O Carnaval secreto do Rio tem sangue português
Todas as fotografias são da autoria de Bruno Falcão

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O Carnaval secreto do Rio tem sangue português

Há um Carnaval secreto no Rio de Janeiro que é uma herança portuguesa, com raízes nos Caretos de Trás-os-Montes.

Há um carnaval secreto no Rio de Janeiro. Uma herança portuguesa, com raízes nos Caretos de Trás-os-Montes e que acaba de ganhar um registo importante pelas mãos do fotógrafo brasileiro Bruno Falcão. "Bate-bolas Contemporâneos" é um e-book que guarda em formato digital todo um património cultural tradicional da cidade maravilhosa que a maioria das pessoas desconhece. Lá, como cá.

"Dançarinos de frevo, boi-bumbá, são figuras da cultura, do folclore brasileiro que praticamente toda a gente conhece. E os bate-bolas, quem conhece?", questiona o autor em conversa com a VICE. Falcão passou seis anos imerso neste trabalho. Entrou em favelas para fotografar algumas das "turmas de bate-bolas que saem lá de dentro", foi abordado por traficantes armados, trabalhou muito tempo na investigação desta tradição e conseguiu desvendar o mistério que envolve os chamados "clóvis bate-bolas".

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Bate-bolas de bola e bandeira.

Quinze mil registos fotográficos editados, e 273 fotografias escolhidas para o documento final, além de textos, vídeos, links para as melhores páginas sobre o assunto e entrevistas com investigadores, agentes da polícia e líderes de turmas.

"Nunca vi fantasias tão bonitas e bem elaboradas, é uma parte quase desconhecida da nossa imensa cultura que tento divulgar ao mundo", explica o fotógrafo.

O costume, dizem os investigadores, terá sido trazido por portugueses na época colonial. Frequentemente ligados a problemas com a polícia, as turmas de bate-bolas são desconhecidas inclusivamente por alguns dos moradores da cidade e só em 2012 as suas fantasias foram consideradas Património Cultural Carioca.

A controvérsia, salienta Falcão, é muito provavelmente a razão pela qual o livro "Bate-bolas Contemporâneos", apesar de aprovado nas Leis de Incentivo à Cultura Federal e Municipal, não conseguiu patrocínio para a impressão. "O marketing das empresas tem medo de arriscar. Normalmente só apoiam projectos com fotos das praias e paisagens do Rio de Janeiro, só do Arpoador devem existir uns 500 livros. Para além disso existem as 'panelinhas'", revela. E acrescenta: "Estão feitos com amigos produtores culturais, ou como ouvi mais de uma vez da boca de directores de grandes empresas, não estão a apoiar a cultura nesta altura, mas já patrocinaram alguns projectos para agradar a fornecedores e clientes".

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Ainda assim, durante a elaboração do livro, várias imagens foram publicadas em livros de arte internacionais, num dos maiores sites de arte do mundo, o "Art Review", e fizeram parte de exposições em Nova Iorque, Los Angeles, Las Vegas e Londres. Segundo Bruno Falcão "os 'grandes' media não cobrem o Carnaval dos subúrbios. Só aparecem quando há um problema e acabam por criminalizar todos e não o indivíduo que criou a confusão.

Isso acaba por prejudicar, marginalizar e enfraquecer o Património Cultural Carioca, porque muitos - até um historiador que conheci - que gostam da cultura, do Carnaval e que amam produzir belas fantasias para usar nessa festa, pararam de se fantasiar, porque são mal vistos mesmo sendo pessoas de bem. Correm, por exemplo, o risco de perder o emprego".

Cada fantasia é uma homenagem, esta por exemplo homenageia o queridíssimo e imortal Chico Anysio.

Fora do circuito habitual mediático, os clóvis, garante o autor, "são os maiores foliões do Carnaval de rua do Rio, não só pelo glamour e custo das fantasias, mas pelo trabalho que colocam na sua construção, pelo amor e pela ansiedade que sentem ao longo de todo ano até que cheguem os grandes dias".

Saída da Turma Enigma, um dos momentos mais aguardados pelos bate-bolas.

Homenagem à Escola de Samba Mangueira, as fantasias são tão bem elaboradas que são criados bonecos exclusivos como este do Cartola.

O movimento, brilho e magia dos bate-bolas.

Bate-bola de Realengo.

A festa é na rua.

Bruno Falcão é fotógrafo, formado em jornalismo com pós-graduação em criação publicitária. Podes saber mais sobre o seu trabalho aqui e comprar o livro aqui.