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Música

O seapunk morreu, a Venus X não

E pintou o cabelo de verde antes de haver seapunk sequer.

O que faz de um DJ um bom DJ? A perícia técnica? O bom gosto musical? O marketing? Tudo isto e um pouquinho de semiótica. Venus X é negra, vem de um bairro fodido, tem o cabelo verde, zero papas na língua (ver também: a discussão twitteriana com o Diplo) e, mais importante ainda, coloca todos os que assistem a um set seu a falar de si. Esta é ela num discurso quase directo — porque não foi feito cara-a-cara mas através desse mundo maravilhoso que é a internet — poucos dias antes de marcar presença na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, para pôr toda a gente a gingar a anca ao sabor do tempo primaveril e verdejante. Como o cabelo dela, portanto. VICE: Numa escala de um a Diplo, quão farta estás das pessoas a questionarem-te sobre a cor do teu cabelo?
Venus X: Nunca me preocupei muito com isso… Permitiu até que me prestassem mais atenção, desde as grandes estrelas da pop até a miúdos da creche. Para eles pareço saída de uma anime. O seapunk morreu agora que a Rihanna roubou toda essa estética?
Para mim, nunca esteve vivo. Já tinha cabelo verde antes dessa moda e só porque as paredes do salão de beleza onde o fui pintar eram turquesa. Aí, disse-lhes para o pintarem dessa cor. Mas sim, se tivesse de o reconhecer diria que morreu com a Rihanna. De qualquer das formas odeio sereias: usavam a voz para atrair os marinheiros e depois matá-los. Ilusões de mulheres. Uma vez disseste que o mundo é muito, muito desanimador para as mulheres na música. O que achaste de toda a controvérsia em torno da Nina Kraviz?
Sinceramente, não sei o que se passou com ela e honestamente não quero saber, mas imagino que seja algo do tipo ela ser super popular e famosa e dar concertos, porque é podre de boa. Certo? Tudo o que posso dizer é que a malta magra e sexy faz com que seja muito difícil às pessoas com um ar normal encontrar trabalho, porque as empresas de relações públicas, e as empresas em geral, querem pôr alguém que seja bonito atrás dos pratos. Toda a gente devia deixar de ser tão superficial e deixar que os bons DJ's dessem concertos. Lembras-te da primeira canção que alguma vez passaste?
Sim. Provavelmente foi a “Dipset Anthem” seguida da "Happy House” da Siouxsie. Nessa altura, eu era bastante estranha… Há alguma hipótese de que as festas Ghe20 Goth1k regressem?
Fazemos aparições aleatórias: este ano já organizei três! Estou a tentar que regressem em pleno e que se internacionalizem. Rezem por mim. Qual foi a melhor coisa de trabalhar com o A$AP Rocky?
A natureza orgânica de tudo. Ele estava a gravar o vídeo dele na rua quando um amigo me ligou e me pediu para aparecer, estava eu a caminho de uma Ghe20 Goth1k. Parei por lá e vesti uma sweat da Hood By Air — apesar de na altura estar um calor de verão, queria aproveitar a publicidade grátis ao meu amigo Shayne. O resto é história… “Gosto de falar com as pessoas na vida real, não gosto de conversas da treta online.” Isso quer dizer que vais cagar de alto nesta entrevista porque foi feita por email? Ou será que tenho hipótese de ir falar contigo durante o teu set na ZdB e pedir-te uma malha de Smiths?
Tens piada. Não, isto é real, e seria fantástico que viesses falar-me e pedir Smiths. Não passo nada do Morrissey há algum tempo. Adoro o tipo, é tão emotivo. A minha letra favorita: “And if a double-decker bus crashes into us, to die by your side is such a heavenly way to die…”