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Música

O kuduro é o novo pimba? O Nel Monteiro responde

Ligámos para casa do Nel Monteiro para conversar sobre kuduro.

Já há algum tempo que andava para escrever sobre as ligações portuguesas ao kuduro, mas não estava particularmente interessado em reflectir sobre a) a forma como esse ritmo ultra-libidinoso nascido em Angola foi globalmente popularizado por um luso-descendente baptizado Luís Filipe Oliveira, cujo alter-ego artístico, Lucenzo, produziu o hit internacional

“Vem Dançar Kuduro”

, nem b) bandas que têm levado este género musical a outros patamares criativos (Buraka Som Sistema, Batida ou Throes+The Shine) — tudo isso é chão que já deu uvas.

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A minha ideia passava mais por olhar o modo como alguns artistas da música popular portuguesa andam a inspirar-se no continente africano. Quando, há poucos dias, perdi o concerto que Nel Monteiro (autor da irresistível “Kuduro é Que é Bom”) deu nos arredores da Ericeira, acabei por ganhar um CD autografado e um endereço de email do recordista de cassetes vendidas neste país. E foi essa a faísca que me fez meter mãos à obra.

Liguei para casa do Nel Monteiro,

née

Manuel Teixeira Monteiro, que muito amavelmente respondeu a algumas perguntas sobre este fenómeno, aproveitando ainda para compilar algumas pérolas que cruzam África com o Portugal mais profundo.

VICE: Já esteve em Angola, a pátria do kuduro?

Nel Monteiro:

Angola é um país que muito desejaria conhecer, mas nunca tive oportunidade. Mas ainda não perdi a esperança.

Como entrou em contacto com este ritmo?

Deve estar a referir-se à música principal deste meu mais recente CD. Da mesma forma que alguns colegas meus da música também entraram nesta novidade, eu comecei a ver a malta jovem a curtir esse ritmo e também quis entrar nesta área para ver o que daí resultaria. Toda a minha vida artística foi a área popular, sentimento e amor, mas estou a ver que esta minha experiência está também a resultar. Prometo que vou continuar.

O que mais o atrai no kuduro?

A coreografia que a malta jovem faz ao som deste ritmo. É uma coreografia diferente de qualquer outra dança.

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Pensa que é isso que tem levado vários artistas da música popular portuguesa a encaixar este ritmo quente nos seus repertórios?

Sem dúvida alguma, amigo. Se o país vai evoluindo em algumas áreas, acho que na música também devemos evoluir. A malta jovem, seja qual for o novo ritmo que está a nascer lá no fim do mundo, já o está a curtir aqui através da internet, por isso temosde dar à malta o que a malta gosta.

Como tem reagido o público ao tema "Kuduro é Que é Bom"?

Acho que estão a gostar e já me têm pedido para repetir. Aderem todas as idades à minha frente. Também devem notar que esta música não é só mais um kuduro, mas sim uma mensagem que é a mensagem da crise em que vivemos. Esta música foi baseada no que aconteceu na minha terra: por não haver dinheiro para a festa, quase que não se fazia nada, mas uma morena pôs a tocar alguns CDs e a malta divertiu-se. E quando ela rodou um kuduro, toda a malta curtiu e até o padre não resistiu. Não houve festa como sempre tinha havido, mas pelo menos a malta curtiu o bailarico ao som de uns CDs e o kuduro foi a parte mais simbólica. É caso para dizer: KUDURO É QUE É BOM!

Eu tenho um sonho lindo demais / Ver o videoclip do "No Ritmo da Paz".

"Aldeia", "kuduro", "morena" e "padre" são palavras-chave neste sub-género musical.

Emanuel, estás convocado.

Este não é dos trocadilhos mais certeiros que o Quim Barreiros já esgalhou.