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Entretenimento

Conversámos com a Miranda July sobre cinema, romances e os Portishead

A Miranda July tem um novo livro, motivo mais que suficiente para querer conversar com ela.

Se pudesse entrar na cabeça de alguém e viajar pelos seus pensamentos escolhia a . A sua obra submerge e questiona a condição humana através de personagens mais profundos que sei lá o quê. Miranda é uma mulher muito solicitada: desenha malas para a empresa americana Welcome Companions, criou uma app de mensagens para a Miu Miu e – como se não bastasse – escreveu um romance, The First Bad Man .

O livro conta a história de Cheryl Glyckman, uma mulher de 43 anos que trabalha numa produtora de vídeos de exercícios de autodefesa – a Open Palm. A vida de Cheryl roça o patético e o super-aborrecido, mas em contra partida possui um mundo interior bastante complexo que a americana retrata de forma fresca e divertida. Tudo muda quando aparece a filha da sua chefe, que está disposta a pôr o estranho mundo de Cheryl de pernas para o ar. O romance já se encontra à venda, e nós conversámos com a Miranda sobre ficção, fantasias, e porque é que ela gostaria de viver dentro de um disco dos Portishead.

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Onde é que vais buscar forças para escrever um romance depois de teres terminado um filme?
A minha ideia era escrever um romance antes de dirigir o The Future . Queria que fosse inspirado numa história real, mas durante a rodagem percebi que a ficção funciona melhor, já que as histórias se afastam do meu próprio mundo interior. Por isso coloquei o romance em stand by e rezei para que me ocorresse algo que tivesse personagens que não pudesse interpretar. Com o passar do tempo ocorreu-me a relação excêntrica entre Cheryl e Clee, mas custou-me muito chegar até aí.

Como artista multidisciplinar, achas que as tuas ideias podem adaptar-se de um suporte ao outro? Isto é, farias um filme a partir do livro?

Durante o processo de escrita, achei que também poderia um filme porque é uma história muito dramática. Os locais não seriam difíceis de encontrar. O argumento baseia-se numa relação selvagem entre dois grandes actores. Mas agora que o terminei não penso da mesma forma: o filme nunca superaria o livro. Mesmo assim, as duas áreas influem em todo o meu trabalho. Da mesma forma que The Future afectou este romance, posso garantir-te que o livro já está a condicionar o meu próximo filme.

Colocaste à venda na Internet alguns dos objectos que aparecem no romance. O que tens a dizer sobre esta forma de eliminar a barreira que separa ficção da realidade?

Quando isso me ocorreu – uma estratégia de marketing, suponho -, já tinha em mente criar uma loja como obras de arte. Foi então pensei em fazer algo relacionado com a procura de objectos. Quando olhas para alguns deles, pensas: A sério que isto existe? Tenho a certeza que existe um elfo a esquiar por aí, mas decidi recreá-lo em forma de objecto porque sei que este tipo de coisas existem realmente.

Quais são os teus objectos favoritos?
É curioso porque, até agora, a maioria das pessoas que compraram as peças nem sequer puderam ler o livro. Acho que as compraram porque pensam que tem algum tipo de valor. Para mim, as melhores são as que estão nos capítulos mais significativos: provavelmente as cortinas amarelas não sejam as mais bonitas do mundo, mas são um ponto chave na história. Têm mais valor do que as pessoas imaginam.

Por falar em viver entre a ficção e a realidade… Se pudesses viver dentro de uma obra de arte, qual seria e porquê?
Conheces Dummy, o disco dos Portishead? Sempre o imaginei como um lugar super sexy e relaxante. Talvez porque quando comecei a ouvi-lo era um bocado viciada em Vicodin. Nunca esquecerei essa sensação de calma que me transmitia. Isto se, apenas lá vivesse durante um dia. Hoje, por exemplo.

@miranda_july

Este artigo foi inicialmente publicado em i-D.