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Música

Música: Triune Gods

Um disco capaz de tomar todas as decisões certas.

Seven Days Six Nights
Granma Music
8/10 A última vez que falei sobre o hip-hop da Anticon ia arranjando mocada. Não há nada de muito surpreendente nisso, porque a Anticon, enquanto casa de um hip-hop à parte, é capaz de alimentar opiniões bastante extremas. Por acaso nunca me dei muito bem com toda aquela estética futurista e as vozes alienígenas em permanente despique de “bora ver quem tem o flow mais rápido da galáxia”. Gosto de um ou outro disco de Doseone, mas não tenho muita paciência para outros tantos. O mesmo não significa que não encontre alguns valores na Anticon: alguns dos seus produtores são realmente admiráveis e gosto que a identidade da label seja muitas vezes reconhecível em apenas 20 segundos de música. Na volta, até gosto daquilo antes de chegar ao ponto em que me parece um boneco, que não se cala e que só apetece atirar pela janela do carro ao passar pela ponte. Seven Days Six Nights, a estreia dos Triune Gods, precisou de pouco tempo para me convencer de que era “um disco com as marcas da Anticon (embora lançado na Granma) capaz de tomar todas as decisões certas”: é curtinho (sete faixas), é branco mas bilingue (rimado em inglês e japonês, por Bleubird e Sibbit, respectivamente), é excêntrico sem deixar de ser directo. Esta última qualidade pode agradecer ao produtor Scott Da Ros, que, vai ao espaço e aos samples mais bizarros, embora sem nunca esquecer que o hip-hop deve também funcionar um pouco como duas estaladas na cara para acordar. Aquilo que começou por ser apenas um projecto para levar em digressão acabou por ser um álbum gravado a três, durante um curto período, em Montreal, Canadá. Seven Days Seven Nights oferece boas referências sobre os envolvidos e, logo na terceira faixa, empurra-nos para um hip-hop de templo budista com uma “The Voyage”, que é muito capaz de falar pelo álbum inteiro. Igualmente representativa é a fabulosa capa do samurai sem cabeça e do jogador de basebol — duas escolas unidas num investimento nipo-americano, que a Anticon até se cagava toda para ter no seu catálogo.