Fotos surpreendentes de membros do maior gang da Nova Zelândia
Todas as fotos por Jono Rotman.

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Fotografia

Fotos surpreendentes de membros do maior gang da Nova Zelândia

Perguntámos ao fotógrafo Jono Rotman como convenceu os membros deste grupo a posarem para a sua objectiva e o que aprendeu ao longo do projecto.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Austrália.

Nos anos 60, surgiu em Hawke's Bay, Nova Zelândia, um gang de jovens descontentes. Não andavam de moto, mas rapidamente assumiram o formato clássico de um clube de motards fora-da-lei: emblemas, cores de gang e afins. Foi o início de um processo que não tardaria a tornar-se violento. Ficaram conhecidos como Mighty Mongrel Mob e, hoje, são o maior grupo do género no país, com cerca de 30 ramificações em todas as ilhas.

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O acesso dos meios de comunicação ao grupo são raros, por isso, a série fotográfica de Jono Rotman é tão importante. Jono, um fotógrafo de Wellington, mas residente em Nova Iorque, começou a sua carreira a fotografar prisões e alas psiquiátricas da Nova Zelândia, antes de abordar o bando em 2007.

Perguntámos-lhe como convenceu os membros a posarem para as suas fotos de grande formato e o que aprendeu durante este trabalho.

Shano Rogue, 2010.

Fotografia Notorious #24, 2014. Fotografia 1,8 m x 2,3 m.

VICE: Olá, Jono. Como é que conseguiste chegar a estes homens?
Jono Rotman: Primeiro, falei com gente que faz a ligação entre os gangs e a polícia neozelandesa e consegui uma lista de pessoas que me podiam ajudar. Quando comecei, queria abranger todos os gangs do país, mas acabei por focar o trabalho no Mogrel Mob.

Como é que convenceste os membros de que isto era uma boa ideia?
Expliquei que não estava a tentar "contar a história deles", expô-los, ou alguma cena assim. Disse que queria tirar retratos marciais. E, sabes, apesar de como o Mob é visto pela sociedade, estes homens estão comprometidos com uma crença e lutaram em autênticas batalhas, por vezes até à morte. Basicamente, quando viram que eu era honesto na minha proposta, entenderam que queria produzir algo mais complexo do que um mero postal cultural. Quando alguém do topo dá a permissão, os tipos de baixo ficam felizes em cooperar. São muito hierárquicos.

Sentiste-te intimidado?
Claro. A história do Mob é muito sangrenta e a Nova Zelândia é um país com poucas armas; então, estes tipos não conquistam estatuto sem se colocarem em situações de risco. Talvez por isso tenham pouco a provar. Sempre houve um entendimento tácito de que podiam matar-me se eu fizesse merda.

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Denimz Rogue, 2008. Fotografia 1,9 m x 1,5 m.

Podes descrever o primeiro retrato que tiraste?
O primeiro lugar a que fui foi Porirua, para fotografar Denimz, o gajo com tatuagens de cãezinhos nas bochechas. É uma área principalmente polinésia e maori, com muitas casas tradicionais. Mas, a casa de Denimz é porreira, ele tem família e é um tipo bem organizado.

Acho que, conforme vão envelhecendo, a visão deles fica mais aberta: a questão torna-se menos sobre guerra por território e mais sobre o bem-estar da comunidade. Quando nos encontrámos, tentei falar o mais directamente possível. Nesse ponto, não sabia com quem estava a lidar; logo, só disse o que queria fazer e ele disse-me o que não queria fazer.

Sean Wellington e filhos, 2009. Fotografia 1,5 m x 1,2 m.

De maneira geral, como são as suas casas?
As casas são limpas. Muitos são casados e muitos já estiveram na prisão, por isso saem com uma atitude diferente no que diz respeito a assuntos como limpeza. Tentei focar-me nos membros mais velhos. Eram gajos que tinham a vida em ordem. Mas, também estive em espeluncas. No geral, não têm muito dinheiro e, por isso, não há ostentação.

E como é que eles são pessoalmente?
São personagens forjados pela vida dura. Sou fotógrafo há muito tempo e já conheci gente famosa e importante, mas, em várias perspectivas, achei muitos destes homens seres humanos muito mais impressionantes. Já tirei uns 200 retratos desde que comecei. Desses, não houve nenhuma experiência excessivamente negativa, talvez só problemas iniciais. Às vezes, alguém tem uma ideia errónea sobre o que fazemos, mas não passa disso.

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Bung-Eye Notorious, 2008. Fotografia 1,9 m x 1,5 m.

Viste alguma coisa que te chocou?
OK, aqui vai uma "anedota". Estava eu com eles numa viagem memorial pelo País, que é algo que fazem para recordarem os membros que foram mortos ao longo dos anos. Íamos nos seus Fords V8 clássicos, a que chamam "Henries". Eram cerca de 30 carros e entrámos numa cidade que é território dos Black Power. O gang rival. Os tipos do Black Power devem ter visto o primeiro punhado de carros a entrar na cidade e avisaram os do outro lado.

Quando chegámos lá, aparecem meia dúzia de gajos com tijolos e bastões e saltam para cima dos carros. Nesse momento, apareceram mais carros da Mob. Foi uma grande confusão no meio da avenida principal. Felizmente, o chefe da Mob apareceu e parou tudo. Ia ser um banho de sangue, porque os Blacks estavam em menor número.

Greco Notorious, South Island, 2008. Fotografia 1,9 m x 1,5 m.

O que aprendeste durante os oito anos que acompanhaste o Mob?
Fazer isto mostrou-me que eu achava que conhecia a Nova Zelândia, mas, no fundo, não conhecia assim tão bem. Alguns destes tipos são muito pobres e vêm de ambientes muito difíceis. Isto ajudou-me a entender o meu país. Gajos como eu não tiveram a tentação de entrar para um gang, porque tiveram acesso a boas escolas e esse género de merdas. Para estes homens não foi assim.

Como artista, estou mais interessado em facetas da condição humana e, para mim, os gangs representam uma dessas facetas levada ao extremo. Têm uma certa pureza. Era isso que eu queria explorar e é algo que continua a ser verdade. Mas, conforme o relacionamento evoluiu, o foco do trabalho foi-se tornando mais complicado. É uma experiência de humildade conhecer alguém que tem uma origem totalmente diferente da tua e seres, ainda assim, bem recebido. Isto também mostra as forças que formaram a Nova Zelândia. Estes homens tiveram um papel importante nesse aspecto.

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