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Ideias para uma instalação artística baseada na Carolina Torres

A Carolina merece arte feita a pensar nela.

Instalação de swag. Tal como acontece com quase tudo, existem instalações artísticas interessantes e outras que não nos dizem nada. A verdadeira arte não costuma ser consensual, mas fica sempre bem assumir uma expressão inteligente enquanto se observa uma rapariga de cócoras, dentro de uma bolha, tal como é recomendável demonstrar muito respeito pelo feedback que sai de uns quantos amplificadores com três guitarras espalhadas por perto. Ninguém vai a uma galeria de arte para fazer caretas ou tapar os ouvidos. Quer dizer, eu também gosto de passear entre uma multidão de figuras humanas carecas feitas com gesso e de ver um par de mãos gigantes a segurar o Corão, embora fique por vezes entediado com outras peças do género. O Rui Veloso cantaria: “Tenho toda a arte do mundo para ti.” Numa conversa entre duas pessoas aborrecidas com alguma arte, ocorreu-me que seria muito interessante fazer uma instalação artística inspirada na Carolina Torres, uma das mais admiradas apresentadoras desta nova geração. A Carolina merece arte feita a pensar nela: tem graça, é atraente sem se comportar como a última garrafa de Coca-Cola no deserto e é uma excelente companhia às cinco da manhã para quem não estiver à procura de spray para engrossar o cabelo nas televendas. Além disso, a Carolina é uma comunicadora com muita onda e ginga numa altura em que é impossível ligar a televisão e não ver uma apresentadora agachada a pedir à criança fadista (com seis anos) que diga adeus para o avô desdentado que está lá em casa. Não há paciência. Isto não são dois manguitos. Isto são dois manguitos conceptuais. Se os outros países têm a Kate Moss para inspirar arte conceptual (estatuetas feitas em ouro), estava na altura de prestar o devido culto à Carolina Torres com uma enorme instalação artística inspirada nela. Antes de me candidatar a expor na Zé dos Bois, Flausina ou Centro Cultural de Belém, achei que a VICE devia conhecer este meu plano. 1- Três televisores Grundig (modelo de 1982) a transmitir ininterruptamente as mais diversas aparições televisivas da Carolina misturadas com vídeos de férias da própria e imagens de palmeiras, que não fazem qualquer sentido no restante conjunto. Tudo isto em cassetes VHS de marca Continente, 240 minutos, gravadas em LP num vídeo manhoso. Esta divisão podia ser preparada pelo James Ferraro. 2- Um modelo exacto das pernas da Carolina Torres feito em gesso e com a colaboração da própria. O modelo deve ter à sua volta a vedação apropriada. 3- Um pequeno aparelho sonoro com fones e doze teclas com símbolos estranhos roubados àquela caixa do Twin Peaks que ninguém conseguia abrir. Junto ao aparelho estaria a seguinte etiqueta: “12 frases que adorarias escutar da boca da Carolina Torres.” Cada um dos botões activaria frases ditas pela Carolina em som 5.1, entre as quais: “Vai-me comprar morangos”; “ajuda-me aqui no vestiário”; “não sejas chato e leva-me ao cinema”; “poliban ou banheira, querido?”; “espalha bem o creme Nivea”. 4- Um telefone vermelho, colocado no centro da instalação, com uma etiqueta e a seguinte inscrição: “Linha directa para a Carolina Torres.” Ao ser utilizado, o auscultador passaria ininterruptamente a gravação de uma velhinha a dizer: “És tão só.” 5- A instalação artística teria desconto para stalkers mediante a apresentação de telemóveis com mensagens perturbantes do piorio. 6- Três frascos de forma cilíndrica com pêlos de identificação difícil e plantas exóticas para efeito artístico in-vitro. Um ponto de interrogação em esferovite junto a cada frasco. 7- O simulador do “espírito Arcade Fire”: peça complexa e distinta das restantes na instalação, o simulador deve incluir um pequeno botão que, ao ser carregado, projecta, numa tela, a imagem de um rapaz a aparecer junto ao ombro de uma rapariga, na fila da frente de um festival, enquanto se escuta um sample com a voz do mesmo a gritar: “É os Arcade Fire, caralho!” A peça deve simular a sensação de flashback desse momento televisivo inesquecível em que a Carolina Torres procurava entrevistar alguém “com o espírito Arcade Fire”, entre o público que esperava pela banda, e apareceu um gajo a dizer isso. 8- Uma réplica exacta do divã de Freud com a seguinte frase escrita na almofada: “Nem o Freud me curaria da pancada que tenho pela Carolina Torres.” A fonte utilizada na frase deve ter um pouco de clássico, emo e gótico. 9- Um leitor de mp3 a tocar toda a discografia de Glassjaw em modo shuffle. 10- Uma tendinha Zé Maria, só para o caso.