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A Polícia de Porto Alegre Está Perseguindo os Movimentos Sociais

Oficiais levaram materiais de divulgação, livros, fotos e computadores de ativistas e de integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público.

Biblioteca do Centro de Cultura Libertária da Azenha, conhecido como Moinho Negro. Foto: Ali Savage

Hoje de manhã (1° de outubro), a Polícia Civil de Porto Alegre surpreendeu militantes e sedes de movimentos sociais. Portando mandados de busca e apreensão, oficiais levaram materiais de divulgação, livros, fotos e computadores de ativistas e de integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público. As investigações buscam conexão com possíveis atos de violência durante as manifestações deste ano na cidade, que foram grandes.

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Para as redes sociais dos movimentos que tiveram materiais apreendidos nesta manhã, o objetivo policial é bem claro: criminalizar a militância, acusando-a de formação de quadrilha. E não é a primeira vez que esse tipo de coisa acontece na cidade. Em junho, enquanto a onda de manifestações pelo país aumentava de maneira imensurável, a polícia arrombou a sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), apreendendo materiais de divulgação.

Por volta das 8h40 de hoje, um delegado e dois policiais arrombaram a porta do Centro de Cultura Libertária da Azenha, em Porto Alegre, mais conhecido como Moinho Negro. O espaço, que promove oficinas de dança de rua e yoga, serve como ponto de encontro de anarquistas aos sábados. Vincent Acrata, um dos integrantes do Moinho e morador do apartamento alocado ao espaço, disse que estava se preparando para ir ao trabalho quando a polícia chegou com o pé na porta. “Descemos e os policiais estavam revirando o espaço. Quando perguntamos o que estava acontecendo, eles disseram que era uma investigação e que tinham mandado. Reviraram tudo. Apreenderam alguns cartazes e panfletos anarquistas, ligaram o computador da biblioteca e começaram a mexer.” A polícia tentou levar fichas cadastrais com dados dos associados, mas depois da insistência dos moradores, acabou desistindo. Uma garrafa com solvente de tinta a óleo também foi levada.

Não só o Moinho foi perseguido. Lucas Maróstica, militante do Juntos e do PSOL, conta que estava no aeroporto de Confins, em Minas Gerais, quando recebeu uma ligação desesperada da diarista, dizendo que a polícia iria invadir seu apartamento e levar seu computador. “Uma clara perseguição política ideológica por parte de um governo que se propunha ser diferente dos anteriores”, disse pelo Facebook, referindo-se ao governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). O mesmo aconteceu com Matheus Gomes, coordenador-geral do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante da Anel. Num relato postado no Facebook, ele conta que a polícia levou textos marxistas, fragmentos de um caderno, e, inclusive, fotografou imagens de crianças na intifada palestina que ele tinha no quarto.

Procurada pela reportagem, a Polícia Civil disse não ter nenhuma informação concreta sobre as buscas que aconteceram hoje, mas afirmou que é o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, do DAE (Departamento de Assessoramento Especial), quem está à frente dos inquéritos referentes às manifestações. Liguei diversas vezes para seu celular, mas, até o momento da publicação, não fui atendida. Enquanto isso, outros relatos de batidas são publicados nas redes, ainda sem confirmação.

ATUALIZAÇÃO: Em coletiva de imprensa, o PSOL reiterou que o militante Lucas Maróstica não possui vínculo algum com as depredações acontecidas durante as manifestações em Porto Alegre. Também em coletiva, o delegado Marco Antônio, responsável pelas investigações, afirmou que os documentos apreendidos durante as buscas têm o objetivo único de auxiliar nas investigações dos atos de violência ocorridos nos protestos.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes