A ocupação da SEEDUC no Rio de Janeiro

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A ocupação da SEEDUC no Rio de Janeiro

O objetivo era trazer o secretário de educação para a mesa: deu certo.

Foto: Maurício Fidalgo

A menos de 100 dias das Olimpíadas, o Estado do Rio já tem mais de 70 escolas ocupadas, uma greve de professores e férias forçadas, isso sem falar que tem deixado aposentados sem receber. Por isso, quando uma fonte me avisou: "vão ocupar a Secretária do Estado de Educação (SEEDUC)", tentei chegar o mais rápido possível.

Mas, no Rio de Janeiro, ou você tem uma moto ou qualquer deslocamento durante o dia leva duas horas. Quando cheguei à sede da SEEDUC a ocupação já havia sido noticiada na rádio e uma patrulha da Polícia Militar do Rio de Janeiro estava num dos acessos ao prédio, que tinha todos seus portões fechados. Quando alguns alunos foram liberados para entrar, imediatamente me juntei aos estudantes e consegui ter acesso ao prédio. Lá dentro, cerca de 50 jovens se espalhavam pelo térreo. Além deles, alguns funcionários ainda perambulavam pelo edifício, e os elevadores logo foram desligados para limitar o acesso dos manifestantes, deixando uma funcionária trancada.

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A ocupação foi planejada para acontecer da segunda-feira para terça-feira. O objetivo era trazer o secretário de educação para a mesa, reivindicando a eleição direta de diretores; livre organização de grêmios estudantis; acesso da comunidade e dos alunos aos laboratórios e uma integração maior entre aluno, coordenação e pais. A mudança de planos de última hora aconteceu numa reunião em um colégio ocupado próximo. O resultado eram alunos despreparados para uma ocupação longa, sem alimentos ou colchonetes — até mesmo os carregadores de celular eram contados. Uma agitada reunião da comissão geral da ocupação rolava no auditório, que ironicamente sustentava um aviso do lado de fora: "o auditório é restrito para uso agendado". Mais tarde, Caio Castro Lima, chefe do gabinete de Educação, chegou com sua comitiva. Apesar de um pequeno bate-boca, uma carta-compromisso foi redigida pelo comando Ocupa Tudo (uma frente unificada das ocupações no estado). Nela Caio assume o compromisso de negociar com os estudantes na próxima terça-feira, e em troca os estudantes deveriam liberar o prédio até às 19h30min.

Caio Castro Lima, chefe do gabinete de Educação. Foto: Maurício Fidalgo

Foram momentos de euforia. Gritando palavras de ordem, os alunos pularam com faixas e bandeiras, fizeram poses para fotos e compartilharam tudo o mais rápido possível. A ocupação tinha sido um sucesso. Ou não. Após aquele momento de alegria, todos os não estudantes secundaristas foram retirados do auditório. Uma reunião iria rolar. Até mesmo os professores que haviam chegado para apoiar o ato tiveram de esperar no estacionamento interno da SEEDUC. Lá dentro, os ânimos eram exaltados. Quando a porta se abria um barulho generalizado escapava pela fresta. Alunos saíam esbravejando e discutindo, alguns manifestantes queriam manter a ocupação, o termo de compromisso não era suficiente para eles.

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Quando o acesso foi liberado novamente, uma grande parte dos estudantes já havia liberado o edifício. Os que ainda queriam ocupar a SEEDUC discutiam se valia a pena continuar. Sobravam menos de 20 manifestantes e alguns professores. O pessoal lembrava que tinham escolas ocupadas para cuidar, e que não podiam ficar vazias. Do outro lado, pedindo a continuação do ato, alunos afirmavam que não haveria outra chance de ocupar a secretária para pressionar o estado. Mas esse pequeno grupo tinha um ponto em comum: queriam extinguir a influência de movimentos políticos nas ocupações. Acusações graves de falta de voz e não representatividade eram frequentes e apoiadas por todos os presentes contra a UNE, UBES, UJS, ANEL e quaisquer outros movimentos estudantis, que muitas vezes agem como um braço jovem de partidos políticos. Essa disputa interna não é nenhuma novidade em qualquer ato estudantil.

Enquanto isso, lá fora, no morro da Providência, um intenso tiroteio. Da garagem era possível ouvir as rajadas de fuzil, tão comuns nos conflitos armados do Rio de Janeiro. Em entrevista às redes de televisão, Caio Castro afirma que a situação está sob controle, lembra que não pode oferecer segurança aos alunos que ocupam o prédio devido ao tiroteio, e, que as aulas não voltam devido às ocupações. O chefe do gabinete de educação parece esquecer que ainda há uma greve de professores e que uma das pautas das ocupações é a volta dos inspetores e seguranças nas escolas, esse tipo de segurança ele tem o poder de conferir. No final da noite o prédio da Secretária do Estado de Educação foi liberado, os alunos voltaram para suas escolas, algumas a mais de 100 quilômetros de distância. A polícia continuou a operação no morro ao lado, resultando em sargento do BOPE morto, dois policias feridos e cinco civis mortos. Que venham as Olimpíadas.

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Foto: Maurício Fidalgo

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Foto: Maurício Fidalgo

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