Angel Wicky, uma das performers da escola de Leicester.
Quanto dinheiro é que gastas em pornografia? A não ser que gostes mesmo, mesmo de te masturbar, provavelmente a resposta será "nada". Os sites gratuitos obrigaram os trabalhadores do ramo a terem que ser mais criativos para conseguirem transformar sexo em dinheiro. Steve Steele, director de vídeos porno e o criador do Porn Weekender, é uma dessas pessoas.
Como não deves saber daquilo que estou a falar, passo a explicar: o Porn Weekender é um negócio de porno interactivo que oferece a um punhado de consumidores a possibilidade de verem, dirigir e participar na cena que interessa. Alguns destes consumidores são aspirantes no ramo, outros são simplesmente gajos que acham que ver pornografia em casa é demasiado solitário.
Estes fins-de-semana geralmente acontecem em Praga, onde por 1200 euros garantes um lugar no “set” e um quarto para dormires. Mesmo assim, tendo em conta que 80 por cento dos clientes são do Reino Unido, mais valia fazer esses fins-de-semana por Londres (ficava mais barato para todos). Mas adiante, há umas semanas fui à edição inaugural do Porn Weekender para sentir o que é ver pornografia a sério.
Profissionalismo.
Conheci o Steele num estúdio fotográfico nos subúrbios cinzentos de Leicester e ele apresentou-me os dois galeses aspirantes a realizadores pornográficos (curiosamente, chamavam-se ambos Steve). Também conheci uma das duas artistas, a estrela porno Angel Wicky, da Republica Checa.
Enquanto esperávamos pelos outros convidados, o Steele falou-me da sua história de vida. "Entrei na Indústria por acidente” disse ele. “Andava a fazer instalações de camaras de segurança na Republica Checa e uma das companhias para quem estava a trabalhar entrara em falência e não me podia pagar. Para repor a divida, deram-me acções de um estúdio pornográfico com dificuldades financeiras. Quando conto esta história no Reino Unido, todo me perguntam, “'Há hipótese de conhecer essas aves raras?'"
De seguida assisti a uma pequena sequência chamada “I Party With Pornstars”, onde, tal como nos “Porn Weekender”, o Steele coloca aos dispor dos clientes, entre outros extras, umas modelos checas e garrafas de champanhe para os clientes abrirem numa limusine. Como é óbvio, a maioria dos clientes estavam com esperança de entrar na indústria (tipo, eles próprios na acção). Mas como a maioria dos clientes eram homens de alguma idade e de cidades periféricas do Reino Unido, sem contactos, a intenção eram praticamente impossível de se concretizar. Foi neste contexto que nasceu o evento Porn Weekender.
"The Chairman".
Ao meio-dia, os convidados começavam a chegar. Primeiro pelas portas de um estúdio pertencente a um duo padrasto/filho, Steve e Rick. Steve era um aspirante a garanhão, e descrevia uma carreira em pornografia como “um sonho para qualquer homem”. Depois entrou em cema um quinto “Steve” seguido por um duo local: “The Chairman” — a alcunha no ramo, provavelmente porque anda de cadeira de rodas — e o seu amigo que não quer revelar a sua identidade.
Todos eles estavam ali porque queriam ver como a pornografia era atrás da câmaras — se existe, de facto, glamour na foda dirigida por um guião ou se avisos constantes de DSTs fazem alguma diferença. Infelizmente, o dia começava a dirigir-se para o desastre, a outra modelo — uma atriz muito morena chamada Chantelle Fox estava atrasada porque não conseguia encontrar uma ama (a rapariga de recurso já tinha cancelado de manhã). Outro dos garanhões também desapareceu e o padrasto Steve — que inicialmente se tinha voluntariado a actuar — também tinha desaparecido.
Enquanto esperávamos. o Steele sugeriu que a Angel começasse a aquecer o ambiente com uma cena de masturbação a solo. Depois das rotina de pré-produção — validar os certificados de saúde e fotografar o BI da actriz — foi nos dada a oportunidade de fazer a realização da cena, passo a passo. O maior dos dois Steves, entretanto, fora enviado para motivar o nosso aspirante a actor a sair do seu estado não-erecto do qual não conseguia sair.
Pediram-nos que escolhessemos um “brinquedo” para a Angel de entre pilas de plástico e um berbequim eléctrico com um pénis de borracha na ponta. Também nos deram a oportunidade de escolher se a cena seria tipo “gonzo” ou se deveria envolver uma história cliché na qual a Angel encontraria por acaso um dildo debaixo da almofada e decidia simplesmente usá-lo. O pessoal optou pela história tipo “gonzo”.
Até aqui o ambiente tinha sido bastante leve e sociável, mas assim que Steele gritou “Acção”, instalou-se uma muito desconfortável tensão sexual naquele quarto. Apesar da lubrificação e o uso peculiar de ferramentas de bricolage, era impossível não chegar à dura realidade de que, na verdade, estar entre estranhos enquanto uma mulher se masturba à tua frente não é particularmente agradável.
Depois de mais ou menos 15 minutos a evitar contacto visual, a cena acabou e, antes de nos dizerem que a Chantelle tinha de ficar por casa com a sua criança e não poderia vir, fomos convidados a comer umas sandes algo deprimentes.
O Steele pediu-nos imensas desculpas e até se comprometeu a reembolsar aqueles que se sentissem injustiçados. Depois começou a criticar as modelos Inglesas, “É por isto que evito trabalhar com raparigas Britânicas — são muito pouco profissionais”, dizia, “Temos um nível de vida bastante razoável comparado com outros países, portanto não existe uma necessidade real para entrar no mundo da pornografia. Ou são raparigas muito porcas — o que é ok — ou são doidas. Na Europa Oriental, não existe esse estigma, as raparigas vêem a hipótese de entrar nesse mercado como uma decisão económica. Na Inglaterra, as melhores vão para a América, e nós ficamos com as piores."
Três horas depois do início do evento, o "Eddie Sharpe” chegou. O padrasto Steve já tinha desistido e todas as nossas esperanças recairam na ereção de Eddie. Ele saiu para tomar uns comprimidos de Cialis, e depois foi algemado à cabeceira da cama. Infelizmente para o Eddie, ainda que as drogas o ajudem a combater a questão física da disfunção erétil, não retiram a pressão psicológica de ter dez pares de olhos apontados aos teus genitais.
Enquanto ele desapareceu para a parte de trás do estúdio, o ambiente ficou sombrio — o dia tinha corrido mal e só queríamos que acabasse. Enquanto esperávamos pelo Eddie, o Steele continuava á volta no estúdio a pensar que mal teria feito a deus para ter um dia tão fodido.
Numa tentativa para salvar a cena. Ligaram ao Steve, implorando-lhe que saísse da reforma e fizesse uma ultima actuação. Depois de um momento de introspecção, o Steele saiu determinado pela porta, de berbequim-pênis plástico na mão. Agarrou na cabeça do Eddie e pô-la ao nível da vagina de Angel e mostrou-lhe como se utiliza aquela ferramenta, como um pai a ensinar ao filho como passar um fio pelo buraco da agulha. Foi verdadeiramente perturbador.
Depois de um orgasmo falso, ainda tivemos direito a um final tipo Hollywood. Muitos de nós saímos daquele set como homens diferentes. “Vê-lo ao vivo, não te deixa propriamente excitado sexualmente” disse o Padrastro Steve, encarando as duras realidades da indústria porno. “Estou bastante surpreendido com o facto deles poderem simplesmente não estar excitados e começar a fazer de conta que estão. Se vir porno agora em casa, irei refletir no que vi hoje".
Rick, o seu filho, por outro lado tinha algo a dizer num registo feminista. “Antes, pensava que a pornografia denegria a tua imagem perante raparigas com pouca autoestima. Mas agora já não“ disse ele. “Devemos respeito à rapariga que aqui esteve hoje, é uma actriz a fazer um trabalho, e ela é muito boa a fazê-lo.” No cômputo geral foi um dia muito estranho. Há algo depressivo quando vês um grupo de homens crescidos aborrecerem-se porque uma rapariga que esperavam ver a masturbar-se tem de ficar em casa a tomar conta da sua criança. E Steele seria o primeiro a admitir que o dia tinha sido uma desgraça. Vi vídeo dos seus “Prague Weekenders” e tudo parece fazer muito mais sentido, quando está a 900 milhas do subúrbio de Leicester.
Dito isto, não consigo deixar de achar que porno ao vivo é um conceito que se autodestrói. Toda a gente sabe que é falso, portanto, qual é o objetivo de despir o mito? Se houvesse uma coisa a dizer acerca do Porn Weekender, é que me fez perceber o quão divertido pode ser sexo na vida real.
Fotografia por Isabelle Andarakis.
