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2014 Foi o Ano dos Assassinos Seriais Brasileiros?

Execuções a céu aberto em Goiânia, degolamentos em São Paulo e facadas em Nova Iguaçu, o Brasil realmente teve o ano mais macabro possível.

Primeiras imagens do motoqueiro de Goiânia. Crédito.

Se você perguntar para qualquer pessoa sobre 2014, certamente o assunto "morte" vai estar no Top 10. Não é pra menos: além do falecimento de diversas celebridades nacionais e internacionais, estima-se que mais de 90 pessoas foram executadas brutalmente por assassinos em série do Brasil em pontos diversos do país.

Um número tímido, levando em conta, por exemplo, os 56 mil homicídios em solo nacional no ano de 2012, segundo o Mapa da Violência (lembrando que 77% dos homicídios no país são de jovens negros), mas, ainda assim, trata-se de um número expressivo. Os assassinos seriais sempre são alvo de curiosidade da mídia e população em geral, embora, segundo o FBI, representem menos de 1% dos matadores do mundo.

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As chances de você ser morto por um maníaco homicida são baixas. Quer dizer, se você for uma mulher, trabalhador do sexo, homossexual ou morador de rua, as chances acabam aumentando um pouco mais. Mas, sim, você também pode ser aquela pessoa que estava na hora e no lugar errados.

Segundo o psiquiatra forense Guido Palomba, crimes em série são comuns no mundo inteiro. "Não existe nenhum serial killer verdadeiro se não houver uma perturbação da saúde mental. Elas são iguais aqui e em qualquer outro lugar no mundo."

Goiânia foi uma das cidades que tirou a loteria da desgraça. Quinze mulheres foram executadas a céu aberto por um homem misterioso que pilotava uma moto preta. A cidade estava em alerta até que,no dia 8 de agosto, o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha foi capturado pela polícia local e confessou a morte de 39 pessoas (embora tenha reduzido dias depois esse número para 29).

Jovem e de boa aparência, a captura do vigilante foi difícil, porque ele costumava trocar a placa de sua moto e andava com o rosto coberto. Uma novidade, considerando que a premeditação do jovem mostra um pouco mais de sofisticação no exercício de se matar. "É um verdadeiro psicopata," explica Palomba. "Não demonstra nenhum remorso pelos seus crimes."

Crédito.

Se as autorias das mortes forem comprovadas, Tiago será considerado um dos serial killers mais letais da história moderna, segundo o criminalista americano Scott Bonn. Irá superar John Wayne Gacy (o cara que fez todo mundo sentir bastante medo de palhaços), Ted Bundy e o Vampiro de Niterói, um dos casos mais assustadores do Brasil – mas ainda vai ficar atrás de um cara fofinho da Ucrânia, responsável por 53 mortes, chamado Andrei Romanovich Chikatilo.

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De acordo com o psiquiatra, existem dois tipos de assassinos em série. O primeiro é representado por aqueles com uma perturbação da saúde mental, como a psicopatia, que é um distúrbio de personalidade. Já o outro tipo é uma pessoa que tem uma doença mental propriamente dita, como, por exemplo, a esquizofrenia.

Em um caso, o indivíduo consegue se camuflar facilmente na sociedade. Já o portador de certas doenças mentais se mostra mais inapto para a vida coletiva. Porém, como ressaltou o psiquiatra, "a maioria absoluta dos psicóticos não são portadores de periculosidade social. Não é porque tem esquizofrenia ou psicopatia que vai ser serial killer".

Outro caso de assassinatos de série é assinado por Jhonatan Lopes de Santana, que decapitava suas vítimas em São Paulo com a ajuda de uma machadinha. A "missão" do jovem de 23 anos de idade era dizimar a "parcela podre" da sociedade.

A completa ausência de premeditação de Jhonatan, que confessou ter matado seis pessoas, demonstra um padrão bastante comum de serial killers. Essa informação pode acabar um pouco com a imagem do assassino sedutor, inteligente e eloquente a lá Dexter ou Hannibal a que estamos acostumados.

"O serial killer inteligente, sedutor, é uma fantasia criada pelo cinema, pelas novelas e por seriados. Eles não são assim: eles sempre deixam rastros e pistas. E é por isso que eles são pegos até com uma certa facilidade",frisa Palomba.

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Um exemplo da facilidade de deixar rastros de crimes é Sailson José das Graças, de 26 anos, que foi pego em flagrante quando esfaqueou Fátima Miranda em Nova Iguaçu. Prestando depoimento à polícia, Sailson diz ter matado 42 pessoas - 38 delas, mulheres brancas.

Entretanto, embora a polícia já se mostre convencida da autoria dos crimes, Palomba alerta que nem todos podem ser verdade. "Ele é um falastrão. Até agora, apenas sete mortes (que não são poucas) foram confirmadas. Acho que a polícia pode ter se precipitado um pouco nesse caso em declarar que ele matou esse número de pessoas," opina.

"O que resta investigar é se esse indivíduo é um assassino em série ou um matador de aluguel, que são coisas diferentes," elucida o psiquiatra.

Agora, o que realmente vem em mente é: estamos vivenciando o fim do mundo? Assassinos seriais vão aparecer em progressão aritmética daqui pra frente? Ou a polícia brasileira está ficando mais ligeira na hora de capturar assassinos em série? Segundo Palomba, essa série macabra de eventos trata-se apenas de uma "coincidência temporal".

"A polícia eventualmente captura esses criminosos, é só uma questão de tempo," destaca. "Eles são mais simples de capturar, porque, cedo ou tarde, rastros são deixados para trás."

O problema agora é o que fazer com esses três caras. Sinto informar vocês, mas a cadeia não costuma ser uma opção inteligente para casos nos quais o criminoso é visivelmente inimputável ou semi-imputável. "A verdade é que matadores desse tipo nascem assim e morrem assim. Eles não podem voltar para a sociedade, senão voltam a delinquir. A opção que eles têm é um manicômio judiciário."

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