FYI.

This story is over 5 years old.

ceca

Meshe e remexe

Já brincaste às formas geométricas?

Sofia Neves e Bruno Figueiredo são arquitectos e estavam em busca do candeeiro perfeito: bom, bonito, barato e, de preferência, que não fosse daquela marca sueca, que reside na casa de todos os portugueses (e de todos os espanhóis, ingleses, franceses, brasileiros, por aí fora). Os modelos dos anos 80 — com dourados e cristais — chegaram a ser uma possibilidade, mas acabaram por optar por uma versão mais actual, usando modelos computacionais para o desenho, e utilizando máquinas CNC para produção. Desta forma, era possível fazer variações infinitas, conforme a vontade de cada um, dando origem ao MESHE. VICE: O Meshe mexe desde quando e onde?
Sofia Neves: Apesar de só se mostrar agora, já existe há algum tempo. Não há uma data oficial de início, foi-se construindo nas nossas cabeças e nas coisas que íamos fazendo. Vocês fazem candeeiros personalizados. Isso quer dizer que nunca haverá um candeeiro igual ao outro?
Bruno Figueiredo: Sim, a intenção é que os objectos que desenhamos possam ser personalizados. E isso está relacionado com o processo de fabrico que está na base da criação destes objectos. Ao utilizarmos modelos computacionais para desenhar e máquinas CNC para produzir, podemos fazer variações infinitas conforme a vontade de cada um. Mas também é possível fazê-los em série. Se alguém quiser, ou se houver um modelo que nos pareça por bem repetir. Parte do processo de montagem fica a cargo do cliente. Inspiração IKEA ou mão-de-obra barata?
Sofia: Isso é uma opção, mas interessa-nos essa participação por parte de quem vai usar o objecto. O processo de montagem permite experimentar e entender melhor as possibilidades dos objectos. É possível alterar a combinação das peças durante a montagem e, com isso, uma nova configuração, ficando-se com vontade de explorar formas, geometrias e cores diferentes. O design reveste-se sempre de conceitos, às vezes mega elaborados, que, por outras vezes, são mais interessantes do que o próprio produto. Vocês também têm um conceito, ou apenas candeeiros giros?
Bruno: Se não tivéssemos um conceito, pelo menos ficávamos com candeeiros bonitos. E porquê candeeiros, quando há cada vez menos essa opção nos tectos das casas “de arquitectos”. Não é o equivalente a abrir uma fábrica de CDs, quando os formatos digitais é que estão a dar?
As pessoas que gostam de “mesher” nos objectos podem ser aquelas que têm “casas de arquitecto” ou não! Tínhamos alguma dificuldade em encontrar candeeiros que nos agradassem, a um preço acessível e que não fossem IKEA. Ainda pensámos fazê-los com peças de cristal e hastes douradas, muito em voga nos anos 80, mas seria caríssimo! Assim surgiram os candeeiros, [pensados em primeira mão] para nossas casas. Depois para quem tem casas de arquitectos e de empreiteiros. Hoje há um grande culto pelo vinil, e até já temos visto alguns hipsters a fazer rewind, nos walkmans de cassetes. Tudo vintage, claro! Por isso, o que é bom, mesmo que esmoreça, volta sempre. Entretanto, temos ideias que iremos desenvolver para outro tipo de objectos. O que quer dizer MESHE?
Sofia: Nós trabalhamos as formas em malhas de superfícies planas, mesh significa malha em inglês. O “e” no fim foi uma aproximação ao português, e uma homenagem ao Marco Paulo, meshe e remexe… Podemos dizer que este é um projecto parcialmente vimaranense. Como anda o design em Guimarães?
Existem algumas experiências interessantes e acreditamos que o Instituto de Design possa criar uma dinâmica que sustente o aparecimento de mais projectos que arriscam nos seus processos de criação. Em tempos de crise, em que anda tudo a retrair-se, vocês montam um negócio. O que estão a arriscar?
Não arriscamos muito, é algo que já fazíamos antes. Gostamos de experimentar e de brincar com a geometria das coisas.

Quero um abajur para a minha mesinha de cabeceira. Pode ser ou só têm os de pendurar no tecto?Bruno: Sim. É exactamente isso que queremos (trabalhar na tua mesinha de cabeceira!), que nos coloquem desafios e experimentar coisas novas.

Onde realizam o vosso processo de trabalho?
Casa, café, comboio… E depois: computador! Quando compro uma coisa, gosto muito de ter acesso ao produto e tê-lo na mão para perceber como é fisicamente. É possível ver um MESHE?
Sofia: Sim. No último fim-de-semana da CEC 2012, vamos fazer parte de um projecto colectivo que a associação Ó da Casa! está preparar, que passa por intervir numa casa que está prestes a entrar em reabilitação (chama-se Obra Casa). O Meshe vai lá estar, num cantinho qualquer em ruínas. Estamos a preparar uma intervenção muito engraçada. E, depois, em breve, estarão também à venda em algumas lojas de Guimarães e do Porto. E, quem sabe, pelos Estados Unidos e pela Escócia, visto que já nos contactaram de lojas de lá mal, colocámos o projecto online.