A Irrealidade Real de Courtney Stodden

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A Irrealidade Real de Courtney Stodden

Quando me deram a oportunidade de entrevistar e observar Stodden, decidi responder a esse dilema existencial: Como é a realidade de uma estrela de reality?

Quando ouvi falar em Courtney Stodden, achei que ela não era real. Achei que ela era mais uma artista performática do que uma estrela de reality em ascensão nos EUA. Numa era em que likes funcionam como calorias vazias para nossa autoestima, e podemos reciclar qualquer momento da nossa vida como um produto, é difícil determinar o que é real e o que é representação. Quando me deram a oportunidade de entrevistar e observar Stodden, decidi responder a esse dilema existencial: Como é a realidade de uma estrela de reality?

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Interpretar uma versão carregada nas tintas de si mesmo não é algo novo. Estamos imersos na câmara de eco dos "famosos por serem famosos" há décadas, dos astros de Warhol a Angelyne, do elenco de The Real World a Anna Nicole Smith, Paris Hilton e os infinitos Kardashians. Mas a construção de Courtney Stodden me parecia irreal ao ponto da hipérbole. Suas manchetes iniciais em tabloides soavam propositalmente bizarras ("Garota de 16 se casa com ex-ator de 51") e suas opções para fotos meticulosamente calculadas (biquínis em público, saltos de stripper de 20 centímetros o tempo todo, frappuccinos onipresentes), funcionavam tanto como entretenimento quanto como um estudo crítico do espetáculo da feminilidade. Os espectadores podiam entender sua devoção à estética hiperfeminina, e todos os seus desconfortos, como uma apresentação radicalmente feminista. "A Barbie girl in a Barbie world": objetificando a natureza da objetificação um paparazzi de cada vez.

Se minhas hipóteses artisticamente inclinadas estavam corretas, se ela era uma artista performática pós-Paris Hilton, projetando sua vida como uma bola de cristal satírica refletindo a nós mesmos, ela era brilhante. Sua persona é sem dúvida um ato performático – ela vive essa vida todo santo dia. Ainda assim, a questão da intenção ainda pairava: se o artista não está consciente da arte que está sugerindo, isso ainda é arte?

Falei com Stodden por e-mail, numa tentativa de discernir o que ela traz para a mesa quando faz a representação que é sua vida.

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[Devo apontar que todas as minhas perguntas foram pré-selecionadas e monitoradas (e provavelmente respondidas) pela onipresente "mãe de miss" de Stodden, Krista. Tenha isso em mente para avaliar a "realidade" da nossa correspondência.]

VICE: Como é um dia normal para você?
Courtney Hutchison: Acordo por volta das 10 horas, escovo os dentes, lavo o rosto, abraços meus bebês peludos (Cupcake e Dourtney), confiro as redes sociais e faço um smoothie de café da manhã (todas as frutas menos banana, sou alérgica). Acordo meu maridinho com um beijo e dou o café da manhã dos meus bebês. Meu instrutor de ioga chega às 11. Depois disso tomo banho, faço minha maquiagem, me arrumo para o dia, tiro algumas selfies e meu maridinho me traz um frappuccino de caramelo do Starbuck's. (Me sinto culpada, mas é uma delícia!) Aí encontro minha equipe para discutir projetos na hora do almoço na minha casa. Um almoço típico para mim é tofu com vegetais. Hum! Dependendo do dia, posso ter uma sessão de fotos ou reunião à tarde. No meio disso, acho um tempinho para satisfazer minhas tendências consumistas. No começo da noite, curto um jantar gostoso (ou seja, minha famosa lasanha vegetariana) com meu marido e os bebês. Depois do almoço, às vezes faço massagem com meu massagista – e o final perfeito para o dia é estourar pipoca, fazer algodão-doce, me encolher no sofá e assistir um dos meus filmes favoritos, tipo Killer Clowns from Outer Space.

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Você passa muito tempo vendendo sua vida para o público. Como uma estrela de reality show, se você anda pela rua e ninguém tira sua foto, você realmente andou pela rua?
Sim, mas disfarçada.

Considerando que sua vida é assunto público, qual é a diferença entre a pessoa que você é em particular e a pessoa que você é em público?
A eu pública está sempre maquiada e sempre "on". A eu particular às vezes não usa maquiagem e fica andando por aí de pijama. A eu pública faz a imagem "loira bombshell". A eu particular é muito despretensiosa. A eu pública é vulnerável, mas protegida. A eu particular é vulnerável e desprotegida.

Com certeza há elementos de humor envolvendo a personagem loira bombshell. Você disse num programa de TV: "Não leio nem escrevo". Quais as vantagens de interpretar a personagem loira burra?
Certamente [há benefícios], mas quando disse "Não leio nem escrevo", eu estava sendo jocosa, apontando para o fato de que todas as loiras devem ser burras. Isso foi tirado do contexto e as pessoas assumem que eu estava falando sério. Claro eu leio e escrevo – ou não estaria aqui respondendo suas perguntas, né? RS!

A loira burra é um dos clichês mais antigos de Hollywood. Você se apresenta como hiperconsciente do estereótipo. A percepção das pessoas de você como idiota é o maior mal-entendido sobre você?
Marilyn Monroe construiu uma carreira assim [se fazendo de burra]. Sou exatamente isso – uma loira burra. Eu sei que pareço isso, mas alguns diriam que sou burra como uma raposa.

Esse é um toque fofo. Você é claramente uma sonhadora. Qual o último sonho que você teve?
Na verdade, tive um sonho superdivertido e colorido noite passada. Eu estava no Rancho Neverland do Michael Jackson. Eu estava andando na roda-gigante e comendo algodão-doce, e do nada, o Michael apareceu, agarrando a virilha e cantando "You know I'm bad, I'm bad, you know it". Aí eu desci da roda-gigante até o Michael. Ele me deu sua luva de brilhantes e começamos a subir em árvores juntos – aí acordei me sentindo meio triste, sabendo que foi tudo um sonho e que o Michael não está mais aqui.

Sem dúvida foi um sonho feliz e triste ao mesmo tempo. Eu estava pensando nesse rancho outro dia e em como seu legado está conectado à fantasia e à tragédia. Como a sua imagem representa fantasia, e você é uma estrela de reality – sem mencionar que você tem uma música chamada "Reality" – o que a palavra realidade significa para você?
Para mim, realidade é o que eu quiser que isso seja. Acredito que criamos nossas próprias realidades baseadas em sonhos, imaginações e crenças. Sei que estou parecendo uma princesa Disney agora, mas é verdade. O que quero dizer é que todos temos o poder de definir nossas vidas do jeito que quisermos. Isso é a realidade para mim.

Veja mais realidade com Signe Pierce aqui.

Tradução: Marina Schnoor