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Entretenimento

Filmes: Gloria

Acabámos a dançar.

Glória
Sebastián Lelio
8/10 Como já vem sendo habitual, o Estoril Film Festival prima pela qualidade nos filmes que apresenta. Gloria é só mais um desses exemplos. Na fabulosa cena final, Sebastián Lelio mostra-nos quão bom é que haja uma canção que carregue o nosso nome, que nos surpreenda nalgum momento e que esse, além de permanente, se mantenha imutável. No caso de Glória, enorme interpretação de Paulina García que lhe valeu o Urso de Prata em Berlim, quando o tempo passa depressa demais, como um carrossel desenfreado no qual se quer muito entrar, ou como quando se chega atrasado à pista de dança e o ritmo nos foge do corpo. Como a vida tende a ser se não lhe tomamos as rédeas, este é um filme tão belo quanto triste. Trata-se da vida de uma verdadeira mulher que já é avó, mesmo não sendo ainda velha, e que é divorciada há doze anos embora não tenha ainda as contas feitas com o amor. É no realismo da composição desta personagem que reside grande parte da grandeza desta obra. As imperfeições e inseguranças que podem caracterizar uma mulher, a força e vontade que a podem definir e todas as marcas que o tempo deixa (muitas delas perpetuadas por homens bem sacanas) são integradas em Glória. Felizmente, o recurso a clichés ou falsos sentimentalismos não existe, e nem sequer uma ponta do overacting a que muitas actrizes nos habituaram ao longo da história do cinema. Apresenta-nos também vários tipos de solidão, daqueles que fogem dela e dos que são atraídos por ela. Gloria ensina como continuar a crescer quando já se é crescido, depois de colher os frutos que se semeou e de derrubar as árvores que nunca florescerão. Mostra que a sexualidade se vive sempre e para sempre, através de cenas que fariam corar alguns dos mais marotos realizadores que por aí andam. No final, bem coradinhos saímos nós, a dançar ao som de Gloria, grande canção tardo-disco de 1978 do grande Umberto Tozzi, que encerra este filme com chave de ouro.