Quando a emissão acaba. O submundo obscuro dos canais de televisão

Estão a ver aquela velha lengalenga pseudo existencial de trazer por casa, em que a malta se interroga: quando cai uma árvore na floresta, será que faz barulho? Já entraram no espírito?

Então saiam imediatamente daí, que isto é outra coisa. Neste mundo apocalíptico à beira da extinção e com tantas perguntas ainda sem resposta, mergulhámos no submundo dos fechos de emissão e fomos à procura de respostas para uma simples pergunta: o que raio transmitem os canais de televisão quando não estão a emitir?

Pode muito bem ser a vossa companhia numa noite de insónia, ou de trabalho. Se te dissessem algures nos anos 90 que irias ter quatro canais diferentes da MTV, dois VH1, outro par da MCM e por aí em diante, pensarias que iria ser fantástico. Hoje, em 2016, sabes que não é e, se fores como muitos outros, provavelmente nem os vês. As séries - muitas e algumas bem boas - ou as plataformas on demand vieram mudar o paradigma televisivo e será interessante acompanhar o desenrolar dos acontecimentos que se avizinham.

Vivem-se tempos infames, em que, por exemplo, tantos músicos lendários morrem e não há um único canal de música - supostamente os que são especializados - a interromper a emissão, ou sequer a reagir em tempo útil. Nada. Nem uma nota de rodapé, nem a porra de um powerpoint manhoso com o separador a dizer: "Leonard Cohen 1934 - 2016".

A malta até sabe porquê. Não está lá ninguém. Muitos canais são, hoje, a personificação das antigas jukboxes, sem gente dentro e programados à distância. Assim, usar a televisão como um simples electrodoméstico de ambiente, tornou-se também uma opção. Eis o que acontece quando alguns canais vão para descanso e nos fazem companhia como se de uma lareira quentinha (ou psicadélica) se tratassem.

O anteriormente denominado Panda Biggs, aposta num público infanto-juvenil e, quando fecha a emissão, da uma às cinco da manhã, o ecrã enche-se com um ambiente futurista muito bem esgalhado.

A música ambiente é electrónica, com uma certa atmosfera de vídeojogos em loop. Não sendo um som a abrir, também não é propriamente chill out, mas é agradável q.b. para se estar ao computador, como agora, a escrever isto.

Este canal, sobretudo de séries, mas também com alguns filmes, de ambiente descrito pelos próprios como "sci-fi, terror, acção", tem uma hora de fecho que pode variar alguns minutos, consoante a programação. Essencialmente ´e entre as cinco e as nove da manhã.

Com a emissão em baixo, aparece música instrumental à la James Bond, de suspense e com uma mensagem simples no ecrã. Eles estão a carregar baterias e nós devíamos estar a fazer o mesmo.

"C'est l' heure du do do", que se pode traduzir mais ou menos como "É a hora do ó ó". É isto que aparece no ecrã durante as madrugadas do Tiji. Dois bonecos de peluche verdes e outros dois amarelo torrado, mais ao menos alternados.

O som é minimal, com uma batida seca, muito curto, mas em loop, quase a fazer lembrar devaneios de uns Pan Sonic, ou Aphex Twin em dias maus. Com a bonecada em constante movimento, pode causar mais alucinações que propriamente sono.

O que se passa neste canal francês sub-7 é demasiado freaky para se conseguir ver durante mais de cinco minutos seguidos… a não ser que a substância que meteram seja da boa.

Uma imagem aparentemente fixa, mas que se vai distanciando lentamente durante 60 segundos. Silêncio absoluto. Ao fim de um minuto certo, há uma exclamação, "Ahhh!!" e um efeito sonoro, com uma ligeira mudança de imagem.

Se já estiveres quase a fechar a pestana, apanhas um cagaço. Não se faz isso às pessoas, ó malta da Fox, seus marotos. Depois volta ao mesmo processo.

O Aquário Clássico, da Regiões TV, da meia-noite e meia às nove da manhã, é um template que já tem uns anos, mas ainda é o mais lindo de todos e o mais simples. A falar muito a sério!

É simplesmente maravilhoso e leva o prémio de melhor ambiente de trabalho, bate qualquer concorrência aos pontos. Música maioritariamente clássica/contemporânea, de franca qualidade, a condizer com o ambiente, que são peixinhos a nadar (neste momento um momento altamente dramático, com aquela música do Clint Mansel, do filme Requiem For a Dream, sabem?).

Que maravilha. Por favor não levem a mal, pois têm todo um trabalho de produção própria e está aqui um gajo a elogiar o canal quando vocês não estão lá. Mas aquilo é genial. Mesmo. Nem sabem a porrada de horas que já me fizeram companhia. Um enorme e sentido bem-haja à Regiões Televisão.