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Μodă

Ser fotógrafo de moda em Portugal, segundo Ismael Prata

Investiu todo o seu tempo, dinheiro e energia nesta paixão, e em 5 anos transformou a sua profissão em forma de estar.

O IsmaelPrata é fotógrafo de Moda, e na minha opinião um dos mais promissores em Portugal. A fotografia começou como um hobbie enquanto trabalhava num atelier de arquitectura. Investiu todo o seu tempo, dinheiro e energia nesta paixão, e em 5 anos transformou a sua profissão em forma de estar. Falámos com ele para entender quais as aprendizagens e os passos a seguir no mundo da fotografia de Moda.

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VICE: O que é que te fez trocar a arquitectura pela fotografia?

Ismael Prata: Foi um processo gradual, demorou cerca de dois anos. Ao longo desse tempo fui tomando decisões, e foi começando a surgir um tipo de mercado que procurava o meu trabalho. Num determinado momento resolvi deixar o atelier e optar pela fotografia. No fundo é uma questão de foco. Acredito que para desenvolver um projecto se tenha de estar 100% disponível. Foi arriscado, era uma paixão, mas so far so good!

Tens alguma declaração de honra, algo que nunca faças?

Até tenho várias, mas a principal é (citando um professor de arquitectura que tive): "onde se ganha o pão, não se come a carne". Se arrisquei tanto para estar onde estou hoje não faz sentido deitar tudo a perder por quaisquer problemas pessoais ou mexericos, são coisas insignificantes face ao amor que tenho pelo meu trabalho. Costumo dizer isto em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade, claro.

Em que mãos está o futuro da Moda?

O futuro da Moda…gosto de acreditar que está no sangue novo. Acho que acrescenta pontos de vista inéditos, e isso está a mudar o panorama da Moda de uma forma global. Mas talvez eu ainda seja um bocadinho verde para falar sobre este tema.

Depois de seis anos na fotografia, qual foi a coisa mais importante que aprendeste?

É difícil hierarquizar todas as lições que se tiram deste tipo de experiência. Talvez a mais básica seja que parado não se produz nada. Outra é ter bem claro que, quando reúnes menos condições, é preciso fermentar o processo criativo de outra forma. Gera-se uma evolução, e consequentemente resultados inesperados, e isso é sem dúvida uma constante aprendizagem.

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Parte do meu processo criativo é um pouco como cozinhar. Imagina que te dão oito ingredientes com os quais tens de elaborar um prato. Há os principais, e os outros, que estão lá para complementar. No entanto, todos fazem parte do mesmo bolo, todos são importantes para o resultado final. Desde a localização, styling, modelo, make-up, duração do trabalho etc… Embora estejamos habituados a fazer omeletes sem ovos, este não é um trabalho a solo, jamais! Muitas das vezes, um trabalho que é atribuído a mim não seria possível sem a gigante colaboração do backstage.

Que fotógrafo nacional tem um futuro promissor? E onde te vês daqui a 5 anos?

Sinto a minha evolução, mas não quero classificar alguém como estando atrás de mim no tempo. E como vivemos num bairro, e as pessoas são muito sensíveis, prefiro não ferir susceptibilidades. Como te disse há pouco, uma das regras que tenho é não comentar o trabalho dos meus colegas. Trabalhamos num meio onde adoram apontar o dedo, eu acho que isso é uma doença bem portuguesa, chamada inveja.

Onde me vejo e onde gostava de me ver, são cenários bastante distintos. Há três anos atrás achava que hoje em dia estaria um bocado mais à frente. Mesmo tendo evoluído e crescido enquanto profissional não cresci tanto quanto queria. É quase impossível, a menos que saia do mercado nacional. Muito do que consumimos é importado, e como tal, o mercado que por cá temos é relativamente pequeno. Auguro algum crescimento nos próximos 5 anos, mas terá de passar necessária e obrigatóriamente por uma exportação de talento e do meu trabalho.

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Quais os maiores obstáculos que encontras? De certa forma já tenho a minha resposta mas…

Acrescentaria talvez a questão financeira, e claro, os lobbies.

Achas que para além de termos um nicho de mercado pequeno, existem lobbies fortes?

Claramente. Este é um mercado com alguns anos, mas cujo crescimento mais substancial aconteceu nos últimos dez. Nessa altura, quase na génese da primeira edição da Moda Lisboa, já se tinham formado os primeiros lobbies, e isso é bastante difícil de ultrapassar. O facto de ser um nicho tão fechado quase incentiva este método. Chamo-lhe método, embora seja absurdo, mas é o que é! Uma vez mais, parece que estamos num bairro. Os novos profissionais têm dificuldade para conquistar o seu lugar no mercado. Já passei mais por isso. Neste momento procuro trabalhar com pessoas em quem confio. Apesar de ter o meu próprio "bairro" tento sempre fugir aos lobbies. São fontes de pouca criatividade, pouca dinâmica e pouca competitividade. Faz-nos reféns de maus trabalhos e de maus cachés. São um encosto.

Como descreverias o teu trabalho a alguém que nunca o tivesse visto?

Embora haja quem diga que ao olhar para o meu portfólio encontra uma linguagem e uma linha, eu acho que sou influenciado por imensos fotógrafos e vários estilos de fotografia. Como ainda me considero em fase embrionária, acabo por experimentar muito.

Por outro lado, há coisas que procuro de forma constante no meu trabalho, correndo o risco de cair em clichés. Procuro um trabalho bonito, sexy, elegante. Há trabalhos em que tenho de exacerbar a sexyness, e outros em que tem de parecer mais haute couture e tenho de encontrar sempre um equilíbrio. Defino-o como sendo bonito, sexy, vibrante e enérgico.

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10 palavras chave, quero o teu feedback.

#1**** *Máquina -* Fotográfica

#2**** *Tempo -* Brainstorm

#3**** *Foco -* Lente

#4**** *Beauty -* Intemporal

#5**** *Modelo –* (Ahahah! por que letra do alfabeto?) Edita Vilkeviciute

#6**** *Cor -* Preto

#7** Tangle Teezer** - (AHAHAH) no comments…

#8**** *Estúdio -* Segunda Casa

#9**** *Fotógrafo -* Modo de vida

#10** Localização** - Nova York

Qual é a tua melhor fotografia?

É tão difícil, mas pensei nisso há pouco tempo. Chama-se "Kissed by fire". É a Joana Castro, da Elite Models. Foi um test shoot na praia em Leça da Palmeira, num dia de muito nevoeiro. E para mim é beleza intemporal!

A Maria Íris Sobral é Make up Artist em Lisboa. Segue o trabalho dela no seu site.