FYI.

This story is over 5 years old.

Milhões de Festa

Já chegámos a Barcelos (como se nota)

É bom voltar para uma família da qual tínhamos as maiores saudades.

É provável que já tenhas dado por isto, mas, para o caso de só agora teres ligado o computador, fica a saber que já estamos em Barcelos.

E quando digo "estamos", não digo apenas nós, equipa VICE, mas também os teus amigos, os teus colegas, os teus vizinhos, a boazona loira por quem tiveste aquele fraco enorme no décimo ano (e que te dava tusa sempre que se dobrava nas aulas de ginástica e que fazia com que toda a gente te gozasse) e, possivelmente, até os teus pais (atenta no bilhete que te deixaram na cozinha, ao lado do tupperware) vieram ter connosco. Se tu não estás cá, a nossa pergunta para ti é: o que andas tu a fazer da vida?

Publicidade

Se calhar ficaste a trabalhar ou a cuidar de um ente querido doente, talvez tenhas entrado numa missão solidária para salvar os golfinhos. Pá, os golfinhos são animais mesmo porreiros, é compreensível. Vamos tentar que te sintas o mais próximo possível do festival.

Os 22 graus anunciados (e temidos) equivalem, no microclima próprio de Barcelos, a uns amenos 30 no resto do mundo. O resto é automático. O sol, as pulseiras, o cumprimentar os vizinhos do ano passado com um abraço e os vizinhos deste ano com uma garrafa. Enfim, todas as sensações boas associadas ao regresso a um sítio que nos é querido, voltar para uma família da qual tínhamos as maiores saudades.

A romaria do dia zero fez-se até ao palco Taina, onde nos fizemos acompanhar de um hambúrguer e de uma caneca de rosé (à falta de tinto). Demos as boas-vindas ao festival que nos dá as boas-vindas com muita música e algumas nódoas negras. O palco oferecia-nos três bandas com nomes parecidos e sonoridades totalmente díspares. Canzana come-se à missionário, guitarra e saxofone ruidosamente experimentais, desgarrando-se com Cangarra, guitarra e bateria sóbrios mas descontrolados.

Diga-se de passagem que, não fazendo a desfeita à dupla de Pedro Sousa e Bruno Silva, foi um prazer enorme voltar a ver Cangarra a desbundar uma enorme onda ruidosa, que encontrou reverberação no público. Foi igualmente agradável, no meio da malta toda — e este ano, como em todos os outros, há muita malta gira — descobrir Claiana, que se viria a revelar uma espécie de Caribe mix em modo karaoke. Conclusão: toda a malta abanar a anca. Pelo meio, peso, muito peso.

Publicidade

Os Killing Frost brindaram-nos com malhas brutas e secas de dois minutos, o público brindou os Killing Frost com um mosh enfurecido que deixou o resto de relva necessária para nos sentarmos a chillar para os Spacin’. Mas o peso não ficou por ali e a ovação da noite viria para os Holocausto Canibal. Os aninhos de carreira notam-se no destilar cada vez mais tecnicista e ainda assim groovado (faz de conta que é uma palavra), provando a sua capacidade de encarnar numa máquina de destruição que tem prazer em devastar tudo o resto (mesmo que seja uma pobre árvore ao lado do palco). Destaque ainda para os Spacin’, quarteto de Filadélfia, responsáveis pela construção de uma mística sonora que diz tanto a Velvet Underground como a Emeralds, ou a uma outra banda qualquer, que faria deles o concerto mais interessante da noite, não fossem os fãs do hardcore terem embalado as duas últimas bandas num moshpit energético gigante.

Postos de lado os instrumentos, foi altura de assumir as rédeas da festa e separar os meninos dos homens. Com melhor som da noite, os Sabre tiraram proveito do cenário do Taina para transformar aquele recinto numa rave a céu aberto com toda a gente — parecia mesmo toda a gente — a entregar-se a momentos de dança desenfreada, à qual nem o Gin da Morte faltou. Já assentes, portanto, numa névoa ocular intensa, foi a altura dos DJs da casa assumirem o controlo da máquina — e aí a coisa ficou bonita. Uma verdadeira montra de músicas, que contrastou com a verdadeira montra de danças e expressões corporais no público, que reagiu a gosto aos incentivos ora folk, ora electrónicos, ora indianos e turcos. A culpa foi desse trio de ataque que são DJ Lynce, DJ Quesadilla e, claro, os patrões TOFU.

Publicidade

O primeiro dia, que não é o primeiro dia porque o primeiro dia é hoje fica assim marcado pela diversidade. Sonora, de gente, de sentimentos, de sensações, de cenas. Não comemos nada desde o almoço de ontem, mas temos o corpo cheio de porrada e de amor.

Ainda bem que não viemos de bicicleta

. Até segunda, mãe. Talvez. Se não nos virmos por Barcelos, claro.

Ah, olhem só esta bomboca especial, directamente do Milhões 2012. Temos mais de onde este veio:

Fotografia por André Vitor Tavares e Rebeca Bonjour