O que aprendi em duas noites à boleia do Uber Pool em Lisboa

Para quem nos últimos dias teve a timeline do Facebook preenchida e inundada com noticias da Web Summit e eleições nos EUA e ainda não sabe o que é o Uber Pool, é simples: é um uber com boleias. Ou seja, divides a tarifa da viagem com outros passageiros que o condutor apanha e que têm o trajecto em comum com o teu. Esta funcionalidade já opera a todo o gás nos Estados Unidos da América, em Londres, entre outros sítios. Por cá foram, para já, 10 dias de testes que terminaram no domingo, 13 de Novembro.

Partilhar parece ser a palavra de ordem para a geração Millennial, portanto, em teoria, a aposta da Uber tem tudo para resultar. Na sexta-feira à noite decidi ver se é mesmo assim e experimentar apanhar um pool para tentar perceber quem estava a utilizar o serviço e porquê.

Gonçalo, o condutor, apanhou-me em casa por volta das 20h00. Conduz para a Uber há quase um ano, como forma de ajudar a pagar as propinas da Universidade Nova de Lisboa, onde estuda. Começámos a rodar por Lisboa e ainda demorou um bocado até cair um pedido.

Fomos em direcção ao Areeiro para apanhar o primeiro passageiro. Vasco, 26 anos, utilizador frequente da Uber, mas a primeira viagem em Pool. Pouco falador, voltava de casa de um amigo e optou por este serviço por causa do valor, já que, em média, a viagem custa 25 por cento menos do que um UberX. No entanto, não apanhámos mais ninguém e chegámos ao destino com o condutor a explicar melhor como funcionava a "boleia da uber".

Não tardou a seguirmos caminho para atender outra solicitação. Era o João, 31 anos, que ia encontrar-se com amigos no Mercado da Ribeira. A trabalhar e a viver em Londres, já utiliza regularmente o Uber Pool por lá e, como conhecedor de causa, contou-me que é muito normal apanhar um leque variado de utilizadores. "Principalmente à noite, quando as pessoas vêm de concertos, por exemplo, tanto podes partilhar o carro com gente mais ou menos embriagada, tipos mais amigáveis e outros mais carrancudos…uma vez apanhei dois rappers que tinham acabado de gravar o primeiro disco e estavam tão eufóricos que só queriam contar ao Mundo o quão contentes estavam", recorda.

E eis que temos um "match" (quando outro passageiro pede um pool e ambos têm um trajecto similar). Fomos apanhar a Judite, 27 anos, professora universitária, que, apesar do interesse em pagar menos, vê também no serviço a grande vantagem de conhecer pessoas novas. "Ainda nem chegámos em segurança ao destino, mas, provavelmente, vou tentar outro pool no regresso", diz entre risos.

Após ambos chegarem aos destinos em segurança e eu e o condutor continuámos a rodar por Lisboa à espera de uma nova chamada… que não aconteceu. Às 11 da noite, com o tempo a não ajudar, demos a primeira jornada por encerrada.

Na segunda jornada, ao volante do Uber vai o Luís. Tinha descido do Porto para trabalhar em Lisboa durante a Web Submmit e haveria de voltar nessa mesma noite para casa. Mas, antes, rodámos por Lisboa.

A expectativa era que a noite fosse mais agitada que a anterior e a verdade é que a primeira chamada não tardou a cair. Apanhámos um casal perto da zona do Saldanha. Traziam malas de viagem e tinham como destino um Air Bnb. Mais millennial seria impossível. Uber Pool para uma casa de arrendamento temporário.

Questionei-os sobre o porquê da escolha do serviço e a resposta de Benedict foi pronta: "Muitos mais rápido - Uber Pool a quatro minutos, enquanto a viatura X mais próxima estava a 10 minutos". Apesar de ser o primeiro pool dele, Madalena já estava na quarta viagem, duas delas sozinha (há que dizer que quando pedes um pool, podes ou não ter um match mas o serviço é sempre prestado).

Para esta utilizadora mais frequente, há outra questão importante, além da tarifa mais em conta: "A questão ambiental é importante. Temos de pensar nas emissões de CO2. Porque é que havemos de ter dois carros a fazerem o mesmo trajecto quando se pode ter um a levar as mesmas pessoas? Partilhar é sempre melhor".

Uma ideia comum às duas passageiras que se seguiram, Rita e Catarina, ambas com 22 anos e estudantes de medicina. O consenso era geral: tarifa mais em conta e menos carros a rodar. De repente, um "match" e um problema: Rita e Catarina estavam no carro e a nova chamada era também para duas pessoas. Ou seja, eu estava a mais - obviamente - e tinha de sair no meio de um temporal assinalável. Felizmente para mim, infelizmente para ela, a Rita que seguia com a Catarina para uma festa de aniversário, tinha-se lembrado do bolo, mas esquecido do presente. Saíram elas.

Os novos passageiros perderam o "match", mas ganharam espaço. Mais um casal, desta vez a Anabela e o João Reis, 36 e 40 anos respectivamente, que estavam de férias em Lisboa e optaram pelo Pool por uma questão de valores, apesar de Anabela garantir que não estava sentir um ganho por aí além já que das outras vezes em que utilizou o serviço acabou sempre por viajar sozinha.

O condutor, no entanto, acaba por lhe garantir que a tarifa fica sempre 25 por cento mais em conta, mesmo que não se partilhe o carro.

Mais um "match" perdido, mas novo casal a bordo, Miguel e Catarina, ambos com 24 anos, já iam no segundo Pool do dia. A semana de testes estava a terminar e uma coisa é certa, segundo dados disponibilizados pela Uber, todos os que decidiram, ou tentaram partilhar viagens em Lisboa durante o período experimental, contribuíram para que a cidade emitisse menos cerca de 4,3 toneladas de CO2 para a atmosfera.

Modernices à parte, uma coisa é certa, partilhar tem de ser a palavra de ordem do futuro. Disso, restam poucas dúvidas. Depois de algumas várias horas a andar por Lisboa nestes dias, decidi encerrar ali a minha história e notei um público variado a apanhar este serviço, malta jovem, casais, turistas e mesmo um casal geração X que não se importam de partilhar um carro, seja por uma questão financeira ou mesmo consciência ambiental.

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