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O Guia VICE de Erasmus

Resumindo: nunca deixes a porta do teu quarto aberta.

Sabiam que ERASMUS é a sigla, em inglês, para Esquema de Acção Regional Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários? E sabiam que foi estabelecido em 1987 com o nome de um gajo qualquer que viajava muito chamado Erasmus? Eu não sabia, tive de ir à Wikipédia — e eu sou Erasmus. Alguns de nós já tiveram a sorte de provar o doce néctar que é ser pago pelo respectivo governo para “ir aprender” para o estrangeiro. Caguem na sigla oficial, este programa devia chamar-se Governo Dá-me Dinheiro Para Andar na Borga Durante um Ano, ou GDDPABDA. Fica no ouvido, não acham? Para aqueles que se pretendem aventurar numa saga destas, para os que já se aventuraram e gostam de recordar ou, simplesmente, para os curiosos, aqui fica uma série de conselhos e truques para seguirem as pegadas de Desiderius Erasmus de Roterdão. Avé, Desiderius! ENCONTRAR UM APARTAMENTO
És Erasmus, por isso vais ser chulado. Dá-te por contente com o primeiro buraco que encontrares porque não vais encontrar nada melhor. Mas reza para que os teus colegas de apartamento não sejam todos uns tonos. Tenta olhar para a experiência como um processo de aprendizagem, se isso tornar mais agradável o facto de dormires num quarto sem janelas. VIVER COM DESCONHECIDOS
A integração europeia parece ser o tema do momento e, enquanto a Merkel e o François não se entendem quanto à dívida, sempre podes tentar criar uma Europa utópica no pardieiro que é o teu apartamento. Com ou sem Grécia, vais estar a viver com estas pessoas durante algum tempo, por isso é melhor dares-te bem com todas elas. Não te passes quando alguém te gamar um ovo ou uns cereais de vez em quando. Sim, isto vai acontecer algumas vezes, mas o karma é uma cena fodida, por isso se fores aquele otário que põe etiquetas na comida, quando acordares com uma ressaca e precisares de beber leite, não esperes a simpatia de ninguém. Sabes o calendário das limpezas que a beta do teu apartamento colou, no início do ano, no vosso frigorífico? Acaba sempre coberto de descontos para mandar vir pizza e com o calendário de festas Erasmus. Vais ter fungos a crescer na cortina do chuveiro e a sanita… Esquece a sanita, vai parecer que alguém lhe cagou nas beiras. Tens duas opções: ou fazes um esforço de equipa para limpar ou esperas que alguém se passe e limpe tudo porque já não aguenta mais. Viver com tantas pessoas e idiomas diferentes não vai ser fácil, mas não as enfureças. Mesmo que não sejam todos melhores amigos, são o teu porto de abrigo neste novo e estranho mundo. Qualquer outro guia universitário é capaz de te avisar para a necessidade de tirares sempre os sapatos em casa para evitar que adormeças com eles calçados e que acordes com pilas desenhadas na cara (as regras de dormitório não fazem sentido, são tipo as da praxe), mas agora estás em território desconhecido e as regras do jogo são outras. Por favor não tires o calçado num apartamento Erasmus, a não ser que queiras ir parar ao hospital às quatro da manhã com o teu cartão de seguro de saúde na mão a implorar por uma vacina contra o tétano.  Nota: Já viveste com um sueco? Eu conheço muitas nacionalidades que dizem aguentar bem a bebida, mas fica de olho no gajo calado da Suécia a beber a sua vodca num canto. Lá porque o teu truque é deitar abaixo a litrosa de cerveja mais barata que conseguiste comprar, isso não quer dizer que bebas mais do que ele. Não alinhes nesse desafio. Ele vai conseguir ficar de pé no fim. De todas as vezes. Tu não. REGRA DE OURO
NUNCA DEIXES A PORTA DO TEU QUARTO ABERTA! Aqueles que já são treinados na arte de pregar partidas universitárias sabem porquê. Uma ida de dez minutos ao supermercado é o suficiente para os teus colegas de casa te remodelarem o quarto de maneiras que não achavas sequer possível naquele intervalo de tempo. E se não és daqueles que tranca a porta, avisa quando levares alguém para a cama. Põe um sapato na porta, um sinal “não incomodar”, qualquer coisa. Ninguém curte entrar no teu quarto e dar de caras com o teu cu pálido. O mesmo se aplica ao barulho. Ninguém quer saber se gostas que te batam ou de dar/levar por trás, por isso tem cuidado com os decibéis, sim? As paredes são finas e a comunidade Erasmus não é assim tão grande, por isso mais vale ficares calado(a) para não acabares conhecido(a) como o(a) gajo(a) que gritou o nome da(o) própria(o) mãe/pai enquanto estava a dar uma, independentemente de isso ser verdade ou não. A UNIVERSIDADE
A pedra no sapato de qualquer estudante em Erasmus. Não quero ser chata, mas é melhor ires às aulas. De vez em quando, pelo menos. Eu sei que as noites de Erasmus são às quartas-feiras e que dez shots por dez euros não dá para recusar, mas tenta aparecer às aulas. Pensa assim: basta-te aparecer para passar. Mas cuidado, vais encontrar três tipos de professores. A saber… 1- A Cabra
É aquela que te odeia só porque sim, só porque és Erasmus e só porque lhe dás mais trabalho do que um aluno normal. Toda a cena “ei, sou estrangeira, por favor não exijam muito de mim” não vai resultar com ela. Estás na aula dela, vais ser avaliado pelos padrões dela e escrever “ERASMUS” no topo da página dos trabalhos não vai garantir que tenhas nota suficiente. 2- Os professores de línguas
Nós adoramo-los e eles adoram-nos. Existe um entendimento que vai para além de notas de exames. A ideia “tu sabes como é ser estrangeiro, dá-me uma ajuda, sim?” vai permitir-te ultrapassar os muitos obstáculos que indubitavelmente vais encontrar no teu caminho. Ama-os e eles também te amarão. 3- O professor que se está a cagar
Bendito seja! Não vais às aulas à quarta-feira? Sem stress, ele está-se a cagar. A avaliação final é uma apresentação de grupo? Sem problema. A presença não conta para a avaliação? Altamente. Mas atenção! Aquela cena de não escrever “ERASMUS” nos trabalhos da Cabra só vale mesmo para essa professora, no resto dos casos usa SEMPRE esse truque. É o teu cartão “estás livre da prisão”, por isso usa-o sempre que precisares. Pode ser a tua única salvação. A BARREIRA LINGUÍSTICA
Já viste o filme Yes Man, em que o Jim Carrey começa a responder “sim” a tudo? Mesmo que sejas cristão, budista ou acredites em mitologia nórdica, lembra-te que a tua nova fé é Erasmus e o Jim Carrey deve ser a divindade em que deves basear a tua recém-descoberta religião. Nesta prática só tens de seguir um mandamento: diz sim. Aquele gajo estranho com rastas convidou-te para uma reunião com os amigos okupas para organizar um protesto? Diz sim. Podes sempre bazar quando estiveres aborrecido com o discurso “o capitalismo está a matar o mundo” porque eles vão estar demasiado mocados para darem pela tua falta. O teu professor pergunta se enviaste o trabalho para o dia seguinte? “Claro que sim, não recebeu?” Qual era o mail, mesmo? “Oh, devo ter escrito mal…” — lembra-te que és de fora, por isso é ok. Usa isso a teu favor: quando um gajo qualquer de t-shirt verde fluorescente se chegar a ti com um inquérito a perguntar pelos teus dados bancários e se queres pagar três euros por mês para o resto da tua vida para a Save the World Foundation diz que não falas a língua. QUEBRAR O GELO COM OS NATIVOS
Alguém, algures, deve ter feito isto em condições. Certamente que é possível sem pôr desporto, lições de intercâmbio, ou trabalhos de grupo à mistura. Isto porque, e confia em mim, aquela miúda que sorriu para ti no primeiro dia de aulas e que te disse que podias ficar com os apontamentos dela, não quer ser tua amiga. Não interessa se eras alto gato na tua terra: vais ser o falhado internacional que fica com lugares vazios dos lados quando se senta nas aulas até encontrar outro Erasmus. Assim que estiveres junto da tua espécie, vais estar no teu elemento e voltar a voar alto, mas até lá, o único contacto que vais ter é na base do “bom dia/boa tarde” com o empregado do bar. Um conselho: impõe a tua amizade. Se não estiveres disposto a levar as coisas até ao limite, mais vale voltares para casa. Para os rapazes a mentalidade é a seguinte: quantas raparigas vão achar o meu sotaque exótico o suficiente para me deixarem saltar-lhes em cima? O programa Erasmus pode bem ser o método ideal para os rapazes aprenderem como desempenhar bem neste departamento, mas já é difícil o suficiente falar com os nativos, quanto mais convencer a gaja boa a ir para a cama contigo. Só porque és de fora, não quer dizer que tenhas sorte. Mas não é impossível, só estou a dizer que têm mais hipóteses com miúdas em Erasmus. Se, por algum milagre, estás a flirtar com um nativo e a falar a tua língua, provavelmente, és uma miúda Erasmus, isto porque, bem, a) és uma rapariga e b) és Erasmus. Mesmo que não representes a ideia, vais ter a reputação, por isso, meninas, a escolha é vossa em relação a uma potencial rendição a estes estereótipos. Quanto maior for o contacto linguístico, melhor, por isso, se decidires abraçar o estereótipo, ao menos aprende o suficiente para na manhã seguinte saberes dizer “não costumo ser assim, a sério!”. Meninas, vocês não vão encontrar o vosso marido em Erasmus. Eu sei que é uma ideia fantástica e os gajos são bons na cama e tudo, mas não vai acontecer. Eles são bons na cama porque andam há algum tempo em coboiadas com gajas. Mas concordo que teriam lindos filhos multirraciais e bilingues. É pena que eles não sejam material para casamento. RELAÇÕES SEXUAIS
A festa oficial de Erasmus chama-se Fode-me, sou Erasmus. É preciso dizer mais alguma coisa? Em Erasmus tens certas expectativas e estaria a mentir se não dissesse que são quase todas sobre com quantas pessoas consegues ir para a cama. E, Como um amigo meu disse, “Não estás à espera de conhecer miúdas com classe”. Podia contar algumas aventuras, mas prometi queas levava para a cova. E, seja como for, vais ter tempo de fazer a tua própria pesquisa. Vou é dar-te alguns conselhos de como jogar este jogo de póquer de Erasmus. A primeira coisa a ter em atenção é que, se te vais sentar à mesa para jogar o jogo, tens de estar disposto a apostar tudo. Se fores com meias intenções, vais acabar por te magoar. Por exemplo: se vais deixar que um gajo qualquer num clube beba um shot de gelatina de vodca do teu umbigo, não fiques chateada se na manhã seguinte ele sacar de um mapa e pedir para pintares o teu país (isto é verídico). Mas está tudo bem porque avaliaste bem a tua mão de jogo e sabias os riscos, por isso puxa do teu mapa arco-íris e pede-lhe para fazer o mesmo. A isto chama-se um Royal Flush. Mas, claro, tens de deixar as emoções de lado, para não te afligires quando vires o gajo com quem dormiste na noite passada aos beijos com a tua colega de apartamento no dia seguinte. DEIXAR O NAMORO EM CASA
Vais embarcar numa relação à distância? Não quero cagar nas vossas esperanças, mas só conheço duas relações que sobreviveram a isto livre de traições — e uma acabou em casamento. Por isso, a não ser que consigam manter promessas deste género, o meu conselho é não embarcar em aventuras destas. A tentação é demasiado grande e as saudades também, já para não falar nas conversas por Skype que sabem a pouco. Demasiada dor. Senhoras namoradas e senhores namorados, é a luta pela sobrevivência num mundo sem lei do coração. Ah, e não penses que as miúdas não traem — elas simplesmente decidem não dizer nada, ou então arrependem-se imediatamente e contam tudo. Já os rapazes levam a sério a regra do “fora de casa”, ou seja, se estiverem a mais de 800 quilómetros, pensam que são solteiros. Fotografia por Luis San Gil O QUE DIZER AOS TEUS PAIS
Se as coisas não correrem bem, vai para casa com um bronzeado. Há a hipótese de que isso os distraia do facto de a enfermeira da clínica local lhes ter telefonado por causa de umas análises. DE VOLTA A CASA
Quando for altura de regressar ao mundo real… Ah, espera, ainda te falta o último ano na tua faculdade que agora é um festival de clamídia porque os Erasmus agora estão todos na tua terra. Caga nisso, continua a fazer o mesmo.