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Μodă

Pele de animais ou pele sintética?

Investigámos o impacto ambiental da produção de couro sintético e de pele real. Qual dos dois processos é mais prejudicial?
Philippe Jarrigeon

O uso de roupas feitas com pele falsa pode ser considerado tanto uma declaração política como um fashion statement. Quando uma celebridade, ou até mesmo um amigo teu as usa, não podes deixar de pensar que deve ser o tipo de pessoa que se preocupa com os animais. Mas também pode ser a típica pessoa que vai de carro até à loja da esquina ou que deixa o ar condicionado ligado todo o dia. Ou seja, usar couro sintético significa escolher um estilo de vida (sem crueldade), que prioriza a ética sobre a estética. É isso? Muita gente não está ciente de que a fibra acrílica - o componente principal com a qual a pele falsa é feita, é prejudicial para o planeta. Na verdade, a Comissão Europeia publicou um relatório em 2014 no qual comparou o impacto ambiental de nove fibras diferentes e, de acordo com o estudo (que incluiu temas como o impacto sobre as alterações climáticas e a saúde pública), a fibra acrílica provou ser a mais prejudicial. Então, porque temos a sensação de que usar peles falsas é melhor para o meio ambiente? Nos anos 60 e 70, os primeiros grupos de direitos em favor dos animais estavam estreitamente ligados a organizações ambientais. Num anúncio da Vogue, a marca Timme-Tation vendia pele de tigre sintética com esta frase: "A pessoa que comprou recentemente um casaco com a pele de 10 tigres, está ciente de que existem apenas 590 vivos?".

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Hoje em dia, com o aumento de leis que protegem as espécies ameaçadas, o movimento pelos seus direitos tem um maior impacto. Grupos como a PETA lutam diariamente contra o uso de animais para qualquer finalidade. Na década de 90 as peles falsas tornaram-se moda com a ajuda das super-modelos, que protagonizaram campanhas em defesa dos direitos dos animais. Quem se pode esquecer da Cindy Crawford apenas com um chapéu de pele de cordeiro do Todd Oldham?

A pele sintética não tem o prestígio que alcançou a nudez daquela super-modelo - nem a PETA -, mas naquele momento as campanhas tiveram resultados muito positivos; de facto, em 1991 os casacos de vison valiam metade do que que valiam nos anos 80. Em resposta, as indústrias de peles canadianas lançaram sua própria campanha de marketing com o slogan "a pele é verde."

O argumento foi o seguinte: a pele é uma fibra natural biodegradável que vem de um recurso renovável quando os animais são tratados adequadamente e beneficia os empresários locais. Por outro lado, denunciavam o facto das peles sintéticas serem conhecidas por poluir o ambiente, para além de serem feitas com materiais não renováveis.

Muitos furriers defendem estes argumentos em páginas como a FurlsGreen.com, uma plataforma impulsionada pelo Conselho de Peles do Canadá. Pura propaganda? Os activistas compreendem perfeitamente estas tentativas: "Estão a tentar por todos os meios, porque sabem que existe uma crise na indústria da pele", disse Rob Banks, activista vegano que vive em Nova York. Numa declaração recente, a PETA alegou que "cada casaco deveria levar uma etiqueta de aviso em que se pudesse ler: 'Tóxico para os animais e para o meio ambiente'. Gasta-se 15 vezes mais energia para fabricar um casaco de pele original que um de pele falsa. "

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O problema é que esta afirmação não é totalmente verdade, pois a PETA baseou-se num estudo realizado em 1979 por um grupo de proteção animal. Mas isto não significa que os dados da indústria de peles sejam melhores do que esses. A verdade é que parece ser bastante difícil chegar ao fundo da questão quando tudo que existe são estudos tendenciosos que foram encomendados por organizações relacionadas com qualquer uma das partes interessadas.

Enquanto isso, fontes independentes, como a Comissão Europeia, ainda não contemplaram o impacto do uso de peles de animais nos estudos de sustentabilidade, mas que, por sua vez, medem as consequências da industrialização do acrílico e de outras fibras.

Um ponto a favor das peles artificiais é que, apesar do aspecto negativo da fibra acrílica, representam uma percentagem mínima do impacto ambiental total. O uso de acrílico significa apenas 10% da produção total de vestuário, de acordo com o relatório da Comissão Europeia, e as peles sintéticas uma percentagem ainda menor.

Então, porque é que são atacadas pela indústria de peles? Alan Herscovici - actual vice-presidente executivo do Conselho de Peles do Canadá - reconhece que não é "contra a pele sintética, isso seria uma tolice". A única razão pela qual os grupos formados pelas indústrias de peles atacam as organizações animais é que eles defendem que uma fábrica é menos nociva para o meio ambiente que um grupo de activistas.

Enquanto isso, os manifestantes pelos direitos dos animais estão dispostos a admitir que a pele falsa pode não ser tão boa para o planeta; afinal de contas, essa não é a sua principal preocupação. "O problema com a pele não é o meio ambiente, mas o uso da pele dos animais", diz Banks.

Noutras palavras, se um casaco de pele sintética de raposa faz com que alguém deixe de comprar um de pele genuína é algo que pode ser considerado uma vitória.

Este artigo foi inicialmente publicado em i-D.