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Desporto

Jantei numa cantina e vi o Benfica com okupas

O Benfica ganhou e tudo, só foi pena a salada ter tanta cebola.

Durante o dia de ontem, alguns estudantes, respondendo a um apelo da plataforma Artigo 74.º, decidiram concentrar-se em frente da cantina nova, que serve sobretudo os alunos do ISCTE, contra o encerramento da mesma. A reitoria destacou um funcionário para dialogar com os manifestantes que, como não gostaram das respostas que ouviram, decidiram ocupar o espaço (com permissão do funcionário) até o reitor aparecer. É por isso que não podemos falar de uma ocupação: uma ocupação a sério não espera pela permissão — bem pelo contrário. Por volta das 19h30, os estudantes já tinham tomado conta daquilo. Uns cozinhavam o jantar e outros brincavam com os computadores, preparando o stream do dérbi lisboeta. Cá fora, contrariando o frio, tínhamos o grupo de malta que trazia os batuques intensos a que nos habituamos nas manifs, enquanto outros estendiam uma tarja no topo do edifício que dizia “cantina ocupada, junta-te a nós”. Eu já conhecia estas cantinas e, para mim, são as piores cantinas de Lisboa, ao ponto de ter jurado nunca mais lá voltar. Este seria o último sítio que eu ocuparia em Lisboa porque ainda hoje me lembro do tofu com sabor a nada. Mas, como desta vez, o jantar iria ser confeccionado por estudantes, decidi dar uma oportunidade a malta de bem que tinha a hipótese de mostrar às cozinheiras como se faz comida a sério. Passeei um pouco pela cozinha e percebi que o segurança estava tão perdido quanto eu. Houve alguém na empresa de segurança que lhe pediu que se mantivesse por ali, mas foi só isso. Mesmo assim foi ele quem me apresentou aos cozinheiros da noite. Por detrás da passadeira dos tabuleiros, duas meninas muito simpáticas avisaram: “Está feito!” O jogo estava a começar e servi-me rapidamente.

A malta dos streams piratas não desilude e consegui ver o jogo com poucas pausas e com uma qualidade aceitável. Na primeira parte, o Benfica não jogou o que devia e ao meu lado estava uma coluna poderosa, que é o mesmo que dizer que o Luís Freitas Lobo e os seus comentários foram os meus colegas de bancada. Eu desconfio que ele é do Sporting porque a descrição que me gritava ao ouvido trazia a teima de que o Sporting estava a fazer o indispensável para ganhar. Pareceu-me excessivo e fiquei feliz porque a segunda-parte não lhe deixou nenhuma margem para divagações semelhantes. Durante o jogo fui comendo a minha salada com cebola, feijão, pepino, cebola, cenoura, tomate, maçã e cebola. Aquilo caiu-me mesmo mal e lixou-me o hálito durante a noite toda. Para a próxima, por favor ponham mais maçã e menos cebola ou então levo a minha própria bucha, como fizeram outros colegas. Concluí que de gastronomia, cozinheiras e estudantes sabiam o mesmo. A vantagem é que para os segundos o problema ainda pode ser resolvido com experiência. Mais ocupações é na boa, mas não desvalorizem a ementa.