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cinema

​O triunfo de Portugal no Doclisboa

Muita gente, mais de 200 filmes, e um punhado de premiados que, desde o início se foram perfilando como favoritos.

Fotografia gentilmente cedida pelo Sérgio Felizardo.

E o Mundo inteiro coube mesmo em Lisboa. Um Mundo muitas vezes pintado a negro, denso e dramático. Sempre real, embora às vezes não parecesse. Um mundo que, apesar de pouco dado a facilitismos, foi suficientemente apelativo para um público que ao longo de 11 dias foi enchendo as salas onde a 13ª edição do Doclisboa assentou arraiais.

Muita gente, mais de 200 filmes, e um punhado de premiados que, desde o início se foram perfilando como favoritos.

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Num Festival de Cinema as reacções ao que é projectado vão-se percebendo nos corredores, nas conversas que se ouvem entre sessões, naquelas que se têm entre copos no final das noites longas e, claro, nos aplausos ganhos ou perdidos na sala. Por isso não é uma surpresa que "Phil Mendrix", de Paulo Abreu, tenha levado para casa o Prémio Jornal Público para melhor Filme Português transversal a Competição, Riscos e Heart Beat.

Apesar de tecnicamente ser um filme documental simples, clássico até, com recurso a imagens de arquivo, testemunhos em formato entrevista e um acompanhamento do protagonista em jeito de reportagem, "Phil Mendrix" acerta em cheio no seu objectivo principal: mostrar a vida fantástica daquele que é, de certeza, um dos mais subvalorizados músicos portugueses de todos os tempos. Um génio da guitarra que, como diz a determinada altura Manuel João Vieira, "só num País como Portugal pode nesta altura andar a tocar com os Ena Pá 2000, ou com os Irmãos Catita". Divertido, simples, tocante, pertinente no enquadramento histórico que faz do rock em Portugal desde os anos 60 até ao grande boom dos anos 80 e consequente curva descendente a partir de meados dos 90, é na sua essência um "labour of love" e uma homenagem sentimental. E isso é cinema.

Fotografia gentilmente cedida pelo Sérgio Felizardo.

Cinema, com todas as letras, foi, aliás, coisa que não faltou à armada nacional integrada em praticamente todas as secções do doclisboa 2015. Da ruralidade em carne e osso de um eventual País real, sem filtros e no limite do voyeurismo-kitsch-urbano presentes em "Portugal - Um Dia de Cada Vez", de João Canijo e Anabela Moreira, ao objecto de auto-reflexão feito paródia quase filosófica de soberba mestria que é "Porque Não Sou o Giacometti do Séc. XXI", de Tiago Pereira, ou ao profundo, comovente e esplendoroso mergulho na essência do que é afinal isso da portugalidade através da vida do velho Silva em "Rio Corgo", de Maya Kosa e Sérgio da Costa, vencedor justo do Prémio Liscont para Melhor Filme da Competição Portuguesa, sem esquecer um outro mergulho, este nas profundezas da mente humana, do perturbador e disruptivo "Talvez Deserto Talvez Universo", de Miguel Seabra Lopes e Karen Akerman (vencedor do Prémio Íngreme e Menção Honrosa atribuídos pelo Júri da Competição Portuguesa). De muita saúde e com excelentes espaços de programação nesta edição do Festival, o cinema documental português parece definitivamente impulsionado para chegar ao grande público.

"Rio Corgo", de Maya Kosa e Sérgio da Costa, vencedor do Prémio Liscont.

E é esse um dos grandes méritos da Apordoc, entidade organizadora do Doclisboa. Porque um Festival de cinema é muito mais do que apenas mostrar filmes e muito mais do que uma semana de mal dormir, comer bifanas, andar com convidados de um lado para o outro, estar constantemente à beira do AVC porque um filme ainda não chegou, as legendas não estão prontas, os mateiais gráficos estão atrasados ou o voo do realizador que tem de estar na sessão às nove e meia, ainda não aterrou e já são oito da noite…Um Festival de Cinema é um acto de pedagogia, de criação de públicos, de interacção com a cidade e com as instituições que no País e na Europa tentam todos os dias fazer com que esta coisa do cinema não seja só entretenimento. Bastou aos mais atentos andar discretamente pelos corredores da Culturgest, do São Jorge, da Cinemateca ou do Cinema Ideal, observar e ouvir, para perceber que o impacto do Doc nos jovens aspirantes a realizadores, produtores, jornalistas…é muito maior do que a soma dos bilhetes que lhe enchem as salas. O impacto é sólido e o Festival também. 2016 está já aí ao virar da esquina, o Doclisboa já está outra vez na nossa agenda.

Podem consultar o Palmarés do doclisboa 2015 aqui. E entre os dias 2 e 15 de Novembro espreitem o portal Doc Alliance Films onde podem encontrar uma mostra de cinema português em free streaming. "A Lã e a Neve", de João Vladimiro, "Mio Pang Fei", de Pedro Cardeira, "Um Filme Perdido", de Eduardo Amaro "O Indispensável Treino", de Filipa Reis e João Miller Guerra, "Triângulo Dourado", de Miguel Clara Vasconcelos e "Ilusão", de Sofia Marques, são as escolhas.