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Reportagem #9999 sobre uma manif

Passa a comprar Hermés com o teu guito, Lagarde.

Eu sei que estão a pensar “Oh não, outra reportagem sobre uma manif”, mas prometo que nesta tentarei abordar perspectivas que não têm vindo a ser levadas em conta pelos melhores jornalistas deste país, isto porque é feita por mim, que sou tão boa jornalista como patinadora de gelo, e, portanto, será melhor não se porem à minha frente quando estou a fazer uma destas actividades. Além do mais, se na última manif a maioria dos cartazes davam vontade de adormecer, este sábado, dia 13 de Outubro, na praça D. João I foram apresentadas algumas sugestões gráficas mais interessantes do que o habitual:                
Atenção, cantarolar ao mesmo tempo que se lê: “Venha ao Pingo Doce de Janeiro a Janeiro, não aceitamos multibanco abaixo dos 20 euros, mas vendemos bom coelho.” Foi no âmbito do movimento “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas” que foram organizadas manifestações em 24 cidades do país, o que demonstra uma aparente unanimidade de insatisfação com a política económica corrente, o que é incompreensível,  principalmente quando o orçamento de estado de 2013 prevê cortar três escalões de IRS, o que significa que alguém que aufira a fortuna anual de 4898 euros vai passar a ser sobretaxado em três por cento e os milionários no escalão dos 7000 anuais comem com uma sobretaxa de 14,8 por cento.Trata-se de medidas atenciosas que visam estimular o pessoal que tem vindo a aderir ao tabaco de enrolar a deixar este vício de vez, juntamente com o das compras, do álcool e, já agora, por que não esse da alimentação. O governo quer fazer de nós um povo macrobiótico e o pessoal teima em não curtir feijões. A juntar a isto, parece haver gente que não está a apreciar ver a actividade cultural reduzida a iniciativas privadas institucionais comerciais. Enfim, parece que o Jesus Cristo Superstar no Rivoli não lhes chega. Austerity Rabbitz: vendo este pack que inclui nome/capa de álbum para banda de metal verdadeiramente chunga a preço de amigo. É por estes motivos e mais alguns que a população começa a revelar uma falta de nível injustificável, pois os cortes apontados são sensatos, principalmente para quem ganha o quíntuplo. Portanto, foi com algum pudor que me fui movimentando por entre uma massa de gente ingrata, que precisava de uma auditoria da Paula Bobone antes de realizar cartazes tão injustos para com os grandes líderes da nossa nação: O governo não fode, o governo faz amor. No entanto, uma agregação popular nunca é só feita de cartazes. O principal são as pessoas. E toda a gente sabe que onde há manifs, há freaks e onde há freaks há cães, que estavam particularmente indignados com a situação do coelho crucificado: “Não tive nada a ver com a cena do coelho, mas disseram-me que o perdigueiro do outro lado da praça é ultraortodoxo”. "Juro que não sei nada sobre o que se passou, mas, aqui entre nós, o pitt bull terrier ali à frente é muçulmano.” Além de freaks, uma manif junta uma fauna diversificada, o que significa que a probabilidade de encontrar gente esquisita também é maior do que em circunstâncias normais: Olá, jornalista séria da RTP. Afinal, defendes mulheres ou tigres? Conhecem aquele filme do Bertollucci, Um Chá no Deserto? É mais ou menos esse o espírito… Cheguei ao fim do dia com a sensação de que a nossa capacidade de ressabiar está a evoluir de manif em manif. Não tarda muito e atingimos o nível do pessoal de Belfast ou do País Basco e começaremos a dominar a arte do cocktail molotof. Nem que seja pela indignação que o bronze da Cristine Lagarde suscita. Sim, é imperativo retirar o nívea de cenoura das mãos dessa gaja e quem melhor do que o pessoal deste país à beira mar plantado? Até porque chegar à India deve ter sido mais difícil.