FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

A Polícia Militar Matou Dois Pixadores no Alto de um Prédio em São Paulo

Para parentes e amigos, morte de jovens foi execução.

b-47/Beside Colors

Do point de pixadores da Vergueiro aos colégios de Santo André, Alex Della Vecchia Costa, o ALD, era conhecido por todos. Famoso pela vontade de se arriscar e pixar os prédios mais altos de São Paulo com sua marca, Jets, Alex foi morto na semana passada dentro de um prédio na Mooca, em São Paulo, pela Polícia Militar. Os PMs dizem que Alex e mais um pixador, Ailton dos Santos, conhecido como Anormal, estavam armados no local. Familiares e amigos negam veementemente a acusação, dizendo que ambos foram alvos de uma operação desastrada ou de mais uma execução cometida Polícia Militar de São Paulo.

Publicidade

Alex, de 32 anos, era pai de quatro filhos e nunca escondeu de nenhum parente, amigo ou conhecido que pixava prédios, paredes e janelas da cidade. Fazia isso desde o fim do anos 90. Segundo amigos, ele chegou a levar as crianças em diversas festas de grifes de pichação. Seu “pixo” (Jets) era um dos grandes nome da grife Os Registrados, um dos clãs de pixação mais conhecidos de São Paulo.

“Ele me chamou para fazer esse rolê, pelo Whatsapp, dizendo para nos encontrarmos no centro, às 17h (no dia 31 de julho)”, conta Faby, pixadora que assina Gurias. “Mas eu disse que não tinha como ir naquele dia. Ele disse que, se eu fosse, a gente cairia para a Lapa ou a Barra Funda, mas não era um dia favorável”, lembra. Depois da troca de mensagens, os dois combinaram de pixar na segunda-feira da semana seguinte (4 de agosto). Segundo Faby, à meia-noite, Alex sumiu do grupo de Whatsapp em que eles se comunicavam. Na hora, ela não deu muita importância ao fato, mas no dia seguinte tudo ficou claro: Alex e Ailton estavam nos telejornais matinais, em manchetes que chamavam ambos de “assaltantes” que haviam invadido um prédio na Zona Leste.

Alex Dalla Vecchia no topo de um prédio. Crédito: Reprodução/Facebook

O que as primeiras matérias fizeram foi apenas replicar o que a Polícia Militar disse no local, repetindo até mesmo frases que estão no boletim de ocorrência do caso, redigido na 56ª DP e encaminhado para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). Os dois não invadiram o prédio: entraram com o consenso do porteiro, que os confundiu com moradores, e subiram até o último andar – Alex usou essa tática incontáveis vezes para entrar em prédios. De acordo com o boletim de ocorrência ao qual a VICE teve acesso, "a dupla usou o elevador para chegar ao 17° andar e subiu dois andares pelas escadas até chegar ao último andar". O zelador, que mora lá, viu a movimentação no 19° e acionou a síndica, que chamou a polícia. O que se segue, a partir daí, é o relato de apenas um lado da história – os policiais – já que quem estava do outro lado não sobreviveu para contar a história.

A polícia diz que, ao entrar num apartamento no 18º andar do prédio, os policiais encontraram “Alex na cozinha com um revólver calibre .38. Segundo os policiais, ao vê-los, o assaltante disparou, acertando o braço de um dos policiais”, diz o boletim de ocorrência. A polícia revidou. Ailton, de 33 anos, também estaria armado, segundo o registro da ocorrência, com uma pistola calibre 380, e teria revidado. A polícia disse que “a dupla não resistiu aos ferimentos”.

A partir dos primeiros relatos e do boletim de ocorrência, a revolta de amigos e familiares cresceu. Segundo relatos, os aparelhos celulares e pertences dos dois homens sumiram, e os corpos deram entrada no IML (Instituto Médico Legal) sem documento. “O que aconteceu foi um assassinato. Ele (Alex) nunca teve arma, nunca foi assaltante”, diz SK, pixador que conhecia Alex. De fato, todas as passagens na polícia de Alex envolviam “crime contra o meio ambiente”, forma de enquadrar pixadores na lei. Alex trabalhou como funcionário terceirizado em uma empresa especializada em mármore, a Flamar, até junho do ano passado. Um funcionário da empresa disse que Alex “nunca deu problema, e era uma pessoa nota 10”. “Ele morreu pixando, sem chance de se defender”, diz Faby.

O caso é investigado pela Polícia Civil e a conduta dos policiais, pela Corregedoria da Polícia Militar, e muitas perguntas precisam ser respondidas, principalmente sobre a posse de armas nas mãos dos dois mortos, e também sobre o paradeiro de seus pertences, que podem ajudar a desvendar o que realmente aconteceu no 18º andar do Edifício Windsor. Na próxima quinta-feira, pixadores de São Paulo pretendem fazer um protesto em seu tradicional ponto de encontro da Galeria Olido, no Centro.