A terceira edição da Smegma Comix pegou de zoeira os clássicos da literatura

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A terceira edição da Smegma Comix pegou de zoeira os clássicos da literatura

Com sua veia humorística totalmente anti-ética, o quadrinista Pablo Carranza chegou para mostrar que somos todos patéticos. E sabe de uma coisa? Perceber isso é realmente engraçado.

O Pablo Carranza está cada vez pior. Quanto mais ele avança na elaboração das histórias e personagens de sua Smegma Comix, menos ele tem piedade pela natureza humana. Todos os tipos sociais tornam­-se ridículos em suas HQs, até o próprio universo dos quadrinhos, que na edição #3 virou motivo de zombaria na historinha "Comic Book School's Out For Summer". Aqui, numa sociedade futurista não muito distante (o ano é 2020), quadrinho é algo levado tão à sério que ganhou aquela aura de coisa chata: literatura que se estabeleceu obrigatória para passar no vestibular. Rolam umas tiradas muito boas, como quando o protagonista do roteiro, o menino casca-­grossa Cyrus, custa a acreditar que um dia as pessoas tiveram o costume de ler gibi só porque era divertido. "Quadrinhos nunca foram legais, e nunca vão ser! Eu quero que todo mundo que gosta de quadrinhos tome no cu e caia morto!!", diz o carinha. É foda… Os clássicos literários, dessa vez, são algumas das vítimas mais atacadas pelo humor infame do autor. A revista abre introduzindo uma nova seção, nomeada "Poemas Ilustrados". Manuel Bandeira, ao escrever "Porquinho da Índia", certamente quis apelar às mais ternas emoções, igual quando o Vinícius de Moraes fez "Para Uma Menina com Uma Flor" e o Luís Fernando Veríssimo redigiu "Conto de Verão #2: Bandeira Branca". Vocês estão ligados nesse estilão, né!? Então, o Carranza se propôs a ilustrar o poema do Bandeira, e o que os rabiscos de sua imaginação de louco revelaram foi algo capaz de minar qualquer resquício de pureza contido no texto. Torço para que essa seção continue nas próximas. Taí um terreno fértil a ser bastante explorado. Em outra história, dividida em duas partes, mais um clássico das letras faz eco. Estou falando de uma das passagens mais espirituosas da revista: "Crackunaíma". Ficou muito perfeita a caricatura do fumador de crack tipicamente brasileiro, preguiçoso e destituído de ambições, que de repente se vê sem pedra e começa a ter umas alucinações cabulosas. Crackunaíma é um personagem com grande potencial de se tornar fixo na revista, como o caipira escrotão, estúpido e primitivo Rivalino. Rivas continua impagável, mais chucro do que nunca. O que o Pablo Carranza está fazendo com a Smegma é mais ou menos o que o pessoal da Chiclete com Banana fazia. A diferença é a matéria-prima. Saem de cena as figuras sociais tipicamente oitentistas, e entra o indivíduo pós-tudo da era digital. A Smegma segue nessa onda, concretizando o que muitos quadrinistas da nova geração tentam, mas poucos realmente conseguem: ser engraçado e indigesto ao mesmo tempo, aproximando-se da vertente marcattiana do humor sequencial. Somos tragicômicos por excelência, e o Carranza tá ligado nisso. Ele sabe que existe um Rivalino dentro de cada um de nós. Por isso, cuidado: pelo menos um fiapinho da parte zoada dos vários "eus" de cada estereótipo humano corre o risco de estar na próxima Smegma. Nessas páginas, eu já o vi tirando forte com o hipster e o amante de breja artesanal, com o caipira e o poeta, com o vegan ­orgânico e o crackeiro, e também o playbas crossfit. Tudo é passível de ser ridicularizado pelas HQs do Pablo Carranza. Até o Titio Avô. Aqui vai uma palhinha do que encontrar nesta edição:

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