Fotos da época dourada do cinema porno francês

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Fotos da época dourada do cinema porno francês

"A maioria das minhas musas fazia filmes porque queriam e não por dinheiro. À noite, se quisessem, podiam fazer orgias, mas de dia era para trabalhar".

Este artigo foi originalmente publicado na VICE França.

O realizador Gérard Kikoïne é considerado um dos arquitectos do cinema porno francês. Entre 1974 e 1984, Kikoïne filmou dezenas de películas. Filmes que captaram o lado mais selvagem de uma geração que acabara de conquistar uma liberdade sem precedentes, consequência dos protestos estudantis que ficaram para a história como o Maio de 68, do advento da pílula anticonceptiva e, claro, porque a SIDA não tinha ainda feito os estragos que viria a fazer.

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Em finais de 2015, o realizador publicou Le Kikobook, um livro de fotografias com dezenas de imagens inéditas, que mostram vários momentos entre gravações. Encontrei-me com ele para que me falasse sobre a época dourada do porno francês.


Vê também: "Porno Tecnológico"


VICE: Olá Gérard. Os anos 70 foram mesmo uma época de orgias colossais que duravam 24 horas?

Gérad Kikoïne: Antes de mais, acho que esse mito é que é colossal. Quando chegas ao local de filmagens às nove da manhã estás ali apenas para trabalhar. Nunca abusei dos meus cargos de produtor e realizador. Muitos dos que estão neste mundo - e ainda mais os da indústria do cinema tradicional - aproveitam-se das posições para levarem as actrizes jovens para a cama, mas eu nunca fiz nada disso. Portávamo-nos melhor que os cineastas "consagrados".

Como era o teu trabalho nessa altura?

Os rolos de película eram muito caros e tínhamos que gravar duas versões de cada filme: uma mais suave para evitar a censura e uma mais hardcore para determinadas salas de cinema. Por isso, estávamos muitíssimo distantes dessa colossal fantasia das orgias. Éramos muito organizados e bem preparados. Raramente improvisávamos nas cenas hardcore, a não ser que os actores se sentissem muito cómodos. Montávamos o set com muito cuidado e os castings eram muito precisos. Um gajo que fizesse de gasolineiro, tinha que ser tão credível como o gajo que fizesse de arquitecto.

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Então, era tudo muito profissional.

Sem dúvida. Tudo muito direitinho. O director artístico era muito estrito com as luzes e com os acessórios. Eu também me preocupava muito no que diz respeito aos detalhes. Principalmente, porque os meus filmes tinham muitos diálogos. Se calhar era uma coisa que vinha da minha paixão pelo Expressionismo alemão. Admirava os trabalhos do Mike Nichols, a iluminação do Stanley Kubrick, ou a subversão da Lindsay Anderson. Todos os meus colaboradores adoravam cinema.

Tinhas detractores?

O Movimento de Libertação das Mulheres nunca chegou a interromper nenhuma das minhas filmagens, mas isso também, na realidade, nunca me surpreendeu, porque os meus filmes exaltavam as mulheres. As minhas actrizes eram centrais nos argumentos. De alguma forma, eram filmes de libertação para elas e nenhuma foi obrigada a gravar; ninguém chegava ao set acompanhada de um proxeneta.

Como eram os actores com quem trabalhavas? Trabalhei com uma geração de hedonistas posterior a 1968. Gostavam de divertimento, de se exporem e desfrutavam do sexo. Brigite Lahaie, uma das actrizes, vinha de uma família endinheirada; estava ali por diversão. A maioria das minhas musas fazia filmes porque queriam e não por dinheiro. À noite, se quisessem, podiam fazer orgias, mas de dia era para trabalhar.

Havia muita gente a ver os teus filmes? Sim! Entre 1977 e 1982, os meus filmes venderam mais de quatro milhões de bilhetes. Foi bastante bom e foram distribuídos em mais cerca de 30 países. Estávamos em todo o lado. Uma vez, o actor porno Alban Ceray, disse: "gostem ou não, o sabor do cinema francês é parecido com o da minha pila".

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Bem dito.

E uma percentagem das vendas de bilhetes foram entregues ao CNC [Centro Nacional de Cinema e Animação]. O nosso dinheiro foi muito bem-vindo. Dinheiro pornográfico!

O que é que a indústria tradicional do cinema pensava de ti? Creio que a indústria tinha a pior impressão de nós. Quando deixei de fazer cinema porno puseram-me na lista negra. Os norte-americanos queriam trabalhar comigo, mas os franceses não.

Brigitte Lahaie em "Parties Fines"

Qual é a tua opinião sobre o facto de, hoje em dia, o porno estar em todo o lado?

O porno sempre evoluiu através da ruptura e dos choques. Realizei porno para cinema; podias ir a uma sala e ver um pénis num ecrã de três metros de largura. Depois, com o VHS, podias ver porno na televisão. Em 1985 foi a primeira vez que um filme pornográfico passou num canal de televisão. Isso foi um grande choque, até para mim. Dois anos antes era algo inconcebível. O facto de que o porno se tenha convertido em algo acessível através de plataformas gigantescas, como o YouPorn, pôs, obviamente, muita gente em contacto com o género. Hoje em dia, no entanto, há gente que vem cumprimentar-me quando saio para jantar fora e isso nunca teria ocorrido há 15 ou 20 anos. A cultura porno chegou ao ponto de inspirar a indústria criativa. Não obstante, esse acesso ilimitado a conteúdo pornográfico - ao melhor e ao pior - faz com que os trabalhos individuais sejam pouco memoráveis. Os nossos filmes duram, porque os fizemos com humor, vitalidade, amor e respeito pelas mulheres.

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Le Kikobook foi publicado por Les Éditions de l'Œil.

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