÊ TER MEDO DO ROUBO DE IDENTIDADE?
Uau, esta é uma das cenas principais mesmo. Nada vos faz soar mais filisteus do que ter medo de preencher uma cena online com os dados do vosso cartão de crédito, não vá um "hacker" qualquer "roubar-vos" a "identidade". A tecnologia ajuda e é amiga, não sejam coninhas. A minha primeira compra online foi uma t-shirt dos Bad Brains, andava eu na Faculdade. A sala de computadores estava super escura e acho que estava um gajo nas últimas filas a bater uma. Eu estava super nervoso, até suava das mãos. Depois carreguei no "buy" e lembrei-me que só tinha uns 100 paus na conta. PROCUREM NÃO EXAGERAR
Eu sei que é fixe quando passam daquele telemóvel-concha para um smartphone fino e novinho, mas tentem controlar-se em público. Não façam "poke" a ninguém. Calma com esses convites para tudo e para nada. Muita parcimónia nos emoticons. Lembrem-se: tal como na decoração de interiores, ou nos solos de guitarra, menos é mais. Dica final, aqui vai ela. Se vão fazer uns posts estúpidos sobre política e guerra, saibam que vão soar mesmo irritantes e chatos. A pior coisa a fazer quando duas cenas não prestam é tentar escolher a menos má. Percebam que nada presta. A não ser a Internet.