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Drogas

Estudo revela que os europeus gostam de estar drogados - e as suas drogas estão mais fortes e mais puras do que nunca

A pureza e a potência das drogas ilegais na Europa está a aumentar.
Pierre Longeray
Paris, FR
Photo by David Mdzinarishvili/Reuters

A pureza e a potência das drogas ilegais na Europa está a aumentar, de acordo com um novo relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT). Na sua análise anual das tendências europeias relacionadas com as drogas, a OEDT também descobriu que o consumo de heroína estava em declínio, que os esgotos de Londres têm a maior concentração de cocaína de todas as capitais europeias, e que duas novas substâncias psicoactivas chegam ao mercado todas as semanas.

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De acordo com o relatório, mais de 80 milhões de adultos - quase um quarto da população da UE - consumiram uma substância ilícita em algum momento das suas vidas. A cannabis é a droga mais popular da Europa, seguida pela cocaína. Segundo a pesquisa, um por cento dos adultos europeus fuma cannabis "diariamente ou quase diariamente." As drogas ilícitas estão envolvidas em 3,4 por cento das mortes dos europeus com idades compreendidas entre os 15 e os 39 anos.

O OEDT descobriu que 19,3 milhões de europeus com idades entre os 15 e os 64 anos consumiram cannabis em 2014 - uma estimativa de 5,7 por cento da população da Europa - com o consumo a aumentar em vários países, incluindo a Dinamarca, a Finlândia, a Suécia, a França e a Bulgária. Pouco menos de um quarto dos alunos das escolas europeias, entre os 15 e os 16 anos, confessou ter fumado pelo menos uma vez, incluindo quase um em cada dois adolescentes checos.

A pesquisa também descobriu que a cannabis é a droga mais apreendida na Europa, representando 80 por cento de 1 milhão de apreensões anuais, neste continente. Segundo a pesquisa, os europeus estão a plantar cada vez mais o seu próprio produto, e o número de plantas apreendidas pelas autoridades aumentou de 1,5 milhões em 2002 para 3,7 milhões em 2013.

Ao apresentar, recentemente, o relatório em Lisboa, o director do OEDT, Wolfgang Götz, destacou os resultados relacionados com a cannabis, e disse não estar à espera de que a Europa legalize a droga num futuro próximo. "Não vejo que venham a discutir o tema da mesma forma que o fazem nas Américas", disse ele.

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Outro dado significativo diz respeito à potência da cannabis - o teor de THC - que aumentou dramaticamente nos últimos anos. De acordo com o relatório, o teor de THC por cada flor de marijuana seca duplicou nos últimos cinco anos, o mesmo acontecendo, ao longo dos últimos 10 anos, à resina. Os fumadores europeus podem agradecer à concorrência no mercado pela existência de erva muito mais forte, particularmente na produção doméstica, onde o relatório explica que "nos últimos anos, os produtos fitoterápicos de alta potência estão a ocupar uma quota de mercado cada vez maior."

O relatório também descobriu que o número de pessoas que procuram tratamento por consumo de cannabis aumentou de 45.000 em 2006 para 61.000 em 2013. A principal razão pela qual os pacientes deram entrada numa clínica de reabilitação pela primeira vez foi a dependência à cannabis. No entanto, a procura para o tratamento da dependência de cocaína está em declínio.

Mas mesmo assim, a cocaína - snifada, injectada ou fumada como crack - continua a ser popular. De acordo com a pesquisa, a maior concentração de usuários encontra-se apenas numa mão cheia de países, incluindo a Espanha, a Irlanda, a França, a Dinamarca e o Reino Unido, onde 9,5 por cento dos adultos afirma ter usado este estimulante ilícito.

A análise feita às águas residuais provenientes de várias capitais europeias mostraram que os esgotos de Londres têm a maior concentração de cocaína da UE. No entanto, neste departamento, a investigação descobriu que durante o fim de semana Londres fica atrás de Amsterdão, a cidade amante da cocaína.

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Resíduos de cocaína nas águas residuais Europeias, viaFlickr / West Midlands Police

Sem grandes surpreses chegamos à conclusão de que uma grande quantidade de cocaína na Europa é consumida em discotecas, com 22 por cento dos frequentadores de clubes nocturnos "regulares" - definidos como os que vão pelo menos uma vez a cada três meses - alegando que consumiram cocaína pelo menos uma vez.

A heroína aparece como o opióide mais comum da Europa, e também o mais viciante. A investigação descobriu que, embora a procura desta droga tenha estabilizado, as questões relacionadas com a heroína ainda representam uma parte significativa dos custos sociais e de saúde relacionados com drogas dentro dos estados membros da UE. No entanto, os dados mostraram um declínio na procura de tratamentos relacionados com a heroína e, em geral, a OEDT descreveu que dentro desta área as tendências são "relativamente positivas".

Mesmo assim, a pesquisa descobriu que os heroinómanos por via intravenosa estão em maior risco de sofrer overdoses, e que os opiáceos foram a causa de 66 por cento de todas as overdoses mortais. Dados recentes traçam também um paralelo entre o aumento da pureza da heroína e a subida de overdoses mortais.

A forma mais comum de heroína - a heroína castanha - chega à Europa desde o Afeganistão, enquanto a forma menos comum - a heroína branca - tem sido produzida no Sudeste Asiático. A maior parte da heroína importada para a Europa viaja ao longo da "Rota dos Balcãs" - do Afeganistão para os Balcãs, via Turquia - mas as agências de drogas também têm notado um desenvolvimento na "rota do sul", que se estende do Irão e do Paquistão via África ou Península Árabe. O ópio proveniente do Afeganistão é cada vez mais transformado em laboratórios europeus.

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A OEDT registou um "renascimento" do MDMA após um declínio na produção no final da última década. De acordo com o relatório, 12 milhões de europeus dizem ter experimentado anfetaminas em algum momento da sua vida, enquanto 12,3 milhões tomaram ecstasy.

A OEDT destacou o desenvolvimento de uma estratégia de "marketing" deliberada para o MDMA, e disse que os traficantes de drogas estão a produzir pastilhas mais fortes com várias formas e adornadas com logotipos diferentes para tornar o produto mais atraente para os consumidores. A produção de MDMA na Europa, hoje em dia, parece concentrar-se em torno da Bélgica e da Holanda.

Os consumidores de drogas europeus são também confrontados com um fornecimento constante de novas substâncias psicoactivas, foram relatadas cento e uma novas substâncias introduzidas no mercado em 2014. Compostas principalmente por canabinóides sintéticos, estimulantes, alucinógenos, e opióides, muitos destes produtos são "legal highs" consumidos na sua maioria por jovens.

O jornal francês Le Figaro publicou que a França lidera as tabelas de usuários mais recentes, no ano passado 8 por cento dos jovens franceses consumiram uma dessas substâncias. Enquanto alguns dos produtos podem ser comprados nas ruas, a maior parte são adquiridos online. A internet, segundo o relatório, é "um motor importante" para este novo mercado, e existem actualmente 651 sites de venda de drogas legais.

De acordo com o OEDT, "o crescimento dos mercados de drogas online e virtuais coloca grandes desafios à aplicação da legislação e das políticas de controle de drogas." Referindo-se às plataformas underground da internet, como a Evolution, a Agora, ou a Silk Road, cujo fundador Ross Ulbricht foi recentemente condenado a prisão perpétua, a agência recomendou que os modelos de regulação de drogas existentes "devem adaptar-se para serem executados tanto num contexto global como virtual."

Segue o Pierre Longeray no Twitter : @PLongeray