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Não é todos os dias que vemos activistas LGBT, neonazis e famílias cristãs no mesmo sítio

A ocasião: uma vigília em frente ao parlamento contra a co-adopção gay de crianças.

A votação da co-adopção de crianças por casais homossexuais estava marcada para anteontem, dia 23, mas acabou por não ter lugar uma vez que os deputados do PSD exigiram, vá-se lá saber porquê, “uma síntese do que foi dito nas audições sobre o tema para poder decidir”. Mesmo assim, e de forma a cumprir o seu papel social, a Isilda Pegado (essa mesma, a do casaco verde) manteve a vigília contra a lei, marcada há uma semana, e a coisa foi mesmo para a frente. Promovida pela Comissão Nacional Pró-Referendo Vida, e sob o lema “pelo direito a uma mãe e a um pai”, a vigília contou com o apoio de partidos e movimentos cristãos, monárquicos, nacionalistas e neonazis que ostentavam bandeiras do Movimento de Oposição Nacional. Do lado oposto, o dos activistas pelos direitos dos homossexuais, há quem não acredite que ignorar estes mini-eventos seja a melhor decisão. Sabendo que a vigília, apoiada por estes grupos, estava convocada, pequenos colectivos de activistas LGBT marcaram, através do Facebook, uma contra-vigília a que chamaram “arco-íris nocturno.” Encontraram-se no Largo do Rato e daí partiram para a Assembleia da República. A descida pela rua de São Bento foi, naturalmente, curta mas ruidosa — com populares à janela por causa dos barulhos dos tambores.   Meia hora depois chegaram ao parlamento. Esperava-os um grupo nacionalista, cerca de dez neonazis prontos para o desafio. Os dois grupos ficaram assim frente-a-frente, trocando insultos e ameaças entre si. A polícia formou rapidamente dois cordões de agentes que não permitiram que os elementos se enfrentassem, apesar das repetidas tentativas que alguns elementos nacionalistas fizeram para passar as barreiras. Um dos elementos, vestido com uma t-shirt com a cruz celta e de cabeça rapada, gritava “não sou fascista, sou mesmo nazi”, enquanto que outro, apontando para o grupo LGBT, dizia: “Deviam ser punidos e fuzilados.” Do outro lado, o som dos tambores mantinha-se e o grupo pró-adopção divertia-se a enviar beijinhos aos neonazis e a cantar coisas como “Jesus tinha dois pais” ou “nazis e fascistas, chegou a vossa hora, os paneleiros ficam e vocês vão embora”. Enquanto isso, os grupos cristãos discursavam na outra extremidade das escadarias da Assembleia da República sobre a necessidade de referendar a tal lei, apelando à protecção das crianças e ao bom-senso (o argumento mais repetido). O grupo dos nacionalistas recebeu alguns reforços durante as rezas colectivas mas os ânimos serenaram, com cada grupo a manter a sua posição de forma mais passiva. Pouco faltava para as 11 da noite quando o grupo LGBT decidiu virar costas à vigília e ir para casa. No fundo, ficou a ideia de que tudo aquilo era dispensável. Querer condicionar uma lei anteriormente aprovada na generalidade, promovendo uma vigília em que cem pessoas se reúnem para fazer uns discursos e rezar no passeio público, é sinal de que estamos perante uma minoria que, depois de derrotada, está a dar o último suspiro.