O impacto da moda na nossa saúde mental
Kristina Britton

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Μodă

O impacto da moda na nossa saúde mental

Não é surpresa para ninguém que a indústria da moda tem vindo a promover a magreza como um preceito de beleza durante anos. Não é a única culpada, mas influenciou consideravelmente a opinião das raparigas sobre os seus próprios corpos.

Não é surpresa para ninguém que a indústria da moda tenha vindo a promover a magreza como um preceito de beleza durante anos. Apesar de não ser a única culpada, a verdade é que influenciou consideravelmente a opinião das raparigas sobre os seus próprios corpos. Mas os tempos estão a mudar: modelos de todos os tamanhos e feitios são cada vez mais procuradas, o casting de rua deixou de ser um simples conto e, sobretudo, o público não quer um cânone inflexível de beleza, mas sim várias opções com as quais sentir-se identificado. Como a própria vida.

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A indústria da moda tem sido sempre o alvo principal quando se trata de apontar o dedo ao culpado dos transtornos alimentares que as jovens sofrem. É uma atitude bastante negligente e errada culpar um só factor quando se fala de uma doença tão complicada; no entanto, é importante que a moda reconheça que uma imagem e o seu conteúdo têm um grande efeito sobre o público. As jovens são bombardeadas diariamente com fotografias que provocam uma auto-aversão. Mas a publicidade, o cinema e a música têm uma responsabilidade tão grande como a moda e deveriam ser mais conscientes do impacto negativo que estão a exercer sobre os adolescentes. Não podemos negar a pressão à qual estão sujeitas as modelos para cumprirem com os padrões da indústria, um lugar onde a magreza é um requisito fundamental. O que as pessoas percebem como demasiado magra, na moda é visto como algo normal. Eu mesma tive umas quantas conversas humilhantes com alguns amigos que ficaram impressionados quando descobriram o meu conceito de um corpo saudável. Estamos imunes ao facto de que a maior parte das modelos com quem trabalhamos estão em constante pressão para se manterem magras. Com isto não quero dizer que todas elas tenham transtornos alimentares: o que estou a dizer é que se estão a privar das calorias diárias recomendadas. Não vejo onde está a necessidade de que isto tenha de ser assim. Cada sector da indústria deveria adoptar uma postura: estilistas, agências de modelos e revistas deveriam garantir que cada modelo com quem trabalham tenha um corpo saudável. Ainda não atingimos o ideal de beleza que nos parece mais correcto, mas vamos na direcção certa. A carta que a directora da Vogue UK, Alexandra Shulman, escreveu em 2009 chamando a atenção dos estilistas para que pusessem fim aos tamanhos mais pequenos, foi um passo bastante positivo das mãos de uma figura muito influente desta indústria. Os rostos mais conhecidos da indústria começam a mudar e a escolher para os seus editoriais pessoas na rua, isto é algo que ultimamente já não é visto como uma lenda urbana. A ideia de simples transeuntes trabalharem como modelos para uma marca começa a ser cada vez mais atraente para o público pós-internet. Estas modelos são bonitas, interessantes e diferentes; têm carácter e, às vezes, até têm ancas. A mudança também pode ser vista no espectáculo anual mais popular do mundo: o desfile da Victoria's Secret. Mas não te deixes enganar, essas mulheres continuam a ser de outro mundo; no entanto, têm figuras muito mais saudáveis e atléticas do que as que vemos em qualquer editorial. Estas modelos têm uma personalidade com a qual as jovens podem conectar, em vez de serem caras sem nome que só duram uma temporada e depois desaparecem. Por outro lado, as modelos mais veteranas estão a ganhar mais dinheiro do que quando tinham os seus 20 anos - Kate Moss e Daria Werbowy podem confirmar este facto -. Outras, como Audrey Marnay ou Kim Peers voltaram às passarelas, mas agora como mães e com bastante mais experiência. É mais uma prova de que as mulheres já não querem ser bombardeadas por um grupo de adolescentes sem nome que acabam de sair da escola. Elas querem uma pessoa inspiradora que possam admirar, e também que não as faça sentir mal com os seus próprios corpos. França aprovou recentemente uma lei que torna ilegal a contratação de modelos que têm um índice de massa corporal abaixo do que é considerado saudável - foi o que aconteceu na Madrid Fashion Week há alguns anos-. E se as revistas ou marcas retocarem as suas imagens para que as modelos pareçam mais esbeltas, devem deixar claro que o fizeram. É um passo muito importante para esta causa, mas também acabou por criar uma polémica muito grande. No final, o mais óbvio é que, se todos aceitássemos esta prática, poderíamos mudar o impacto negativo que exercemos sobre as jovens. Devemos escolher modelos com poder que queiram ter uma imagem digna da qual estejam orgulhosas, e não se sintam envergonhadas.