Este especialista em Modificação Corporal inventou uma técnica assustadora para manipular a pele
All images courtesy of Yann Brenyak. Above photo by Henry Miles.

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Este especialista em Modificação Corporal inventou uma técnica assustadora para manipular a pele

Yann Brenyak desenvolveu uma inovação, que consiste na remoção gráfica da pele.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE UK.

Nascido na Suíça e instalado em Londres, o artista de modificação corporal Yann Breniak tem a cara coberta de micro implantes dérmicos, sobrancelhas manipuladas, faixas de tinta e escarificações, uma caveira gigante na testa e a língua bifurcada que agita como uma serpente. Se navegarem pelo seu Instagram ou Tumblr encontrarão imagens dele a "descascar" a pele dos seus clientes como se fosse uma batata carnuda, ou a colocar implantes de metal nos seus peitos.

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É um trabalho que desafia os limites da modificação corporal, e isso acabou por criar um certo culto de seguidores à volta do artista, e por levá-lo a viajar com frequência pelo mundo para desenvolver residências artísticas em estúdios de Arte Corporal.


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Embora a remoção de pele ou a escarificação não sejam práticas propriamente recentes, Brenyak está a testar estas formas através da realização de "retratos de pele gráficos", um processo que envolve cobrir o cliente com uma espécie de manga de tinta antes do artista esculpir uma silhueta na tatuagem com um bisturi. A arte que daí resulta, e que representa, na maior parte das vezes, rostos humanos, assemelha-se a uma tatuagem invertida, conseguida através de técnicas de separação da pele, peeling, escultura e remoção.

Quis saber mais sobre como é que o artista entrou neste território - claramente um nicho - e acabou por criar o seu próprio espaço. Fui falar com ele e explicou-me como acabou por construir uma carreira ao seguir a sua paixão.

"Toda a gente pensa: Oh Meu Deus, estás a destruir o teu corpo de uma maneira dolorosa. Pareces um freak… blá, blá, blá", diz-me Brenyak durante uma chamada de Skype enquanto estava, entre intervenções, numa visita a um estúdio de tatuagens em Sacramento. E o artista não só foi bastante aberto e gentil, como também bastante fofinho, numa perspectiva espiritual - até quando abriu a boca e me mostrou a língua bifurcada em jeito de brincadeira. "A minha mãe nem sabe que tenho a língua assim", contou-me.

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Perguntei-lhe se achava que o público entendia correctamente os objectivos e as motivações que levam alguém a querer modificar o corpo. "Isto não é mais extremo que uma cirurgia plástica, e é menos doloroso", disse-me com o seu sotaque cerrado. "Até podes dizer que rapar uma sobrancelha é radical, não é?".

E continuou num tom que por esta altura parecia mais educativo do que propriamente defensivo. "As pessoas passam por muita mais dor ao irem ao ginásio todos os dias, para se transformarem numa montanha de músculos. Cobrir o corpo com tinta ou cicatrizes pode ser mais benéfico no que toca a sentirem-se bem na pele na qual nasceram".

Brenyak interessou-se por modificação corporal quando em miúdo viu na internet uma imagem de alguém super tatuado a fazer suspensão corporal. Ficou imediatamente encantado com a ideia e perguntou ao pai se podia fazer uma tatuagem. Quando lhe foi dito que era demasiado novo a madrasta começou a cobrir-lhe as costas com "henna", uma tinta temporária. A paixão escalou. "Modificar o meu corpo tem sido um desejo interior durante toda a minha vida", disse-me. "Sempre me pareceu excitante que uma pessoa possa modificar o corpo como queira e tornar real uma fantasia".

Brenyak estagiou como body piercer no Estúdio Tribe Hole, na Suíça, onde conheceu o artista de modificação corporal Lukas Zpira, tornando-se seu aprendiz. Rapidamente aprendeu uma variedade de técnicas, como os implantes dérmicos, a escarificação, reconstrução de lóbulos de orelhas de clientes que queriam reverter os alargamentos, ou a marcação de carne - um procedimento que evita, devido ao cheiro a pele queimada. Em 2011 mudou-se para Londres e trabalhou numa série de lojas, como a Hammersmith Tattoo, Body Temple, The Lacemakers Sweatshop e a Iron & Ink. Locais onde apurou as suas aptidões. A dada altura começou a desenvolver a remoção gráfica de pele.

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"Depois de praticar extensivamente nas suas próprias pernas, em 2013 Brenyak completou com sucesso o seu primeiro retrato gráfico de pele, uma imagem de Björk".

"Foi-me dito que nunca poderia ser feito", diz, ao falar da técnica que é parte tatuagem, parte cicatrização cirúrgica. Mas a sua antiga sócia e amiga, Delphine Noiztoy, da The Lacemakers Sweatshop, encorajou-o a continuar a experimentar e a testar os limites. "Uma vez disseram-lhe que ela nunca conseguiria criar tatuagens de retratos com pontos, mas ela continuou, até conseguir. Ela ensinou-me que nada é impossível na modificação corporal e a minha obsessão em dominar a ideia (da remoção gráfica de pele) acabou por chegar a um ponto de concretização. Através dela aprendi que não há limites para a minha arte".

Depois de praticar extensivamente nas suas próprias pernas, em 2013 Brenyak completou com sucesso o seu primeiro retrato gráfico de pele, uma imagem de Björk. Desde então usou a sua técnica para criar uma variedade de rostos e desenhos geométricos que parecem formas fantasmagóricas que surgem da pele das pessoas. Enquanto aplica esta técnica garante que se sente como se "o mundo lá fora se encerrasse". "Entro numa espécie de estado de graça. Perco-me no ofício".

Contactei Lefio Bardolph, um micologista londrino de 26 anos que trabalhou com Brenyak várias vezes, e que foi quem recebeu o primeiro retrato do artista. "Há muito tempo que não via ideias tão frescas como as de Yann e acho que a paixão e dedicação à sua forma de arte é o que atrai pessoas de todo o mundo. É algo que podes distinguir perfeitamente: alguém que se rende ao mercado, ou alguém que desafia as probabilidades para se manter fiel à sua visão. É um gajo do caraças e tem toneladas de carácter para juntar àquela carinha laroca".

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Depois de ter as orelhas e os lóbulos afiados por Brenyak, Bardolph fez o retrato de Björk no braço. "Estava ligeiramente ansioso antes da intervenção, porque tinha feito uma cicatriz dorsal", recorda. "Estava mais assustado e saltava ou torcia-me na cadeira na altura de cada corte mais decisivo, por não estar habituado à sensação".

Bardolph descreve o procedimento de sete horas como uma colaboração, e explica que o único ponto em que estiveram em desacordo foi acerca de quando fazer uma pausa. "Eu tinha fome, e ele não queria parar, mas foi um trabalho de equipa!". Bardolph conta-nos que Yann também ajudou na versão final do desenho. "Foi uma grande influência, quase tanto como eu."

Os dois colaboraram noutros trabalhos, sendo o mais recente o perfil de uma mulher, feito num ombro, usando uma técnica de tinta sobre pele removida. "A atmosfera que se cria quando se trabalha em conjunto—seja de que tipo for—é essencial para mim sempre que é preciso enfrentar um novo desafio. É algo que nunca esquecerei, isso, e quando ele se metia comigo porque me queixava depois de algum corte inesperado."

Falei com outro artista chamado Shiva, que é amigo e colega de Brenyak desde que este se mudou para Londres. O Shiva também faz escarificação e tatuagens invertidas, mas disse-me que Brenyak é o pioneiro dos retratos gráficos de pele pelos quais ficou conhecido.

"O estilo do retrato gráfico é o seu bebé, e ele é verdadeiro mestre dessa técnica", disse Shiva via e-mail. "Há quem tenha tentado fazê-lo, mas nunca com o mesmo efeito."

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Quando lhe perguntei o que é que o trabalho do Brenyak's representava para esta comunidade respondeu, "Será recordado como o gajo que está sempre a pedir-me material porque se esqueceu de encomendar as suas lâminas e cenas. Não, agora a sério, o Yann está entre os poucos gajos que estão a desenvolver a indústria da escarificação".

"O estilo do retrato gráfico é o seu bebé, e ele é verdadeiro mestre dessa técnica" – Shiva

V. Vale é o fundador de RE/Search e criador de Modern Primitives. Este historiador amador, conhecido por relatar a re-emergente paixão do mundo ocidental pelas artes do corpo, explica que Brenyak poderia ter uma carreira promissora. "Não quero ser exagerado, mas parece que quer expandir a palete, e enriquecer o vocabulário visual daquilo que se pode fazer a um corpo".

Criar imagens através da remoção da pele tem muito que se lhe diga, e Brenyak descreve o seu trabalho como só alguém verdadeiramente apaixonado e entendido na matéria poderia fazer.

"Há dois tipos de pessoas que podem interessar-se pela modificação corporal," disse. "Os que a vêem como uma tendência, e os que estão realmente interessados na cultura, nas origens e na sua história. Os segundos normalmente interessam-se mais pelas sub-culturas e por todo o ritual, e menos por alterar o seu corpo para corresponder a uma determinada identidade. Acho que ninguém deixa que lhe "descasquem" a pele se não for um verdadeiro admirador deste estilo de vida"

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