O Sol ainda baila na Cova da Iria

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O Sol ainda baila na Cova da Iria

Estes olhos vêem algo, no mesmo sítio, no mesmo dia, mas num ano diferente. Os mesmos olhos que viram o Sol bailar a 13 de Outubro de 1917.

Estes olhos vêem algo, no mesmo sítio, no mesmo dia, mas num ano diferente. Os mesmos olhos que viram o Sol bailar a 13 de Outubro de 1917, um disco prateado que tremia e se movia em zig-zag e para o qual podia olhar-se directamente sem ferir os olhos.

Assim o descreveram duas das testemunhas de um evento que contraria absolutamente as leis da Natureza e do Cosmos, Avelino de Almeida, jornalista do jornal O Século, e Almeida Garret (não confundir com o outro), professor da Faculdade das Ciências da Universidade Coimbra. Diziam-se cépticos, até presenciarem o milagre colectivo.

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As tentativas de interpretação deste misterioso acontecimento são várias e não se pode ignorar o facto de envolver tantas pessoas ao mesmo tempo. Trata-se de um evento meteorológico único, no qual o milagre foi ter-se adivinhado com tanta precisão o lugar, dia e hora em que se manifestaria. Um encontro perpetrado por extraterrestes? Histeria ou/e alucinação colectiva provocada pela auto-sugestão das espectativas do que tinha anunciado Lúcia? Um milagre para que todos acreditassem nos pastorinhos? Efeitos ópticos provocados pelos fosfénos? Uma grande mentira…?

Se calhar, tudo isto ao mesmo tempo…

Mas, os olhos que regressam à Cova da Iria continuam a ver.

É só um pedaço de madeira do Brasil, mas activa prantos incontroláveis entre os crentes. Já lhes perguntei porquê, mas não sabem explicar muito bem por palavras. Sabem sim, o que sentem.

Segundo o filósofo Mircea Eliade, um dos mais importantes teóricos da fenomelogia da religião (e o autor do clássico indispensável O Sagrado e o Profano) apresenta a dicotomia do espaço e tempo, profano e sagrado, como uma divisão do Mundo em partes distintas, em que uma é destinada aos homens e a outra aos Deuses. Faces da mesma moeda, impossíveis de separar. O termo religião deriva de religare, que significa: repetir uma união, atar firmemente um laço entre o ser humano e o divino.

Quem nunca transformou em símbolo um bilhete de cinema, ou uma entrada de museu, uma concha, ou uma folha de árvore, um peluche, ou um pedaço de fio, uma madeixa de cabelo, uma camisola do equipamento de uma equipa de futebol qualquer, uma fotografia, uma pessoa, ou até um sítio, que atire a primeira pedra.

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Outra tentativa de explicar o ser humano como animal religioso vem do pai da psicanálise, que defende que "a religião é um desdobramento do complexo de Édipo e que representa o desamparo do homem no Mundo, tendo que enfrentar o destino final da morte, a luta da civilização e as forças da natureza". "Os deuses retêm a tarefa tripla: devem exorcizar os terrores da natureza, devem reconciliar os homens com a crueldade do destino e devem compensá-los pelos sofrimentos e privações de uma vida civilizada". Para Freud, Deus seria a manifestação de um desejo da criança por um pai. Um pai super-herói, digo eu.

Segundo as respostas dos devotos que interroguei, é unanimamente declarado que a Nossa Senhora de Fátima é a mãezinha, é quem lhes transmite uma imensa e profunda sensação de paz e protecção. Entrar no recinto do Santuário e estar próximo da estátua que a representa intensifica todos estes sentimentos.

O sol bailou uma vez, continua a bailar e, muito provavelmente, bailará para sempre.